Slytherin

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Draco P.O.V
É o sexto ano em Hogwarts, e nada mudou. Ou pelo menos, é o que eu achava.
Seis horas antes:
Tem uma grande agitação ocorrendo no Grande Salão. Várias vozes murmuram, algumas gritam, mas não consigo captar nenhuma palavra. E então o vejo: o Chapéu Seletor em seu banquinho. Não faz sentido. Quer dizer, todo ano existe a seleção dos alunos, mas isso aconteceu uma semana atrás. Queria que Potter estivesse lá para ver um curioso fato: nenhum aluno foi selecionado para a Grifinória. Isso é... No mínimo bizarro, e eu acho que vão fazer algo hoje, mas a cara dos grifinórios idiotas enquanto o último aluno ia para Corvinal... Impagável. E Potter, você me pergunta? Bom.
Potter não veio esse ano. Achei que o idiota estivesse atrasado, que tivesse se atrapalhado e chegaria em um carro voador como fez no segundo ano. Mas não.
Ele está planejando algo. ISSO eu sei. Aposto que está se reunindo com Dumbledore para formar algum planinho contra mim e a minha família! Ah, deve ser isso. No entanto, por mais que eu queira acreditar nisso, uma voz no fundo da minha cabeça me faz perceber que Dumbledore parece tão conhecedor do paradeiro de nosso grande herói como eu. Ou seja, ele não sabe de nada.
De qualquer jeito, não vou perder meu tempo me desesperando pelo Santo Potter. Sua amiga Sangue-Ruim está ali junto com o pobre do Weasley e seu clã. Apenas olhar para eles me faz lembrar que a repugnante daquela Giva (suponho que seja este o nome dela) me deu um soco no primeiro dia de aula. Um soco! Em mim! Como se já não houvesse bastado ser socado pela Sangue-Ruim no terceiro ano. Antes de seu irmão Ronald tira-lá de perto de mim, ela gritara algo como 'você vai pagar por mimimi o Harry e mimimi eu te odeio mimimi"... Ela deve pensar que eu tenho o Santo Potter num armário na minha casa. Ah, como a minha vida seria melhor se eu tivesse. Divagações de lado, o que eu sei é que a pobre iludida sabe tanto da situação de Potter quanto eu e isso me dá uma sensação esquisita. Meus pensamentos desviam de foco várias vezes durante os minutos em que fico parado no meio dos alunos agitados. Só levanto os olhos do chão quando a voz estridente da professora McGonagall ecoa pelo Grande Salão.
"Atenção, alunos" - McGonagall diz - Como sabem, alguma coisa aconteceu com o Chapéu Seletor e ele não pôs ninguém na Grifinória no primeiro dia do nosso novo ano letivo".
"GRIFINÓRIA É UMA MERDA" - diz alguém atrás de mim. Talvez um sonserino. Só sei que concordo. Dou uma risadinha baixa, esperando que ninguém perceba. Não quero dar mais uma desculpa para os monitores da Grifinória tirarem pontos da Sonserina. Desde que Potter desapareceu, é isso que vem acontecendo. Suspiro enquanto ouço o clã Weasley cochichando sobre Harry perto de mim.
"Menos cinquenta pontos da Lufa-Lufa por esse comentário, Sr. Macpoll", ouço Snape falando atrás de mim, e sei que Snape só retirou os pontos da Lufa-Lufa por sadismo, pois seria o último a se importar com uma ofensa contra a Grifinória, então sorrio com o canto da boca e continuo prestando atenção.
"Continuando, cremos que o Chapéu tenha ficado meio abatido pelos eventos ocorridos no decorrer dos anos, e demos uma conferida na magia do mesmo. Portanto, todos os alunos serão sorteados de novo, para garantir que tudo esteja normal", conclui McGonagall.
