Na aula seguinte, Chloe estava radiante. Eu não estava tão feliz assim. Ver Alice me olhando daquele jeito partiu meu coração. Eu não estava apaixonado por ela, nem por mais ninguém, mas não é legal você quebrar o coração de uma pessoa. Eu estava me sentindo um pouco culpado. Já Chloe, nunca a vi tão feliz. Ela parecia aliviada. Foram John e seus “capangas” que me tiraram do sério.
- Aí, Ned, eu não falei nada, mas que sem graça aquela garota.
- Fica quieto. Não quero ouvir a sua voz.
- Eu só estou dando minha opinião. Ela parecia meio periguete.
- CALA A BOCA, SENÃO...
- Senão, o que, seu marica?
- Senão eu vou arrebentar a sua cara, idiota.
- Essa eu quero ver.
- Você só pode ser muito tapado para pensar que eu vou te bater no meio do colégio.
- Você pode ser covarde, mas eu não sou!
Ele me deu um soco no olho e eu apaguei. Acordei meia hora depois na enfermaria. Chloe estava do meu lado.
- O que aconte... Aiii!
Senti minha cabeça latejar, tudo estava girando. Só consegui ver Chloe toda borrada.
- Ei, não levante. A enfermeira falou para você ficar deitado depois de acordar.
- Por que minha cabeça está doendo tanto?
- Você não se lembra? John te deu um soco no olho e você apagou.
- Ah, é. Me desculpa por isso.
- Por que você está se desculpando?
- Bom, não acho que apanhar faz parte do perfil de um garoto da elite.
- Ned, você não precisa se desculpar. Eu sei como você ficou chateado com o lance da Alice e sei como é insuportável ouvir o John falando dela.
- Eu me sinto meio culpado.
- Eu sei, mas você não tem que se sentir assim.
- Tá bom. O que houve depois do soco?
- Essa é a parte boa. O coordenador do ensino médio viu toda a cena e suspendeu o John por duas semanas.
- Ele provavelmente vai me matar quando voltar.
- Mas você terá duas semanas a salvo.
- Pelo menos ele não sabe onde eu moro.
- Então, sobre isso...
- Como ele sabe?
- Parece que um parente dele mora perto de você.
- Ele não seria capaz de cometer nenhum crime, né?
- Acho que não, mas ele pegou duas semanas de suspensão e isso vai acompanhá-lo até a faculdade.
- Meu Deus, estou frito e com uma insuportável dor na cabeça.
- Eu tenho uma ideia. Meus pais liberaram a casa que usamos nas férias. Que tal passarmos o feriado lá?
- Seus pais vão conosco?
- Não. Eles convidaram sua mãe para uma exposição de fotos no centro da cidade. Eles vão passar toda a semana juntos.
- Então, você já tinha falado com minha mãe antes de me fazer essa proposta?
- A Lucy me adora.
- Convencida. Mas eu topo de qualquer jeito.
- Vamos fazer suas malas.
Nós saímos da enfermaria e fomos até a minha casa. Lá, passamos a tarde arrumando a mala e fazendo palhaçadas um para o outro. Colocamos bastante roupas de frio. Acho que só colocamos isso. Saímos na manhã seguinte.
- Seus pais parecem ser bem liberais. Eles deixaram a filha viajar sozinha com um garoto que nem é seu namorado.
- É, olhando por esse lado são sim, mas eles realmente adoraram a sua mãe. Ela disse que você é tranquilo e que nós dois não faríamos nenhuma besteira.
- Por esse lado...
Passamos a viagem toda conversando. Mas depois de uma hora dirigindo, Chloe sugeriu uma parada pois ela estava cansada. Paramos em um café de beira de estrada.
- Olha, se você quiser, eu posso dirigir até o nosso destino.
- Você não dirige.
- Eu tenho carteira de motorista, só não tenho o carro.
- Por quê?
- Minha mãe é transferida a todo momento. E geralmente é para um lugar bem longe. Se eu tivesse comprado um carro em Hartford, quando tirei a carteira, não conseguiria trazer para cá. Teria que vendê-lo.
- Ok, eu aceito a sua proposta.
- Legal, mas você vai ter que me mostrar o caminho. Eu não sei andar por aqui.
- Serei seu copiloto.
Seguimos viagem e depois de duas horas e meia de estrada, chegamos ao nosso destino. Era um verdadeiro casarão. O quintal imenso na frente da casa continha diversas flores e árvores. A casa tinha piscina, churrasqueira e cinco quartos. Mas estava um frio desgraçado. Estacionamos e descarregamos o carro. Como já era tarde, jantamos ali mesmo, porém faltou luz.
