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Capítulo 1
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ALMA DE LOBO
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(Dias atuais...)
Kate
Estava nevando, as janelas do meu quarto estavam tão embaçadas que quase não dava para ver nada através dela. Eu estava sentada na beirada da minha cama, enrolada em uma coberta fina, cor de rosa, enquanto mexia no meu celular. Eu tinha um Iphone 5c rosa, meio arranhado, mas que dava pro gasto. Olhei minhas redes sociais, e depois editei umas fotos. Escolhi 3 editei 2 e não gostei de nenhuma. Apesar das pessoas falarem o contrário, eu sempre me achei feia, e sempre tive problemas de auto estima. Tudo por conta de uma menina que estudava comigo, chamada Erica Campbell. A menina era realmente bonita, e todos os garotos viviam falando dela. Amava uma intriga, e ser o centro das atenções era o hobbie dela. Ela era loira, magra e tinha olhos claros.
Era ousada e tinha amizade com todos os garotos populares da escola. Isso me dava nervos, já que eu nunca teria a auto estima dela, e nem a facilidade de me socializar com meninos. Mesmo sabendo que não ela mudaria em nada na minha vida, não aceitava o fato de uma garota tão rude e mau educada ser tão venerada. Eu não a odiava, mas tinha um certo rancor. Teve uma época em que nós gostávamos do mesmo garoto. Quando descobrimos, entramos em guerra, e desde então não falei muito com ela, apesar de não gostar mais do garoto. Ela disputava comigo em quase tudo, nos esportes, nos trabalhos, nas provas, até com a atenção dos meninos. Ela era amiga de uma menina chamada Olivia Lewis. Olivia era a garota mais bonita da nossa sala, e vivia grudada com a Erica. Olivia era morena, magra, alta e tinha olhos pretos. Era totalmente avoada, vivia no mundo da lua, pensando em garotos e na sua futura familia de 2 filhos e 1 cachorro.
Lucy, era uma das minhas melhores amigas. Ela era alta, loira, um pouquinho gordinha e tinha pele lisa e branca. Seus olhos eram claros.
Lucy Stevens tinha um gênio forte e vivia falando palavrão. Era grossa mas tinha um coração bom. Ficou mau humorada depois que um garoto que ela gostava muito a magoou.
Minha outra amiga se chamava Sarah Miller, ela era baixa, morena, tinha olhos castanhos e sardinhas. Era muito fofa, apesar de não gostar de ser chamada de fofa. Ela era meio bipolar, uma hora estava feliz, outra triste, e assim por diante. Eu a chamava de Aria, por se parecer com a personagem de Pretty Little Liars.
Eu achava todas as minhas amigas lindas, e me sentia deslocada no meio delas. Por que eu era diferente? Por que os garotos não me achavam bonita? Eles quase nunca falavam comigo. Isso fazia eu me sentir mais feia ainda. Eu era cheinha, morena, alta, tinha olhos claros e cabelos longos e ondulados.
Eu não era um exemplo de garota extrovertida, mas tinha meus pontos fortes. Eu sabia desenhar, cantar e dançar. Pelo menos algo de bom eu tinha que ter, não é?
Olhei as horas no meu celular. Eram 6:30. Hora de me levantar. Me desenrolei da coberta e calcei as minhas pantufas de porquinho rosa. Deixei meu celular em cima do criado mudo de madeira que ficava ao lado da minha cama e me levantei devagar.
Meu quarto havia mudado muito desde meus 8 anos de idade. As paredes rosas ficaram roxas, as roupas de cama de cama cor de rosa com estampas de princesa agora são brancas com estampas florais. Os tapetes brancos felpudos viraram tapetes finos roxos, e os móveis brancos agora são de madeira.
Olhei pela janela mais uma vez. Tinha parado de nevar, e estava tudo calmo lá fora. Tinham poucas pessoas na rua, o sol ja brilhava no céu, e o caminhão que limpava a neve das estradas já havia passado. Minha vizinha, Amy Grace, estava jogando sal grosso na sua calçada para evitar mais um acidente igual o do inverno passado.
Ninguém na casa tinha acordado, a não ser meu pai, que tinha passado a noite fora fazendo sei lá o que. Ja fazia 2 anos que as contas apertaram, e meu pai começou a beber desenfreadamente, o que causou brigas entre ele e a minha mãe. Os dois quase não se falavam. Meu pai passou a dormir no sofá, e minha mãe no quarto.
