Nuvens carregadas e poeira lunar

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Meus últimos dois dias ali foram os mais tristes possíveis. Tudo bem que eu estava com amigos e com a pessoa que eu amava, mas o sentimento de que tudo aquilo estava acabando me consumia. Era como se eu fosse deixar de existir logo após minha ida no domingo.

No meu penúltimo dia, acordei ao lado de Lucas, tomamos café da manhã na cama e fomos ao encontro das meninas e de Thaisa, a melhor amiga dele. Não passamos muito tempo juntos, era mais um dia entre eles, não me meti muito, porém antes de ir embora ela me abraçou e disse "Estou muito feliz por vocês, cuida bem dele, eu sei que você faz isso muito bem". E bom, se a melhor amiga dele achava que eu cuidava bem dele, eu estava realmente fazendo aquilo certo.

Na volta pra casa, estávamos no metrô como sempre eu, ele, e as meninas que exalavam felicidade pelo namoro. Dentro de mim um sentimento horrível gritava, na minha cabeça uma retrospectiva se passava então me virei de costas para eles e senti a primeira lágrima cair do meu rosto. Eu dei meu máximo para ser forte ali, afinal estava no meio de um vagão, muitas pessoas estavam me olhando, não queria chamar mais atenção do que pela roupa com um Mickey enorme estampado que eu estava usando.

Havia um rapaz próximo a nós, tocando um clássico dos Beatles enquanto meus olhos discretamente observavam Lucas e tentava esconder minhas lágrimas por trás dos meus braços que seguravam o apoio do vagão no teto. Se eu continuasse ali, eu iria me acabar em prantos na frente de todo mundo.

Na primeira parada que o metrô fez depois disso, eu simplesmente saí do trem, Lucas olhou pra mim como se não entendesse nada e eu apenas mexi minha cabeça em sinal de "por favor, vem comigo". E ele saiu atrás de mim. Me sentei no primeiro canto de parede que achei e ali mesmo eu soltei tudo que estava me perturbando, desabei em lágrimas, era como se eu estivesse perdendo parte de mim aquele momento, era uma dor que nem se eu me jogasse nos trilhos do metrô seria tão doloroso. Lucas sentou-se do meu lado e me abraçou, ele sabia bem o que estava acontecendo. Apenas me confortou.

— Eu estou aqui. Eu nunca vou te abandonar.

Eu levantei meu rosto e olhar para ele ali do meu lado me dava uma vontade maior de chorar, eu tinha medo de o perder, seja para o tempo, para a distância, para o que fosse. Eu não suportaria perde-lo mais uma vez. O abracei e chorei mais.

— Não chora, eu estou contigo, eu te amo. Já passamos por tantas coisas juntos, já está mais que provado que ficaremos juntos, amor.

Muitos minutos depois eu consegui me reconstruir, ficar forte novamente para voltar ao que eu já sabia que iria acontecer, eu iria embora, mas voltaria, e isso que me sustentaria até então.

E em meu último dia ali, Lucas não poderia me encontrar, iria ao shopping com os pais. Recebi um conselho que nunca pensei que receberia, a mãe de Pri, tia Simone olhou pra mim e disse para ir até ele, que estava claro que eu o amava e que eu deveria me arriscar para dar um último tchau pra ele, era o justo. "Tudo pelo amor" disse ela.

Não pensei muito, apenas fui. Eu, Pri e Karla. Ele estava numa sessão de cinema com os pais e me encontrou no banheiro. Entramos juntos em uma das cabines e a primeira coisa que ele fez foi me abraçar. Nos abraçamos tão forte que nossos corações sincronizaram nas batidas e novamente sentíamos um só coração batendo, assim como da primeira vez que nos vimos.

— Eu te amo! — disse ele olhando profundamente em meus olhos.

— Muitos muitões? — respondi

— Muitos muitões! — respondeu com lágrimas nos olhos.

— Eu volto, ta? Eu prometo.

— Eu sei que sim, amor. E eu vou estar te esperando, eu prometo. Eu sempre vou estar aqui, pra você.

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