Logrado esque-ser

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Eu adoraria beber,
Beber o álcool
Que arde a garganta
E inflama o sofrer,
Esquecer por um instante
Este infame ser.

Eu adoraria beber
Deixar que o pensamento
Voe; fugindo dos arames
Da adversidade; do ser

Ah, mas eu adoraria beber,
Esquecer por um segundo
Toda a frustração que faz doer

... eu já não quero mais beber
Um pé sobre o muro da fantasia
E as mãos na realidade; uma caneta,
Papéis, poemas; é, eu já não quero beber,
Toda a minha agonia jaz no
Escrever.

Sabe o que eu quero ser?
Não? Talvez nem eu;
No espelho embaçado;
Com os olhos de ressaca
Quase como os de quem bebeu,
Ali no espelho... sou eu?
A água lava a alma;
A fumaça invade o ser,
Tudo é estado de espírito,
Tudo que eu não quero ser

E a desventura; possível realidade,
Póstero que sei... me engano
Não me permito da verdade;
No espelho embaçado não há vaidade;
Perdido, como quem precisa de um abade,
Não, não, letargia, é.... letargia,
Talvez eu queira beber; não álcool,
Nem poesia,
E sim um instante de solidão;
Eu, mim, coração e pensamentos.

Decerto, o espelho reflete agora
O mesmo ser de outrora,
A rolha na garrafa volta agora,
Os pensamentos despejados na mesa
Retornam agora,
O martírio avulso vai embora;
Resta agora um escritor;
Uma caneta
Que repousa palavras ácidas
Em um papel sublime,
Voa do peito agora
E eu durmo em paz.

Entre Metáforas e UtopiasOnde histórias criam vida. Descubra agora