Estava muito frio, então resolvi tomar um banho quente. Saí do meu quarto sem fazer barulho e fui para o banheiro. Entrei, tranquei a porta e acendi a luz.
Liguei a água do chuveiro no médio e me despi. O frio já estava começando a me incomodar, e então entrei rapidamente no box. A água quente fazia uma massagem relaxante na minha pele, que aos poucos mandava o frio embora. Depois de me lavar, desliguei a água e me enrolei na toalha branca que estava pendurada em um cabide ao lado do box. Peguei as minhas roupas sujas e coloquei dentro do cesto que ficava do lado da pia, e fui para o meu quarto.
Vesti uma calça jeans azul, uma blusa branca da Adidas e botei um casaco preto por cima. Calcei meu tênis e desci para tomar o café da manhã na cozinha.
-Bom dia filha!-Disse a minha mãe encostada na bancada da cozinha.
Minha mãe tinha mudado muito de uns tempos para cá, ela emagreceu e mudou o corte de cabelo, mas seu loiro brilhante e o verde dos seus olhos permaneceu, assim como meu pai, uma das coisas que não mudaram nele foi o verde dos seus olhos.
-Oi mãe, pensei que você ainda estivesse dormindo.
-Acordei com o barulho do chuveiro.
-Hm.
-Vai querer comer o que?
-Acho que só um sanduíche de queijo e um café com leite.
-Certo, pode deixar que eu preparo o café.
Minha mãe ligou a cafeteira e botou um pouco de leite em uma caneca rosa.
-Você viu o seu pai hoje?
-Não, acho que ele dormiu fora.
Minha mãe desligou a cafeteira e colocou o café na caneca.
-Hm, ele deve ter apagado em algum bar por aí.
Concordei com a cabeça enquanto abria a geladeira para pegar o pão e o queijo.
-O governo parou de nos pagar para usar o nosso terreno como parque...-Disse a minha mãe enquanto misturava delicadamente o café com uma colher.
-Eu sei, mas vocês dois trabalham, é só cortar alguns gastos e tudo volta ao normal!
-Não é bem assim...É complicado.
-Tá, então eu volto a trabalhar no StarBucks.
-Não filha, não precisa!
-Precisa sim, vou pedir para a Anne me arranjar um turno de meio período.
-Ta, mas lembre-se, você não precisa fazer isso, nós vamos achar uma solução.-Disse a minha mãe enquanto me entregava o café.
-Eu quero fazer isso, eu vou fazer 15 anos, não sou mais uma criança, já posso ajudar com as contas.
Tomei meu café da manhã e deixei a louça na pia. Minha mãe me deu um beijo na testa e foi para o quarto dela.
Escovei os meus dentes no banheiro e fui para o meu quarto me maquiar. Passei um pó, um batom, um rímel e penteei o meu cabelo. Peguei a minha mochila turquesa, meu celular e fui para a sacada da minha casa esperar por Lucy e sua mãe, que me dariam uma carona para a escola.
De longe eu já conseguia ouvir o barulho do Ford Fiesta vermelho da mãe de Lucy.
-Hey bitch!-Disse Lucy com a cabeça do lado de fora da janela do carro.
- Hey salope!-Significava ei vadia em francês.
-Você e essas suas palavras em francês...
-Hahahaha!
Abri a porta esquerda traseira do carro e entrei. A mochila vermelha de Lucy estava no banco de trás ao meu lado.
Lucy estava usando uma blusa de moletom preto com um desenho do Mickey na frente, uma calça jeans e um tênis preto.
-Olá Mrs. Stevens!
-Oi lindinha, você está ainda mais linda hoje!
-Mãe!-Lucy repreendeu sua mãe.
-Hahaha, obrigada Lauren!
-Adivinha quem vai ir de carona hoje com a gente?!-Disse Lucy
-A rainha da Inglaterra?-Ironizei
-Nop.
-O Justin Bieber?
-Errado de novo.
-Minha mãe?
-Para de viadagem Kate! A Sarah vai ir com a gente!-Disse Lucy irritada.
-Hahahaha, eu já sabia, eu só queria te irritar.
-Como você sabia?
-Sei lá, tava meio óbvio.
-hahaha.
A mãe de Lucy parou o carro em frente a casa de Sarah, que já estava esperando sentada na escada da sacada. Sarah estava usando um macacão azul com uma blusa branca por baixo, e uma bota marrom peluda. Sua mochila era preta e tinha uns macacos roxos da Kipling pendurados nas laterais.
