Sectusempra

29.7K 2.4K 1.8K
                                    

Harry P.O.V
Eu ainda não entendi aquele sonho... Nas semanas seguintes, o sonho se repetiu, toda a noite. Para ser totalmente honesto, era a única coisa que me mantinha na realidade. Eu me sentia prestes a desmaiar, sem saber onde estava, e me lembrava do sonho. Assim que cheguei em Hogwarts, ele parou.
Duas semanas se passaram, e nada fora do normal acontecera. Eu tinha achado um livro de um tal de "Príncipe Mestiço" e visto um feitiço chamado "Sectusempra", que Hermione (eu raramente via ela e isso me deixava mais triste do que qualquer provocação que os sonserinos pudessem fazer; Malfoy em si não me provocava muito, a não ser que estivesse de muito mau humor) me dissera para não usar, porque não sabia para o que servia.
Mas mal não iria fazer, porque eu já tinha decorado o feitiço que revertia os efeitos desse tal de "Sectusempra". Seria "Arpmesutces" (o feitiço ao contrário). O feitiço, segundo o Príncipe Mestiço, seria para ser usado contra os inimigos.
Terça-feira chegou, e me trouxe algumas surpresas.
Eu chego no quarto, e encontro Malfoy com a varinha na mão (🌝) movendo móveis de lugar, inclusive MINHAS coisas!
"O que você PENSA que está fazendo, seu idiota?"
"Estava cansado da sua decoração tediosa. Típico grifinório arrumando as coisas. Sem originalidade nenhuma."
"Foda-se o que você pensa ou não sobre a minha decoração, Malfoy, larga a varinha e deixa o que é meu no lugar".
Malfoy boceja e, com um movimento suave da varinha, lança metade dos meus livros e todos os meus vidros (que continham a poção ultra complicada que Snape havia mandado de tarefa) na parede. Meu sangue ferve, sinto meu rosto queimar, e pego a minha própria varinha. Como eu gostaria de ver aquela cara sarcástica dele no chão.
"Você vai ver!", eu grito, mas Malfoy não presta atenção. O que me irrita muito. Ao invés de se preocupar com o fato de eu ter minha varinha na mão, ele simplesmente me desarma do jeito mais patético possível; rouba a varinha da minha mão e lança-a na minha cama. Eu arregalo os olhos, mas ele somente ri, distraído. Meu olhar vai da bagunça no chão para a varinha na cama, e enquanto isso, o desgraçado do Malfoy segue para o nosso banheiro normalmente e lava o rosto. E eu não sei porque, mas isso me tira completamente do sério. Completamente. Ele anda por aí como se... Como se... Como se a porra do mundo não estivesse se fechando ao meu redor e me deixando sem espaço para pensar! A raiva que eu sinto é quase palpável. Não raciocino; só ajo.
Eu o sigo, com a varinha que eu recuperei da cama, pronta e quente na minha mão. Ele vira no exato instante em que me aproximo dele.
"Expelliarmus!" - ele grita, surpreso, mais por reflexo do que qualquer outra coisa, mas eu desvio de seu feitiço gritando:
"Protego!"
Malfoy grita:
"Levicorpus!", e eu levanto do chão momentaneamente, para cair logo de volta.
Eu lanço o feitiço rapidamente antes que ele tenha outra chance de me amaldiçoar:
"Sectusempra!"
Malfoy, com um olhar de confusão que é como uma faca entre as minhas costelas, cai no chão com a camisa rasgada em tiras por uma espada invisível, com sangue jorrando. Seu olho revira e a sua varinha escapa lentamente pelos seus dedos. Ele perde cor rapidamente. Eu me aproximo dele, como num sonho, e toco sua barriga na parte que a blusa está rasgada. Meus dedos voltam vermelhos e quentes.
Sangue demais, sangue demais. Eu me desespero. Minha visão começa a ficar borrada. É como um sonho. Isso não pode estar acontecendo de verdade, certo? Eu não matei ele, matei? "Eu vou ser expulso de Hogwarts" é meu primeiro pensamento, o que me faz começar a quase chorar. Depois de tudo que eu passei... Não, não, não...
"Draco, e-eu vou te ajudar. Draco, me desculpa. Draco, eu não sabia o que o feitiço fazia. Draco, me perdoa."
Draco tenta balbuciar algo, mas se engasga e começa a tossir sangue. Minha mão treme e minha visão escurece cada vez mais, e isso me traz para a realidade; se eu desmaiar, Draco morre, eu sou expulso de Hogwarts. Respiro o mais fundo que consigo e pego novamente a varinha, com a mão ainda trêmula.
"Arpmesutces" - eu recito, cantando, do jeito que o livro disse. Na primeira vez que eu canto, minha voz sai aguda e fraca, e o único efeito é o sangue parar de jorrar, mas as feridas continuam abertas. Canto de novo, com mais firmeza e mais desespero.
Logo o sangue volta para o corpo pálido de Draco. Sua camisa continua rasgada, mas os ferimentos estão fechados, assim como seus olhos; ele continuava pálido e agora tremia.
"Graças a Merlin. Draco, escute, Draco,
você está bem? Me perdoe, por favor, por favor... Draco, acorda, porra, acorda, por favor..." Começo a tremer de novo, e então
Draco senta e olha para mim, balançando a cabeça.
"Não surta, estou bem... O que foi..."
Não deixo ele terminar. No impulso, na emoção, faço o que me parece próprio: puxo-o para meus braços e o beijo desesperadamente.
Do jeito que fiz no meu sonho.