A gritaria irrompe a minha volta. Alunos desesperados, se agarrando e cochichando. Crabbe e Goyle, os quais eu nem havia me dado conta que estavam do meu lado, começam a me olhar com desespero; devem pensar que eu estou tão preocupado quanto o resto dos alunos. No entanto, sequer me mexo. Sei que serei sorteado novamente na Sonserina. Minha família inteira foi. Um por um, os alunos se acalmam, mas não por muito tempo. Harry Potter, que não desperdiça a chance de uma entrada triunfal, entra no Grande Salão acompanhado do professor Flitwick e de Hagrid, com uma aparência magra e abatida. Seus olhos ficam no chão e ele parece não querer ser notado; algo quase impossível pra ele, eu penso, revirando os olhos enquanto o faço. Todos murmuram, mas ele apenas se senta junto do clã Weasley e da Sangue-Ruim, que, preocupados, o beijam, abraçam, conversam... Percy Weasley é o único que parece de fora. Só sei o nome dele e de Ronald. Percy parece ser o único que deseja algo de verdade ali e é prefeito há alguns anos seguidos.
Um por um, o Chapéu sorteia. Os alunos do sétimo ano não são obrigados a participar do sorteio, no entanto, alguns o fazem, e somente uma garota corvina acaba parando em outra casa; Sonserina. O sorteio do sétimo ano acaba, e eles saem do salão, exceto pela mais nova integrante da casa Sonserina. Ela se senta do lado de Pansy, que parece incomodada, e o sorteio do resto das classes começa, em ordem decrescente; primeiro o sexto ano, e por último o primeiro. Quase ninguém até então muda de casa. Eu mesmo já fui colocado de novo na Sonserina após o chapéu encostar em mim, e estou focando todos os meus esforços em não bocejar. O próximo nome, no entanto, atrai minha atenção. "Srta. Weasley!"
"Hm... Vejo coragem, mas também vejo muita lealdade e traços que serviriam bem a Lufa-Lufa tanto quanto na Grifinória... [vejo os rostos tensos de seus irmãos] GRIFINÓRIA!"
Após Giva sair e seu clã de irmãos respirarem aliviados, McGonagall anuncia mais nomes, até chegar em um que eu particularmente me interesso. "Percy Weasley."
O chapéu demora uns dois minutos em puro silêncio. Me remexo no assento, atento. Por fim, o chapéu grita:
"SONSERINA!"
Os aplausos foram altos, os meus inclusive, cheios de deboche devido a cara do resto do seu clã. Um por um, o resto dos seus irmãos vão para a Grifinória, e eu continuo me esforçando para não dormir. Era chegada a vez da Sangue-Ruim.
"Oh, sim... Bem... Ah, podemos levar isso em conta, oh...", murmura o Chapéu. Sinto a tensão na mesa da Grifinória; é óbvio que eles não querem perder a aluna mais brilhante do sexto ano.
O chapéu então, finalmente grita:
"GRIFINÓRIA"
A mesa inteira dá um viva e Sangue-Ruim sai andando aliviada, com as mãos tensas ao seu lado, e vejo Ronald abraça-lá firmemente. Reviro os olhos pelo que talvez seja a terceira vez nesse minuto. Patéticos.
"Sr. Potter!"
O salão se cala. Posso praticamente ouvir os pensamentos dos fãs de Potter. Mas não poderia ter previsto o quanto esse sorteio específico demoraria. Crabbe e Goyle trocam sussurros sobre o paradeiro de Potter, e eu reflito, sentado, sobre os assuntos mais aleatórios possíveis. A demora me mata. Sinto a ansiedade no fundo da minha barriga. Imagino como Potter está se sentindo e lembro-me que pouco me importa isso.
Nunca tinha visto o Chapéu demorar tanto. Ele fica por quem sabe uns 10 minutos em silêncio, e vejo Snape se levantar, provavelmente para ver se o velho trapo ainda está "acordado", mas antes de Snape precisar agir, o chapéu por fim grita:
"SONSERINA!"