Ela se levantou e andou em direção ao carro. Lucy abriu a janela dela e acenou para Sarah, que retribuiu o gesto.
-Oi gente! Oi Mrs. Stevens!
-Oi Sarah!-Disse a mãe da Lucy.
-Hey salope!-Falei
-Hey bitch!-Falou Lucy
-Hey bitches!-Disse Sarah
Nós nos chamávamos de "bitches" por causa da série Supernatural, em que a personagem Charlie, chamava os protagonistas da série de "bitches".
-Entra aí atrás Sarah. Lucy meu amor, tire a sua mochila do banco para a Sarah sentar.-Disse a mãe de Lucy.
-Pode deixar que eu seguro!-Falei.
-Não Kate, me dá logo essa merda de mochila!-Disse Lucy.
-Nossa gente.-Falou Sarah.
-Lucy, olha a boca!
-Tudo bem Lauren, já estamos acostumadas com o palavreado de Lucy.-Falei.
-É mãe.
-Eu não.-Disse Sarah enquanto entrava no carro.
-Nem eu! Lucy, pode parar de falar essas coisas na minha presença!-Disse a mãe de Lucy.
-Hahaha.
-Ta rindo de que Kate? Sua vaca.-Falou Lucy.
O silêncio tomou conta e eu, Lucy e Sarah ficamos usando os nossos celulares durante a viagem. Eu peguei meus fones de ouvido para escutar música e Sarah me pediu para escutar também.
-Aumenta o volume, está muito baixo!-Disse Sarah.
-O que?! Tá muito alto!-Falei.
-Tá no 2.
-Não é possível.
-Mas ta no 2.
Eu não entendia como o volume poderia estar no 2 se para mim parecia estar no 4.
-Vou aumentar.-Disse Sarah.
-Tá.-Falei.
O volume estava no 5, mas pra mim estava no 10. Meus tímpanos pareciam que iam explodir. Como ela conseguia aguentar?
-Chegamos!-Disse a mãe de Lucy.
Todas pegamos nossas mochilas e saímos do carro. Lauren mandou um beijo para Lucy, que ficou morrendo de vergonha e raiva.
A escola estava bem movimentada, tinham alunos passando por todos os lados, alguns andando de skate, outros com headphones, e vários grupos estavam espalhados pelo pátio.
Era meu primeiro dia de aula no oitavo ano, e o primeiro dia das minhas amigas também.
Como sempre, Erica estava com a sua amiguinha, Olivia, sentadas em cima de uma mesa no pátio, conversando com os meninos do time de Lacrosse da nossa escola. Erica passou o olho por mim e fechou a cara por poucos segundos, mas depois voltou a rir e a conversar com a amiga.
-Aquelas putas ainda não saíram da escola? Que putas.-Disse Lucy.
-Para de chamar todo mundo de puta, Lucy.-Disse Sarah.
-Não saíram e nem vão sair tão cedo.-Falei.
-Vá a merda as duas.
-Lucy!-Disse Sarah repreendendo Lucy.
-Concordo com a Lucy.
-Isso aí Kate.
Havia gente por todo o lado, o que já estava começando a me incomodar. Entramos na escola e fomos em direção aos nossos armários.
A escola ainda era a mesma, armários e portas azuis e paredes beges. A única coisa de diferente eram os alunos novos, fora isso, tudo permanecia igual.
Estávamos passando pelo corredor quando um grupo de uns 3 meninos passaram. Todos deram passagem para eles. Eu nunca tinha visto eles antes, talvez fossem garotos novos. Eram grandes, fortes e altos. Pareciam ter aproximadamente 1,70 de altura. Deveriam ser do nono ano.
Eles andavam devagar, mas firmemente, com postura e um olhar penetrante. Estavam vestindo blusas de tons pouco chamativos, calças jeans rasgadas, e todos estavam usando tênis da marca Converse.
O de blusa branca era moreno, tinha cabelos longos, cacheados e castanhos, e olhos de um tom de cinza misturado com verde. O de blusa azul escuro era loiro, tinha cabelo curto e olhos azul claros. E o de blusa preta, era moreno, tinha cabelo curto e castanho, e seus olhos eram mel, misturado com laranja. Eu não sabia que cor era aquela, eu só sabia que eram olhos realmente lindos. As meninas ficavam de boca aberta, e mal conseguiam piscar com o brilho deles.
Eu até achei eles bonitos, mas não achei lá essas coisas.
