Torre de astronomia

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Draco P.O.V
Saí logo cedo do quarto. Não queria ficar lá um minuto a mais do que o necessário com Potter dormindo.
Vim para a Torre de Astronomia, observar o Sol nascer, como eu fiz três anos atrás. Lembrar disso é... Quase cômico, mas me traz um alívio esquisito que só algumas lembranças marcantes trazem. Como o primeiro coração partido; a primeira desilusão amorosa, a qual me trouxe aqui há anos.
Três anos atrás:
Por que eu não consigo esquecer Potter? Ele nunca vai ligar para mim. Desde o dia que eu vi ele pela primeira vez, eu sabia que havia algo de errado comigo. O que eu sentia não era só ódio. Era pior. Atração, curiosidade. Eu queria estar perto dele, não importava como. Errado, errado, errado. Não que ser gay seja um problema no mundo mágico. Com isso eu não me preocupo. Mas de qualquer jeito, essa paixãozinha, essa obsessão... é passado.
Andei tão ocupado com os assuntos da minha família, que acabei esquecendo de me lamentar pelo Santo Potter. Mas ontem à noite, vendo Potter no Grande Salão, sorrindo de alguma gracinha de Ronald... Foi demais. Meu coração transbordou novamente e tudo que eu havia reprimido voltara. Pansy me consolou por horas até eu dormir, mesmo sem entender o porquê de eu estar chorando. Mas eu me conformei, e o raiar do Sol me trouxe para cá. Suspiro, e enxugo as lágrimas. Seguir em frente, certo. Entender que foi uma futilidade.
E além do mais, nunca daria certo.
Potter e Malfoy?
Grifinória e Sonserina?
Não.
Então só me resta esquecer ele.
O motivo de eu ter vindo para cá foi buscar relaxamento; observar o Sol nascer no único lugar em que encontro paz. A Torre de Astronomia. De repente, minha calma é perturbada por barulhos. Passos. Gritos. Gritos femininos.
Uma briga?
Vou me esconder, não por querer ver a briga, mas por medo de ser descoberto chorando. Me agacho atrás de um cartaz gigante com as constelações que observamos nas aulas, e, mesmo sem ter a intenção, escuto a briga.
"Mas Hermione, por quê? Nós estávamos tão bem juntas!"
"Gi, eu não queria fazer isso, mas eu criei sentimentos pelo seu irmão, e..."
"É assim? Certo. Uau. Não precisa dizer mais nada. Eu entendo. Só saiba que quando você quebrar o coração dele, ou ele o seu, você não vai poder voltar rastejando para mim."
Fico em silêncio ouvindo minha respiração acelerada, refletindo. Giva Weasley e Hermione Sangue-Ruim Granger juntas? Quando ouço passos irritados e choros, saio do meu esconderijo e suspiro. Já tenho problemas demais para me preocupar com isso. Realmente, pouco me importa. Volto ao balcão e tento esquecer de tudo. Potter, Giva, Hermione, tudo. Se eu pudesse, ficaria o dia inteiro remoendo tudo, mas tenho aula, então me forço a voltar a realidade.
Presente:
Saio do torpor das memórias. Volto para a Sonserina, para colocar meus trajes, e encontro silêncio... Esquisito. Mesmo de manhã, o salão é barulhento. Então ando até o Salão, mais a frente, e vejo um dos meus colegas, Julian, com uma placa dizendo:
"Potter lançou um Travalíngua.
Ajude!"
Só me faltava isso.
Após uma hora inteira dedicada a fazer todos voltarem a falar, desço para o café da manhã, atrasado.
Só para encontrar quase todas as mesas vazias. Vejo os poucos alunos restantes indo para as respectivas aulas, rindo, conversando. Todos os sonserinos do primeiro ao quinto ano estão indo para as aulas, e o café da manhã acaba no segundo que o último aluno levanta da mesa.  Sabendo que não conseguirei nada ali e ouvindo as vozes indignadas dos meus colegas, vou para minha próxima aula, para a qual estou terrivelmente atrasado, já pensando em como vou acabar com Potter.

Harry P.O.V
Dezenas de sonserinos entram na aula atrasados, com um olhar de fúria direcionado a mim. Que seja!
A aula havia oficialmente começado há 15 minutos, mas o morcegão do Snape quis esperar todos os seus caros alunos. "Vejo que finalmente chegaram. Podemos começar a aula."
"Não vai tirar nem um ponto da Sonserina? Isso é ridículo!" - grita Macpoll, o mesmo lufano que xingou a Grifinória. Acho que ele odeia todas as casas, exceto a própria.
"Eu sou o professor aqui, Sr. Macpoll, e tenho certeza que eles têm uma boa explicação."
"Temos sim, Professor! O querido Potter nos lançou uma azaração e tivemos que esperar Draco voltar para podermos voltar a falar!"- diz Pansy Parkinson.
"Oh. Veja, Sr. Macpoll. Eles não tiveram escolha, ao contrário do senhor, que deliberadamente gritou palavras de baixo calão ontem. Menos quinze pontos da Lufa-Lufa por isso."
"Ora, e o que vai fazer com Potter, Professor?" - grita MacPoll, ainda querendo causar.
"Não se preocupe, MacPoll, ele será punido de forma apropriada. Potter e Malfoy, fiquem na sala após o fim da aula para uma, ahn, conversinha."
"Claro, Sr." - diz Malfoy, atrás de mim. Ridículo. Puxa-saco. A aula é entediante como sempre, eu continuo errando abominavelmente no preparo da minha poção como sempre, mas de repente, no meio da aula, alguém entra.
Eu me viro, e o vejo.
O pai de Malfoy.
"Lúcio, o que te traz aqui, colega?" - diz Snape. Meu sangue gela.