Ninguém aplaude. Um silêncio doído pesa no salão. Nunca gostei de silêncios prolongados. Então, me sinto no dever de 'inimigo' e ando até ele batendo palmas. "Parabéns, Potter. Só não sei como o Chapéu se demorou tanto em alguém sem cérebro", digo eu.
Meus colegas riem, mas eu não sinto felicidade nem uma satisfação em debochar dele como normalmente. Quem diria que eu ainda tinha empatia dentro de mim? Isso deve ser a morte para Potter. Ele também deve sentir isso, pois lentamente ri e come um pouco do que lhe é trazido por um elfo doméstico ao invés de revidar com algum comentário ácido, e mesmo comendo, consegue de algum modo parecer ainda mais desnutrido do que nunca. Como se não bastasse todas as mudanças, McGonagall anuncia:
"Prezados alunos, com a ameaça de Voldemort [a maior parte dos alunos solta um gemido de dor ao ouvir o nome, mas eu apenas suspiro] iminente, queremos a segurança de todos em Hogwarts. O Chapéu quer fazer um anunciado."
"Minha querida Hogwarts. Esse ano quero que Vosso Diretor enfeitice os dormitórios, transformando cada um em quartos para dois. Esse ano, quero colegas se unindo para se proteger contra qualquer ameaça. Eu mesmo já li a mente de cada um e sei quem vai com quem. Ouçam seus nomes e se postem ao lado de seu parceiro quando eu disser.
Percy Weasley e Vincent Crabbe!
Gina Weasley (ah, esse é o nome dela) e Susan Bones!
Fred e Jorge Weasley!
Ronald Weasley e Dino Thomas!
Hermione Granger e Luna Lovegood!
Harry Potter e Draco Malfoy!"
O resto eu não ouço.
Presente:
Harry P.O.V
Seis horas atrás tudo mudou para mim. Sonserina?
Eu havia pedido anos atrás para o Chapéu para não ser colocado lá. Dessa vez ele ficou quieto em minha cabeça. Não me deu aviso do que viria. Isso eu aguento. É uma casa. Uma casa que eu odeio, mas só uma casa. Agora, Draco Malfoy? O que eu devo fazer? Não tenho comparecido nas aulas há uma semana porque estava ocupado largado em um cofre qualquer. Fui sequestrado por gigantes partidários de Voldemort que eram tão estúpidos que se esqueceram de mim. Fiquei seis semanas preso. Tive sorte de só ter perdido uma semana de aula, pois o resto das cinco semanas foram passadas lá durante as férias. Enquanto eu estava lá, comia restos do que conseguisse achar. Às vezes lembravam de mim e traziam um pedaço de comida. Nada mais. Eu delirei por duas semanas. Não havia nada que eu pudesse fazer. Porém, hoje... estranhei por não me sentir com tanta raiva. Eu até poderia gritar e espernear. Amaldiçoar esse Chapéu. Mas eu estava tão cansado. Após Hagrid  me achar, eu insisti em voltar para Hogwarts após um banho e um lanche. Agora me arrependo. Nem me defender das piadas sem graça do Malfoy eu quis. Malfoy me guiou de má vontade até a Sonserina e disse a senha:
"Polvo verde."
Entramos, e, uau. A Sonserina era linda. Mais linda que a Grifinória. Esse pensamento me fazia sentir estranhamente culpado. Será que já estava me tornando um deles? A decoração me impedia de pensar muito no assunto. Não sei se era o ar de poder que parecia emanar de lá, ou todo o luxo que envolvia o Salão Comunal, mas me senti em casa. Foi tão estranho. Seria a parte de Voldemort em mim se agitando? Sacudi a cabeça e segui Malfoy, que procurava nosso quarto em meio aos outros (centenas de portas se distribuíam em um corredor prateado e verde).
Entramos, e, um minuto depois, sem nem menos decidir direito qual cama ficaria, qual seria mais longe de Malfoy... Dormi.
Em paz.

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