Eles nem sequer olhavam para as meninas que estavam no corredor, e andavam como se soubessem que ninguém se atreveria a entrar em seu caminho.
Eles estavam vindo em nossa direção. Minhas amigas deram passagem, mas eu não. Eu não ia deixar eles mandarem em mim. Quem eles pensavam que eram?!
Eles estavam a 5 passos de mim. Comecei a me desesperar. Meu coração bateu mais forte. Eu sentia que eles não parariam e passariam por cima de mim.
Estavam a 3 passos, e não tinham desacelerado o ritmo. Lucy e Sarah faziam sinais para que eu saísse da frente, mas eu permaneci lá. Eu não ia sair. Se eles quisessem passar, eles teriam de pedir licença ou então teriam que passar por cima de mim. Aquela escola não era deles. Já bastava a Erica se achando a rainha do mundo.
Quando ficamos cara a cara, os meninos pararam e se entreolharam.
Não disseram nada. E então o de camisa preta que estava no meio olhou fixamente nos meus olhos. Eu senti um frio na barriga enorme que eu não conseguia explicar. O medo percorreu a minha espinha, e eu fiquei sem reação.
-Você não vai nos deixar passar?-Disse o menino de camisa azul escuro.
-Saia da frente!-Disse o de camisa branca.
-Não, não vou, não obedeço gente mau educada.
-Perdão, meus irmãos são rudes assim mesmo.-Disse o de camisa preta.
-Hm, deu pra perceber.-Falei
-Você poderia nos dar licença?-Falou o garoto de camisa preta.
-Sim, mas antes você poderia me explicar o porquê ocupar um corredor inteiro?-Falei.
Os 3 garotos sorriram de lado e eu dei passagem para eles.
Todos as pessoas que estavam no corredor estavam olhando para mim. Nem eu acreditava no que eu tinha feito.
Eu fiquei admirada com a atitude do menino de camisa preta. Ele era...diferente.
Depois que os meninos passaram todos voltaram a fazer os seus afazeres. Minhas amigas não paravam de falar sobre o que tinha acontecido.
-Como você é maluca, menina!-Disse Lucy.
-Imagina se eles não tivessem parado? Ia ser tão vergonhoso!-Disse Sarah.
-Eu não ia deixar eles mandarem na gente.
E eu duvido muito que eles passariam por cima de mim.
-Seria épico hahaha.
-Lucy!-Disse Sarah repreendendo Lucy.
-Hahaha, sua boba.
Abri o meu armário e botei os livros de algumas matérias dentro dele.
Lucy e Sarah fizeram o mesmo.
-Esse ano vai ser longo.-Disse Sarah enquanto fechava seu armário.
-Com certeza.-Concordei.
O sinal tocou e fomos para a aula.
Me sentei na penultima cadeira da fila do meio, e minhas amigas se sentaram nas fileiras ao meu lado. Erica e Olivia ficaram nas primeiras duas cadeiras do meio, como sempre.
-Bom dia alunos!-Disse Mrs.Collins, nossa professora de literatura.
Rosie Collins, era a professora mais legal da nossa escola. Ela deveria ter por volta de 35 anos.Tinha cabelos loiros, um corpão, usava decote e salto alto. Seus olhos eram azul marinhos.
-Bom dia, Mrs.Collins.-Disseram todos os alunos em um coro.
-Bom classe, nesse ano letivo vamos ler livros como...
Mrs.Collins foi interrompida pelo diretor, que abriu a porta sem bater antes.
-Com licença, Mrs.Collins, desculpe interromper a senhora.
-Ah, está tudo bem.
-Posso falar com seus alunos por um instante?
-Claro.
O diretor Aaron Peterson, um homem de estatura mediana, com cabelos grisalhos e olhos verdes, andou até o centro da sala e se virou para a turma.
-Então pessoal, esse ano nós teremos sangue novo na escola!Todos os alunos se
entreolharam.
-Podem entrar!
Primeiro entrou uma menina, usava óculos, era ruiva, baixa e usava aparelho dentário.
-Essa é Phoebe Sanchez.
Todos se entreolharam novamente. Phoebe se sentou na última cadeira ao lado da janela.
-O que vocês acharam dela?-Sussurrou Lucy.
-Sei lá.-Eu e Sarah respondemos em coro.
O diretor chamou mais uma pessoa.
-Podem entrar.
3 garotos entraram de uma vez só.
-Eles são do oitavo ano?!-Sussurrei com Lucy e Sarah.