Draco P.O.V
Meu pai? Por que ele está aqui?
Será que algo aconteceu e eu terei que sair de Hogwarts? Espero que não seja nada do tipo. Eu o observo enquanto ele para ao meu lado e fala:
"Bom dia, Severus. Vim aqui em nome do Ministério da Magia, fazer um monitoramento das aulas por um mês, para ver se os métodos estão de acordo com os do Ministério. Nada demais. Pensei em começar pela sua aula, visto que provavelmente vai ser a melhor que encontrarei por aqui."
Risinhos de colegas meus. Eu não rio. Observo a expressão de todos, que me olham procurando algum sinal de que eu sabia o que estava por vir. Não tinha ideia!, porém não deixo isso transparecer na minha expressão, que continua neutra. Olho sorrateiramente para meu pai. Ele não me avisou, o que me deixa frustrado como sempre. "Muito bem então, Lúcio. Sente-se ali no fundo, estamos quase acabando a aula." - diz Snape.
"Precisamente." - diz meu pai. Snape continua a explicar sobre as propriedades da Poção do Amor como se meu pai não estivesse ali, mas eu pesco e nem percebo mais nada.
A aula acaba, e enquanto todos saem, Potter se senta ao meu lado, pois nós dois precisamos conversar com Snape, e percebo que ele está irritadinho como sempre. Típico grifinório.
"O que você está planejando agora, hein? Seu pai vai ser outra Dolores Umbridge? Hein? Porque o Dumbledore não vai tolerar isso. Assim que ele souber o que está acontecendo, ele vai acabar com essa palhaçada."
"Acredite em mim para variar, Potter. Não tive nada a ver com isso. Meu pai não é exatamente o vencedor na categoria "pai do ano", sabe? Geralmente ele só faz as coisas e depois me avisa", eu respondo, sem vontade de brigar.
"Hm. Ok", Potter murmura, não parecendo contente comigo não ter puxado briga ou comprovado as suas teorias de conspiração sobre minha família.
Enquanto meu pai se dirige á outra aula, me lançando um olhar duvidoso, Snape se pronuncia.
"Muito bem, vocês dois, comecem a se explicarem."
"Eles me provocaram, professor. Me xingaram de tudo quanto tipo de coisa. Tive que me defender! Foi um simples trava-língua!"
"E você, o que acha, Sr. Malfoy?"
"Não sei bem dizer, professor. Saí para tomar um ar, e quando voltei vi Julian segurando uma placa falando que Potter os havia enfeitiçado. Eu simplesmente desfiz a situação."
"Entendo. Como não foi nada tão grave, somente dessa vez irei lhe dar uma saída, Sr. Potter. Menos 30 pontos da Grifinória."
"Mas eu sou da Sonserina agora, professor."
"Ah sim, bom, 10 pontos da Sonserina."
"10? Mas você acabou de dizer 30 pontos, e..."
"Calado. Vocês dois estão dispensados."
Não aguentei. Na saída, ri alto.

Harry P.O.V
Quatro semanas antes:
Já faz duas semanas que estou aqui. Sem comer direito, sem ver ninguém além de gigantes mal-humorados que gritam e bebem alto. Eu não consigo mais distinguir realidade e ilusão.
"Ei, Harry." - diz uma voz conhecida. Em seguida, vejo seu corpo inteiro. Ele sai da escuridão do cofre e senta do meu lado.
"O que você está fazendo aqui, Draco?" - eu pergunto, de voz fraca. Não tenho nem forças para ficar bravo com ele. Não tenho forças para culpa-lo da minha situação ou ficar feliz por ver que ele realmente está do lado de Voldemort, que eu finalmente poderei confronta-lo. Não.
"Poderia te perguntar o mesmo, mas acho que já sei. Acho que Voldemort mandou te pegarem. Para te dar um susto. Acho que ele não quer te matar de imediato. Acho que quer te deixar fraco e sujo, implorando por sua vida." - diz Draco.
"Deve ser isso." - digo, me sentindo cada vez mais longe.
"E eu sinto muito." - diz Draco, de repente tão triste que não sei nem o que falar. Após alguns minutos, me forço a respondê-lo.
"Pelo quê? Foi você que ajudou os gigantes?" - pergunto.
"Não. Sinto muito por não conseguir tirar você daqui. Não sou forte o suficiente. Me desculpe." - diz Draco, agora chorando. Fico confuso. Isso é uma ilusão. Tem que ser. No entanto...
"Não chore. Não te culpo." - dito isso, eu o puxo para um beijo longo e demorado, me sentindo acordado.
Acordo depois com o gigante me entregando a carne nojenta.
Era só um sonho. E um muito estranho. Por quê meu coração está acelerado até agora?

MudançasOnde histórias criam vida. Descubra agora