Draco P.O.V
O que está acontecendo? Harry está me... Beijando? Eu estou com uma dor de cabeça infernal, mas no momento, nada disso importa. Eu o beijo de volta do jeito que posso, arfando um pouco. Finalmente, ele me afasta, e não parece envergonhado, senão um pouco surpreso e até... feliz? Eu sei que eu com certeza estou mais do que confuso agora, embora tenha gostado de beija-lo. Minha cabeça está um inferno, e respirar arde.
"Por mais que eu queira continuar, e Merlin sabe que eu quero, você precisa descansar. Me desculpe, Draco, não foi minha intenção te machucar assim", Harry diz, tremendo.
"Certo...", eu digo, sem saber o que mais falar.
Me levanto, mas logo caio no chão. Que diabos de feitiço foi aquele? Nunca tinha ouvido falar.
Harry me impede de bater a cabeça no chão ao me agarrar firmemente, e tenta me levar apoiado no seu braço, o que fracassou novamente, pois eu não conseguia respirar direito, e andar exigia um esforço que eu não conseguia fazer naquele momento.
Harry acaba tendo que me carregar no seu colo (pessoalmente, foi a realização de um sonho) e me deita na cama dele. Ele começa a por cobertores em mim (porque eu estou tremendo bastante), mas eu o afasto com um toque de mãos.
"Sabe, eu posso fazer isso. Não sou um bebê."
"A-ah, ok." - Harry parece nervoso; continua tremendo e suas mãos estão frias.
"Você está bem? Parece pior do que eu", eu sussurro.
"Desculpe, é só que eu não achava que o feitiço fosse capaz de, sabe... Quase matar alguém."
"Onde você o achou, a propósito? É magia negra."
"Em um livro de Poções, parecia pertencer a alguém que se chamava de 'Príncipe Mestiço'. Já ouviu falar?", ele me questiona. O nome causa uma sensação esquisita.
"Esse nome não me parece estranho."
Não consigo me lembrar, mas já ouvi meu pai falar algo sobre esse 'Príncipe'. Acho que eu era muito criança para lembrar. De qualquer jeito, não importa, importa? A conversa acaba por aí, afinal nem eu nem ele parecemos prontos para mencionar o fato de que tínhamos nos beijado após ele quase me matar acidentalmente, e ele decide ir tomar um banho enquanto eu tento repousar.
Enquanto Harry vai para um banho, tremendo e gaguejando, eu tento dormir, mas não consigo. Preciso desesperadamente pensar no que aconteceu há menos de meia hora atrás. Qualquer dúvida que eu pudesse ter sobre ser gay evaporou.
Qualquer dúvida que eu pudesse ter sobre ser apaixonado por Potter evaporou. Mesmo depois de três anos, eu ainda amo ele.
E ele parece pelo menos gostar de mim.

Harry P.O.V
Enquanto eu tomava banho, repassava tudo o que tinha acontecido. Primeiro, Malfoy tinha mudado nosso quarto todo. Segundo, nós trocamos feitiços até o Sectusempra o atingir em cheio. Terceiro, eu acabo do lado dele chorando e tentando reverter o feitiço. Quarto, Malfoy acorda e eu o beijo sem pensar direito.
Há quanto tempo eu gostava dele desse jeito e não sabia?
Acho que desde o quarto ano.
Se bem que eu nunca me dei conta de que sempre estava pensando em Malfoy. Pensando no que ele estaria bolando, com quem estaria, como estava passando as férias... É, ele sempre esteve lá.
Acho que só dei importância de verdade a ele quando estava quase morrendo, no cofre.
E agora? A gente vai agir como se nada tivesse acontecido, ou ele vai querer algo sério, ou a gente só vai ficar e... Ah, por Merlin, estou pensando demais nisso. Foi só um beijo. Vou me iludir se pensar que pode ter havido algo a mais ali. Draco tinha acabado de acordar, talvez nem tenha entendido direito o que eu fiz. Sim. Tenho que parar de pensar nisso.
Saio do banho, mais preocupado do que antes, e, quando chego no quarto, Malfoy está dormindo como um anjo. Balanço a cabeça. Anjo? Só se for o que caiu do céu, Lucifer. Eu queria fazer mil coisas com ele naquele momento (🌚), mas acabei deixando ele dormir.

MudançasOnde histórias criam vida. Descubra agora