-Não parece.-Respondeu Lucy.
-Devem ter repetido.-Sussurrou Sarah.
Os meninos se posicionaram na frente da turma, que fez um minuto de silêncio. Estavam todos paralisados.
-Esses são os irmãos Blake. Eles se chamam Ryan, Connor e Jason.
Os três irmãos olharam todas as pessoas presentes na sala, como se estivessem avaliando cada um. Ryan, encarou Erica durante alguns segundos. Connor, ficou olhando para o decote da professora, e Jason olhou para todas as cadeiras vagas, e depois me fitou durante alguns segundos. Aqueles olhos...
-Podem se sentar.-Disse a professora.
O diretor saiu de sala e os meninos se entreolharam novamente. Erica expulsou Olivia para a cadeira ao lado, e chamou Ryan para sentar atrás dela. Connor se sentou na primeira cadeira da fileira que ficava do lado da janela, e "coincidentemente" ficou em frente a mesa da professora. Só restava uma cadeira vaga. E essa cadeira ficava atrás de mim. Jason andou até a cadeira, deixou sua mochila preta no chão e se sentou meio desengonçado.
Eu queria puxar assunto, mas meu coração estava batendo tão rápido que se eu abrisse a boca ele pularia para fora. Preferi ficar quieta.
As pessoas não sabiam se ficavam com medo ou se assistiam a aula.
-Bom galera, agora abram seus livros na página 12 e façam uma leitura silenciosa até a página 25. Depois quem for terminando eu quero um texto de 15 linhas sobre o que aconteceu nesse capítulo do livro.-Disse a professora.
Peguei o meu livro e comecei a ler. Os dois irmãos Blake estavam fazendo o mesmo, mas Jason não. Tomei coragem e me virei para perguntar o que estava acontecendo.
-Você não vai ler?-Sussurrei para Jason.
-Você está falando comigo?
-Obvio né!
A professora me olhou com desaprovação.
-Os namorados podem conversar lá fora, se quiserem!-Disse a professora.
Todos riram, e eu fiquei vermelha de vergonha.
Jason fingiu que não tinha escutado aquilo.
-Eu não trouxe o livro.-Disse Jason.
-Quer acompanhar comigo?-Falei.
Jason me olhou de cima a baixo e franziu a testa. Me senti muito mau. Ele deveria estar pensando que eu não era boa o bastante. Esses irmãos são os caras mais rudes que eu já conheci. Quem eles pensavam que eram?
-Ah, já entendi...-Falei desanimada.
-Entendeu o que?-Ele disse
-Como assim o que? É obvio que você não quer acompanhar comigo.-Falei.
-O que? Não!
-Hm, então o que deu em você?
-Nada.
-Vai querer ler ou não?
-Vou...
Me virei de lado e apoiei o livro em cima das costas da cadeira. Jason nem sequer olhou para mim. Nunca vi alguém se concentrar tanto.
🔔O sinal tocou no meio da leitura.
-Bom pessoal, eu quero esse texto para a semana que vem ok? Leiam até a pagina 50! Semana que vem faremos outro texto na aula sobre os capítulos 1,2,3 e 4.-Disse a professora.
Todos os alunos concordaram com a cabeça enquanto saíam da sala. Jason e seus irmãos sumiram de vista, e eu e minhas amigas fomos para os nossos armários pegar os livros das próximas aulas do dia.
-Namoradinho novo é?-Debochou Lucy enquanto pegava o seu livro de matemática no armário.
-hahahahahaha.-Sarah riu.
-Parem vocês duas, eu nunca namoraria alguém rude e idiota como ele. Aqueles garotos se acham.
-Nossa, sabe que eu não percebi isso?-Lucy ironizou.
-Eu acho que vocês combinam.-Disse Sarah.
-Nada haver. Eu não sou do "nível" dele. Eles são do tipo que pisam nas meninas. As únicas que tem chances com os irmãos Blake são a Erica e a Olivia.
-Eu vi a Erica dando mole pro Ryan.-Disse Lucy.
-Oferecida...-Falou Sarah enquanto revirava os olhos.
-Gente, por que a Olivia e a Erica estão vindo na nossa direção?-Falei assustada.
Eica e Olivia andavam rapidamente na nossa direção. Engoli seco.
-Hello losers!-Disse Erica.
-O que você quer aqui, sua vadia?-Falou Lucy.
-Kate, queridinha, você pode segurar o seu porco de estimação aqui? Ele parece estar irritado.-Disse Erica.