- Onde você guarda as velas?
- Naquela gaveta ali na cozinha.
Fui até a cozinha me guiando pelos móveis.
- Ai!
- O que foi, Ned?
- A gaveta estava aberta.
- Te machucou onde eu estou pensando?
- Não, mas foi quase. Machuquei minhas costelas.
- Aproveita que você está aí na cozinha e pega um gelo.
- Ai!
- O que foi esse barulho?
- Eu bati no banco da mesa.
- Te machucou naquele lugar?
- Em cheio.
- Por que você não acendeu a vela?
- Só quando eu achei a vela eu lembrei que o fósforo está aí na sala.
- Quando eu te digo que você é enrolado...
Consegui pegar o gelo e jantamos à luz de velas. A comida já estava pronta pois tínhamos acabado de receber do restaurante.
- Isso é bem romântico. – disse Chloe.
- É. Em qual encontro eu poderia levar uma menina para cá?
- Humm... acho que poderia ser no segundo ou terceiro. Depende dos seus sentimentos pela garota.
- Você quer dizer que se eu gostar de verdade da menina, no segundo encontro eu posso ser mais romântico?
- É, acho que sim.
Ficamos em silêncio por um tempo. Ninguém sabia o que falar, então olhávamos um para o outro e ríamos da cena. Ao final do jantar, fomos passear pelo imenso quintal à nossa frente.
- Esse lugar é muito bonito. E você fica muito bonita à luz do luar.
- Obrigado. Você também está muito bonito.
- Bonitinho?
- Não. Você está muito bonito.
Nós caminhamos até uma árvore gigantesca e na frente dela tinha um banco. Nós nos sentamos.
- Você está com frio?
- Um pouquinho.
- Peraí...
Tirei meu casaco e o coloquei nela.
- Eu não quero que você passe frio.
- Não tem problema.
- Já sei. Vista seu casaco e eu te abraço.
- Tá.
- Como amigos fazem.
Eu vesti meu casaco e ela me abraçou, colocando a cabeça no meu peito. Seu cabelo estava tocando o meu queixo.
- Eu não sei se já te disse isso, mas eu devo tudo a você.
- Como assim?
- Eu não era nada até você aparecer.
- Ned, você não era...
- Me deixa continuar. Mesmo você dizendo que não, eu era um zero à esquerda sim. E continuo sendo, só que disfarçado de descolado. E eu não ligo para isso. Eu sou o seu zero à esquerda, o seu sem graça. Para mim, isso vale mais do que mil amigos.
- O que você quer dizer com isso?
- Eu nunca tive uma amiga como você, Chloe. Você me transformou na pessoa que eu sempre quis ser. Eu nunca quis ser popular, eu sempre quis ser importante para alguém e eu sei que sou isso para você.
- É verdade.
- Eu nunca vou conseguir pagar essa dívida com você. Eu faço o que você quiser, ok? A qualquer momento. Você pode me ligar às duas da manhã querendo pizza que eu vou levar para você.
- Para falar a verdade eu nunca tive um “amigo” como você. Você sempre me diverte, procura me ajudar... você me faz feliz. Eu que fico te devendo no final das contas.
- Quem disse que você não me faz feliz?
- Eu sou a garota certa?
- O quê? Você falou com a Alice.
- Nós estávamos conversando e ela me contou o que você disse. Me desculpa, eu não sabia que você ficaria chateado.
- Eu não me incomodo. Mas o que eu disse a Alice era a mais pura verdade. Eu não sinto nada por ela, mas eu também não estou certo sobre meus sentimentos.
- Eu também não. Eu nunca conheci ninguém como você, Ned. Todos os garotos da escola são grossos e arrogantes. Eu nem sei como sou popular. Você me conhece, eu pareço muito mais com você do que com aquele bando de idiotas.
- Eu sei porque você é popular.
- Porque me consideram bonita?
- Não só por isso.
- Por que então?
- Porque você é inesquecível.
Ela me olhou por alguns segundos e me beijou. Nós ficamos ali, abraçados e nos beijando. Ela não interrompeu e nem eu. Acho que só paramos porque perdemos o fôlego. Após o beijo, como de costume, não falamos nada, só ficamos olhando um para o outro. Eu e ela nos olhamos olho no olho, como se quiséssemos descobrir o que o outro estava sentindo. Eu estava maravilhado. Era uma combinação de sentimentos bons, sabe? Eu estava feliz, realizado, confortável, apaixonado por aquela menina de olhos azuis.
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