Eclipse

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O ano já havia mudado e a monotonia tomava de conta da minha vida. Eu esperava que algo fosse melhorar tanto na minha vida externa como interna, mas nada que eu planejava dava certo como de costume. Eu vivia com uma grande nuvem escura acima de mim mesmo  e precisava fingir estar tudo bem, afinal, não queria preocupar minha mãe, muito menos meus avós agora que estava morando por perto. Também não vou mentir que uma vida sob terapia, remédios e psicólogos nunca foi algo que eu quis pra mim.

Todos os dias eu me levantava depois das dez da manhã, não costumava tomar café, tomava o banho mais demorado possível e me sentava o resto do dia no aguardo de algo diferente acontecer. Meu cachorro parecia ser o único ser no mundo que me entendia, apesar de não me dar respostas em palavras, ele conseguia me transmitir certo sentimento bom, algo recíproco.

Graças as minhas irmãs, sempre havia brinquedos por toda a parte da casa e eu sempre tinha o desprazer de pisar em algum deles e quando não jogava portão afora a fim de Pingo abocanhar e destroça-los, apenas chutava para longe.

— Du?

— Oi? — Ainda sentado virei meu tronco para trás afim de ter uma conversa normal com minha irmã mais velha.

— Nada não, era só pra saber se você estava em casa. Nunca parece estar.

Soltei um leve sorrisinho, balancei a cabeça em sinal de confirmação e da porta da frente, olhei adentro. Iza, minha irmã do meio estava de bruços no sofá e por algum motivo me parecia estar havendo algo de errado. Já Beca, minha irmã caçula de cinco anos a observava ao lado e soltava risadas baixas, como se estivessem escondendo algo. Era como uma filme policial, uma cena de crime e havia algo errado acontecendo na minha frente.

— O que você acha que elas estão fazendo? — perguntei baixo pra Júlia

— Alguma coisa errada como sempre, no mínimo. — respondeu ela observando a cena junto comigo e mutilando as duas menores com o olhar.

Me levantei, e devagar me aproximei. Fingindo que não estava vendo nada, contornei o sofá e as observei por outro ângulo. Elas estavam com uma espécie de caderno na mão. E bom, não dei o mínimo de importância, deveriam estar desenhando algo "super secreto", ou contando historias sobre algum filme musical super irritante infantil que viram.

Entrei no meu quarto e me deitei na cama. Era um cômodo extremamente pequeno e ainda completamente bagunçado e encaixotado. Meu pai não via necessidade de comprar um armário no momento, então tudo virava uma bagunça, era como se vivêssemos numa mudança de casa diária.

No mesmo dia, fomos jantar na casa da minha avó. O que até então não me animava muito, pois já havia se tornado rotina ir e vir várias vezes em um só dia da casa dela até a minha. Sete minutos que viravam quatorze, que viravam vinte e um que viravam vinte oito e sucessivamente, o que se tornava exaustivo.

— E o que você pensa, Eduardo? Você tem que fazer algo da vida, já está com dezessete anos. Eu já trabalhava na sua idade. Na verdade, comecei a trabalhar ainda criança... — disse minha avó, no meio do jantar, com meu avô, minhas irmãs e minha mãe de espectadores.

— Eu quero estudar. Acho que é o primeiro passo para arrumar um bom emprego. Não quero começar servindo café pra ninguém. Não tenho mente pra isso. — respondi rapidamente.

— As pessoas sempre começam de baixo e vão subindo. Você tem que passar pelo cafezinho para chegar a ser doutor um dia.

As ideias da minha avó sobre ser "doutor" eram como se todos os patrões existentes no mundo, fossem doutores.

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