-Não chame as minhas amigas de porcas!-Falei.
-Eu as chamo do que eu quiser.-Disse Erica.
-Meu ouvido não é privada para ouvir você falando merda, Erica.-Falou Lucy.
-É!-Concordou Sarah.
-Fica quieta ai, projeto de ornitorrinco!-Disse Erica.
-Ei! Ornitorrinco é a sua amiguinha aí!-Falou Lucy.
-Erica!-Gritou Olivia.
-O que você quer aqui Erica?-Falei.
-Eu quero que você fique longe do Jason.-Disse Erica.
-Mas você não estava afim do Ryan?-Falou Lucy.
-Não é pra mim, é para a Olivia.-Disse Erica.
-É.-Olivia concordou.
-E por que eu faria isso?-Falei.
-Porque se não eu acabo com a sua reputação.-Disse Erica.
-Ei! Quem você acha que é para ameaçar a minha amiga!?-Gritou Lucy.
-Está tudo bem Lucy, eu nem gosto dele mesmo.-Falei.
-É bom você ficar longe dele mesmo.-Disse Olivia.
-Ih ala, a menina fala.-Lucy ironizou.
-Vamos embora Olivia.-Falou Erica.
-Tá.-Disse Olivia.
-Já vai tarde!-Gritou Lucy.
Erica jogou o cabelo no rosto de Lucy, que deu dedo do meio para ela.
-Lucy!-Repreendi.
-Que foi? Ela merece bem mais que um dedo do meio.-Disse Lucy.
Nós tivemos mais 5 aulas no dia, e no final do dia eu fui no StarBucks falar com Anne, para me readmitir no emprego de meio período.
Peguei um ônibus e liguei para minha mãe para falar que ia me atrasar para o jantar.
-Mãe?
-Oi filha!
-Estou indo no StarBucks agora.
-Você não precisa fazer isso.
-Mas eu quero, mãe.
-Tudo bem.
-Acho que vou me atrasar para o jantar.
-Filha, vou ter que sair, tenho que buscar seu pai na cadei... em um lugar. Vou deixar um dinheiro em cima da bancada da cozinha e você pode pedir uma pizza. Okay?
-Papai foi preso de novo?
-Erh, eu tenho que desligar agora meu amor, beijos.
-Mãe?!
Minha mãe desligou na minha cara. Meu pai deveria ter sido pego bêbado na rua mais uma vez. Aqui em Banff as pessoas são presas se forem pegas alcolizadas na rua.
Desci do ônibus no ponto que ficava em frente ao StarBucks.
Estava muito frio lá fora, e então coloquei uma luva que eu tinha deixado dentro da minha mochila. Estava começando a nevar e o ar frio estava congelando o meu nariz. Entrei na cafeteria o mais rápido que pude. A temperatura dentro da loja estava bem melhor. O ar quente misturado com o cheiro da canela e do café era muito bom. Atrás da vitrine de donuts de todos os sabores eu já conseguia ver o contorno do corpo de Anne Fletcher, uma mulher de 26 anos, morena, baixinha e com olhos azuis, que era também a gerente do único StarBucks de Banff.
Me dirigi até o balcão para falar com ela.
-Anne?!
-Catherine! Minha lindinha! Quanto tempo meu amor!
-Arh, pois é...
-O que você está fazendo aqui?
-Eu vim te pedir um favor.
-Diga.
-As contas lá em casa apertaram, e eu queria arranjar uma graninha para ajudar meus pais.
-Oh meu amor, por que você não falou antes?! É claro que eu deixo você trabalhar aqui!
-Eu não vou poder ficar muito tempo no trabalho, porque os estudos esse ano estão mais pesados.
-Certo, então você vai ter um turno de meio período, ok?
-Ok.
-Seu turno vai ser das 6h ás 8h, só duas horinhas de trabalho, e 15 dólares por hora. 30 por dia.
-Está mais que ótimo.
-Aumentei um pouco o seu pagamento pois sei o que sua familia está passando. Minha prima também tem um terreno que está dentro do parque, e agora o governo parou de paga-la para poder usá-lo, e sem a grana extra que ela recebia, as contas apertaram para ela também.
-Muito obrigada Anne! Quando eu começo?
-Amanhã.
-Tudo bem, vou chegar aqui amanhã por volta de 10 para as 6h.
-Certo, até amanhã florzinha!
-Ok! Até amanhã!
Dei tchau para Anne e fui para o ponto esperar o próximo ônibus.
