A atmosfera da parte baixa, é tão estranha e opressora quanto as fachadas dos prédios que se aglomeram aos montes por lá. Todos eles com sua característica mais marcante, o descaso. Para qualquer direção que se olhe quando se está na parte baixa, é fácil de se ver que ninguém mais se importa com o que acontece na área da qual os miseráveis e os traficantes vivem. É apenas um pedaço do purgatório na terra. Era nesse pedaço de purgatório, em meio a névoa da madrugada que o tão amado veículo de Ronaldo Madea se deslocava cada vez mais para o centro daquela região decrépita. Fazendo um contraste completamente desconexo com o ambiente ao redor, eles rumaram em direção a Avenida da Fortuna; No mundo inteiro não poderia existir uma avenida com um nome tão irônico.
- Lar doce lar - Ronaldo deu as boas-vindas a Samuel, que estava arrepiado vendo a quantidade de pessoas jogadas pelos cantos da avenida. Algumas se aquecendo precariamente em fogueiras improvisadas, outros fazendo uso de drogas e alguns poucos apenas observando o movimento da região. - O mesmo cheiro de crack de quando eu era criança, isso de certa forma é um tanto quanto nostálgico. - Ronaldo estacionou o carro em uma esquina de encruzilhada, ao lado de um imponente prédio que outrora em todo seu esplendor foi um prédio comercial, no entanto agora se mostrava apenas mais uma construção abandonada por seus antigos donos, mas não para os dependentes químicos da região.
- Eu não fazia ideia que esse lugar era tão terrível. - Samuel olhou pela janela e tentou contar a quantidade de andares do prédio ao seu lado, mas naquela posição isso se mostrou impossível.
- Cinco anos que você está em Drofmum cara - Ron apertou dois botões laterais no interior da porta e as duas janelas dianteiras se abriram. - Cinco anos e você nunca teve coragem de vir a parte mais antiga da cidade?
- É tão decepcionante assim não querer ser morto nas vielas desse fim de mundo? - Samuel retirou o sinto de segurança e guardou os seus pertences no porta-luvas do carro.
- O seu preconceito me da nojo - Ronaldo sorriu e virou-se para o banco de trás pegando duas das latas de cerveja que havia comprado mais cedo, ele abriu uma e entregou a outra para Samuel. - Beba - Disse ele já dando uma golada na própria lata. - Elas serão a sua melhor companhia essa noite.
- Se é pra cometer suicídio vindo até aqui, que seja pelo menos embriagado - Sam abriu sua lata e deu o primeiro gole na bebida. - Aliás o que estamos fazendo aqui afinal?
- Viemos ver o levante dos mortos. - Ronaldo Sorriu mais uma vez ingerindo mais um pouco da bebida.
- Você me arrasta pra essa merda de lugar e ainda vem com charadas pra cima de mim, você é um verdadeiro filho da puta sabia? - Samuel não obteve resposta.
A avenida da fortuna é uma avenida larga com lojas e mais lojas abandonadas por toda a sua extensão, há vários anos atrás era uma movimentada região comercial, mas agora não era nada mais do que uma avenida repleta de traficantes, usuários de drogas e prostitutas. Todos ali espalhados com o mesmo olhar de desconfiança para qualquer um de fora que viesse andar por ali, principalmente se fossem em um carro vermelho nada discreto com dois nítidos observadores. Ronaldo viu de longe um homem gordo de jaqueta bege, que ele identificou como um traficante, pegando pelo braço uma prostituta de cabelos negros, completamente destruída pelo consumo excessivo de drogas que estava sentada no chão, o suposto traficante começou a falar com ela gesticulando na direção do carro.
- Está vendo aquela fabrica no final da avenida? - Ron apontou o dedo para uma construção completamente desgastada pelo tempo, que nesse momento só era reconhecida como uma fabrica, pois em uma de suas extremidades havia uma chaminé pela metade. - Quando eu era criança, ali foi aonde eu vi o primeiro cadáver da minha vida.
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Vinho Quente
AdventureSamuel Nara é um jovem recluso que desenvolve problemas comportamentais e psicológicos ao ter um termino forçado com sua Ex-namorada Michelle. Sua vida se torna um poço de amargura com o passar do tempo, mas tudo está fadado a mudar quando ele se e...