Cento e sessenta e nova horas. Havia se passado uma semana inteira e eu estava no início da madrugada aquele momento. Parece que foi ontem que eu estava no chão do banheiro ouvindo "Sad, Beautiful, Tragic" da Taylor Swift enquanto deixava minhas lágrimas serem levadas junto com a água do chuveiro que me molhavam numa pressão não tão forte mas o suficiente para me fazer parecer em um clipe musical triste.
O céu não era o mesmo pra mim. A lua se parecia cada vez mais comigo depois do que Lucas havia me falado. Coloquei na minha cabeça que eu havia nascido para iluminar caminhos mesmo que meu destino fosse permanecer sozinho e que ninguém nunca lutasse por mim, que eu deveria estar ali.
Longas anotações manuscritas haviam em meu quarto, escondidas na gaveta da escrivaninha amarelada e velha que talvez tivesse sido comprada há mais de vinte anos atrás. As notas do meu celular estavam cheias de músicas feitas sobre nós. Pessoas esperançosas tem que esperar muito até ter ou não o que almejam. Eu o encontrava nos meus sonhos quase todos os dias, mas acordava sempre sozinho com a doce esperança de ler uma mensagem dele quando pegasse no meu celular. Mas ele tinha seus demônios e medos e todos eles tinham meu rosto estampado.
O pior de tudo é que ele ainda falava comigo vez ou outra e me parecia bem. Ele estava bem. Não que me fizesse mal sua felicidade, mas me fazia mal ver que só eu sentia falta.
Tentei voltar a ser o meu eu do passado, voltei aos grupos e a vida social da internet que eu tinha, mas tudo parecia vazio sem ele. Busquei amigos, pessoas para desabafar, mas conheci uma maioria de pessoas vazias, poucas se sustentaram como confidentes.
— Meu aniversário é no sábado. Você pode ir lá em casa? — Elaine me enviou.
Talvez não fosse uma má ideia, ela me parecia uma boa pessoa e estava querendo me incluir em sua vida. Não iria fugir disso.
— Eu posso tentar ir sim. Pela tarde?
— Sim, umas cinco da tarde...
— Tudo bem. Te aviso!
No sábado eu não tinha muita vontade de sair. Mas decidi que poderia mudar aquilo. Tomei banho, pus uma camisa com a estampa do bob esponja que talvez fosse divertido usar ela pra um aniversário de uma pessoa como Ella (que era um apelido íntimo de Elaine), pus um short velho e um sapato que havia ganhado no natal passado da minha tia. Peguei minha moto e fui.
Cheguei na casa dela por volta das cinco e vinte da tarde. Ela me deu um abraço e agradeceu por eu ter ido. Haviam alguns amigos dela por lá. Mas ninguém além dela que me desse vontade de conversar. Eu olhava meu celular de dois em dois minutos para checar se Lucas não havia mandado algo.
— Porque você olha tanto pro celular?
— Só pra ver se alguém lá de casa mandou algo. — respondi sem jeito, sem conseguir inventar uma mentira melhor.
— Ah... Fica tranquilo. Quer bolo?
Sorri de canto de boca e balancei a cabeça em sinal positivo. Ela trouxe uma fatia de bolo e alguns salgados pra mim. Sentamos na beira da calçada enquanto os amigos dela brincavam de alguma coisa juntos.
— Eu gosto de você. Tu parece ser legal. — disse ela
— Obrigado. Você também.
— Tem uma coisa que eu preciso te falar, antes que a gente fique mais íntimo.
— Pode falar... — Olhei fixadamente pra ela com olhos meio cerrados, e pensei "Ela vai contar um segredo pra um estranho?"
— Eu gosto de meninas.
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Moondust
RomanceAs melhores coisas lhe aparecem na hora de mais escuridão na sua vida. Uma vida pode ser construída de metáforas e a luz da lua pode ser insuficiente para traçar caminhos corretos para uma alcateia de um lobo só.