Ele era completamente diferente do que eu achava que seria. Talvez pelo modo de lidar com as coisas ou seu jeito hiperativo e super comunicativo que me tirava sorrisos a todo momento. Eu me sentia como se tivesse achado a última peça do meu quebra cabeças, a peça que me faltava para ser uma pessoa completa. E mesmo que minha rotina seguisse sendo a mesma de sempre na casa de vovó, eu tinha um semblante novo. E o mais importante, eu percebia minha mudança.Eu sempre fui aquele amigo de escola que brigava com as pessoas por estarem sempre em busca de alguém, por terem necessidade de namorar para achar a felicidade. Pra mim era algo que não importava se você se bastasse. E bom, no meu mundo doce e colorido eu era o rei, tinha "com quem contar" e aquilo me bastava, eu não precisava de ninguém, até que meu castelo desmoronou. E era literalmente como se meu castelo, minha vida tivesse ido abaixo e eu estivesse morando no meio de uma floresta em um casebre, sem perspectivas e em um dia qualquer me aparece um príncipe estendendo sua mão e me reerguendo.
Nunca fui muito pé no chão. Sempre fui o tipo de pessoa que sonha alto até demais e luta pelo que quer. Sempre fui muito determinado no que queria, o que poderia ser algo maravilhoso se eu escolhesse a coisa certa para lutar. E bom, eu parecia ter escolhido alguém por quem lutar. Acredito que quando mais você sonhar, mais feliz você vai ser e mais motivos para continuar vivo vai ganhar, é algo meu, eu sempre fui muito sonhador.
Dezessete anos e não sabia quem era ou o que queria. Provavelmente acabaria como minha mãe, morando em uma cidade pequena, infeliz e casado com alguém que com toda certeza não era o amor da minha vida. Mesmo com esses pensamentos eu sabia que não era aquilo que eu queria pra mim, mas também não fazia a menor ideia de como mudar aquilo. Ao longo dos meus longos dezessete anos, eu talvez tenha vivido o que algumas pessoas nunca viveram metade na vida toda. E nem só de coisas boas, na realidade a maioria me desconsertou e talvez tenham deixado alguns traumas.
Meus avós foram meus primeiros pais, digo isso não pelo fato de certa cronologia, mas pelo simples fato de ter sido criado toda a minha infância ao lado deles. Minha mãe me visitava todos os fins de semana, mas nunca era a mesma coisa de se ter um símbolo de mãe e pai todos os dias por perto. Não que eu tenha reclamado ou esteja reclamando de como fui criado, pois reconheço todo o esforço dela para me tornar em alguém bom, mas talvez a figura que tenho dela em mim, seja de irmã, alguém que posso contar sempre que preciso, porém com todos os dons de mãe possíveis, entre eles o dom de saber quando estou bem ou não, por mais que eu finja na maioria das vezes.
Meu pai nunca foi presente. Não sei muito da vida que ele levava antes de ir morar com ele aos meus sete anos de idade, mas sei o que vivi após isso e não foram os anos de ouro da minha vida. Ele era o tipo de homem arrogante e egocêntrico que não enxergava nada além do próprio nariz, sempre implicou comigo por ter certa intimidade a mais com minha mãe. Chegava todos os dias em casa depois da meia noite, muitas vezes bêbado e em algumas delas até brigava comigo e minha mãe enquanto gritava que ele "era homem e fazia o que queria da vida dele". Cresci num ambiente violento, em todas as formas possíveis. Anos depois ele começou a perceber que estava perdendo tudo que havia construído por causa de si mesmo, começou a maneirar nas coisas que fazia, e como pessoa pode-se dizer que se tornou alguém melhor que era.
***
— Meia noite! — Escrevi no chat do celular, enviando para Lucas.
— Um horário especial?
— Bom, eu acredito que é a hora mágica do dia. Sempre que dá meia noite e o dia se renova, temos que desejar com toda a fé possível algo que queremos...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Moondust
RomanceAs melhores coisas lhe aparecem na hora de mais escuridão na sua vida. Uma vida pode ser construída de metáforas e a luz da lua pode ser insuficiente para traçar caminhos corretos para uma alcateia de um lobo só.