Tinha parado de nevar, e o tempo estava um pouco mais quente. A primavera estava chegando, e então o clima ia mudar muito até lá.
O ônibus estava demorando a chegar, e então peguei meus fones para ouvir música.
Fiquei olhando as pessoas passarem do outro lado da rua, uma dona com seu poodle, um cara correndo, e muitas outras pessoas fazendo sei lá o que. Quando me deparei com um garoto grande e musculoso saindo de uma livraria que ficava em frente ao StarBucks. Não podia ser...Jason?! O que ele fazia em uma livraria?
Tirei um dos fones e continuei olhando para ele. Ele estava com um pacote na mão. Seria um livro talvez? Torci para que ele não me visse, mas não adiantou. Ele se virou e quando me viu me fitou durante alguns segundos. Depois disso entrou em uma picape 4x4 preta, deixou o pacote e saiu. O que ele estava fazendo? Ele estava indo na minha direção! Arrumei meu cabelo e minha postura, respirei fundo e esperei ele atravessar a rua para que eu pudesse me levantar e falar com ele.
-Oi.-Ele disse com uma voz rouca.
-Oi.-Respondi.
-O que você faz aqui?
-Eu que pergunto, o que um cara como você faz em uma livraria?
-Arh, eu fui comprar um livro.
-Hm, e eu sou a Angelina Jolie.
-Estou falando sério. Eu fui comprar o livro que a professora de literatura passou. Aquele que eu não tinha.
-Ata, que bom, eu não ia aguentar ter que acompanhar com você até o final do primeiro semestre.
-Nossa.
-Estou brincando.
-Ata...Por que você está aqui?
-Eu trabalho ali no StarBucks.
-Qual é o seu turno?
-Por que você quer saber?
-Agora eu trabalho na livraria.
-Sério?
-Érh, parece que sim. Eles tinham um papel de "procura-se atendentes" na porta, e como eu queria uma grana extra, aceitei o emprego.
Ótimo, nos veríamos todos os dias depois da escola. Eu não sabia se eu ficava feliz ou triste.
-Quem bom.-Falei dando um sorrisinho de lado.
-Meu turno é das 6h às 8h, e o seu?-Ele disse.
-Que coincidência, o meu também!-Falei
Por que ele estava sendo legal comigo? Pensei que ele fosse do tipo que passava por cima das garotas.
-Você vai pra casa de ônibus?-Ele perguntou.
-Vou.-Respondi.
-Você mora aonde?
-Cara, eu mau te conheço, você acha mesmo que eu vou te falar onde eu moro?
Ele ficou em silêncio, e eu, sem graça.
-Desculpe, eu só queria te dar uma carona.-Ele disse.
-Ah, eu que peço desculpas...-Falei envergonhada.
-Tudo bem. Mas você não respondeu onde você mora.
-Eu moro dentro do parque.
-Sua familia tem terreno lá?
-Sim.
-Que bom, eu moro um pouco depois do parque, eu posso te deixar lá.
-Certo.
Fiquei meio desconfortável com a situação, mas depois me conformei. Afinal, ele não parecia ser tão mau assim.
-Vamos?-Ele perguntou.
-Claro.
Peguei a minha mochila e o segui até seu carro. Era um automóvel realmente grande, eu até tive dificuldade para entrar nele, pois era muito alto.
Fiquei segurando a minha mochila durante a viagem. Ninguém falava nada, até que eu me atrevi a perguntar.
-Você repetiu de ano?
-Que?
-É, para poder dirigir aqui no Canadá você tem que ter mais de 16.
-Eu não repeti. Eu fiz 16 mês passado.
-Como assim?! Eu ainda nem fiz 15. Era para você estar no nono ano.
-Está bem, eu repeti, eu e meus irmãos, todos nós repetimos.
-Eu sabia!
-Mas foi por causa das mudanças.
-Como assim?
-Nós morávamos na França .
-Ah...
-Se nós ainda estivéssemos lá, estaríamos no nono ano. Mas aqui nós temos que fazer o oitavo de novo.
-Ata.
Não parecia que eles vieram da França. Jason ficou quieto por alguns minutos enquanto fazia uma curva difícil com o carro. As estradas de Banff eram cheias delas.
-Eu adoro a França.-Falei
-É realmente lindo lá.-Ele disse
-Como você aprendeu a falar inglês tão rápido?
-Sei lá, eu e meus irmãos tivemos facilidade em aprender essa língua. Lá na França nós já aprendíamos inglês na escola, então foi fácil.
-Hm, você sente falta da França?
-Não muito. Lá é lindo, mas nossa familia não estava com uma boa condição de vida lá, aqui as coisas estão mais estáveis.
-Eu entendo.
O silêncio tomou conta novamente. Fiquei olhando para ele durante alguns minutos. O contorno do seu rosto, o formato do seu corpo, a cor de seus olhos, me fascinavam, como um livro que você não consegue parar de ler. Ele era um enigma que eu precisava decifrar. Me sentia atraída a ele, mas ao mesmo tempo uma raiva inexplicável deixava meu sangue fervendo. Eu não sabia como lidar com aquilo. Os seus olhos eram tão lindos, tinham a cor de um por do sol. Seus cabelos, castanhos e lisos, pareciam ser tão macios, e sua pele deveria ser tão quente... Tentei me segurar para não toca-la.
Ele percebeu que eu estava o olhando e deu um sorriso de lado. Exibido! Realmente se achava. Fiz uma cara de nojo só para provoca-lo. Ele riu. Parecia até que nós nos comunicávamos sem precisar falar nada.
-Chegamos.-Ele disse.
-Obrigada por me trazer até aqui.
Ele não disse nada. Ele era totalmente cheio de si. E eu ainda pensava que ele poderia ser diferente.
Quando eu estava abrindo a porta porta ele pegou meu braço e disse:
-A propósito, ainda não sei o seu nome.
-Catherine, mas pode me chamar de Kate.
Ele soltou meu braço e eu sai do carro.
-Até amanhã, Kate.
-Até.
Fechei a porta do carro e entrei em casa.
Ninguém tinha chegado ainda, então pedi a minha pizza e passei o resto da tarde na frente da TV do meu quarto, assistindo Supernatural. Eram 8:30, quando recebi uma ligação.
-Alô?
-Kate?
-Quem é?
-Jason, seu namorado!
Não poderia ser o Jason, primeiro porque ele não era meu namorado, segundo porque a voz dele não era fina, e terceiro porque ele não tinha o meu número. Só podia ser a Lucy.
-Lucy é você?!
-Hahahaha óbvio né!
-Sua vaca! Me assustou!
-Até parece que ele ligaria pra você, né!
-Ele me deu uma carona pra casa hoje.
-Mentira?! Me explica isso!
-Eu fui no StarBucks hoje depois da escola tentar arranjar um emprego de meio período para mim, e quando eu saí da loja ele estava do outro lado da rua saindo da livraria. Ele me viu e veio me oferecer uma carona.
-O que um cara como ele fazia em uma livraria?
-Ele estava procurando um emprego.
-Ata. Mas e aí, rolou alguma coisa?
-Óbvio que não. Ele é o maior exibido, e além do mais a Erica disse para que eu ficasse longe, esqueceu?
-E você vai obedecer ela?
Fiquei em silêncio.
Escutei um barulho vindo da porta da frente da casa. Eram os meus pais.
-Tenho que ir Lucy, tchau!
-Ei! Espera!
Desliguei o telefone na cara da Lucy e fui em direção a porta da frente.
-Mãe?
-Oi meu amor.-Disse a minha mãe.
-Oi filha.-Falou meu pai.
-Pai?
-Filha seu pai está cansado, vá tomar um banho e ir deitar. Amanhã você fala com ele.
-Tá...
Meu pai estava se arrastando, quase não conseguia andar sozinho. Ele exalava cheiro de bebida. Minha mãe deixou ele no sofá e levou um copo de água para ele. Eu fui tomar o meu banho e depois fui para o meu quarto dormir.
Era meia noite e eu não conseguia pegar no sono. Eu só conseguia pensar no Jason e em seus olhos. Eu já tinha visto aqueles olhos antes em algum lugar... Tentei me lembrar de onde eu os conhecia. Eram tão lindos. O laranja esvanecia para um amarelo e depois para um cinza. Era perfeito. Eu poderia olhar para aqueles olhos até pegar no sono.
Eu me perdia nele como alguém se perde na melodia mais bonita de um violão.Fim do primeiro capítulo.
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Alma de Lobo (EM REFORMA)
Hombres LoboCatherine Mathieu Le Roux, é uma menina canadense de 14 anos, que acaba de começar o 8º ano , na escola de Banff, uma cidadezinha pequena, mas de uma beleza exuberante. Catherine tem que lidar com as brigas constantes de seus pais, e com mais todos...