Clara Jones: Inacreditável

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   Seus olhos eram os mais lindos, ele estava ali, de verdade, ele estava. O que disse foi...que era diferente quando estava comigo. Será que eu devia me entregar? Deveria confiar nele?
- Ben, eu não sei o que dizer, eu me sinto estranha também. Quando estou com você... Minha mente se esvazia e...as vozes se vão.
- Que vozes?
- As que eu escuto dentro da minha cabeça, na verdade, são só pessoas que me machucaram e... - olhei para o chão, não queria chorar, não agora.
- Tudo bem Clara, isso não vai mais acontecer, por que eu não vou deixar. - ele se levantou e foi até o carro, trouxe uma cesta, sentou-se e tirou dois sanduíches e duas latas de refrigerante. - está com fome?
- Sim. Muita. Não jantei hoje a noite.
- Por quê?
- Não tinha nada para comer e... - deveria falar sobre minha mãe?
- Você nunca completa as frases, não sei se gosto disso. Coma isso. - me entregou um sanduíche - por falar nisso, Lucy quer que você vá jantar na minha casa amanhã.
- Sério? Tudo bem... Que horas?
- As 20hrs.
- Ben...por que você não a chama de mãe? Na verdade por que você a odeia tanto, ela parecia tão... Legal para mim.
- Não sei. - ele fitou meus olhos - quando eu era criança, meu pai...chegava bêbado em casa, todas as noites e ele batia muito na Lucy e em mim também, foi com ele que aprendi a odia-la.
- Nossa Ben...eu...sinto muito.-coloquei minha mão sobre a dele.
- Não sinta, não vale a pena.
- Mas...a culpa não é da sua mãe... Por quê a trata assim?
- Porque eu sofri, e eu quero que ela sofra, na verdade quero que todos sofram, por mim todos seriam torturados até a morte.- ele tirou minha mão de sobre a dele. Levantou-se e começou a jogar pedras no lago, fiquei sentada por um tempo pensando em qual seria meu próximo passo, então levantei e fui até ele.
- E onde ele esta agora?
- Na cadeia. - ele se virou para mim - eu queria visita-lo mas Lucy não deixa...as vezes eu quero matar-la, mas sei que não posso.
- Ben, você já procurou um psicólogo?
- Sim Clara. Eu tenho consulta duas vezes por semana, comecei a ir depois da expulsão da escola. - ele chegou mais perto, e me olhou bem nos meus olhos, não desviava. - mas não foi para falar sobre isso que lhe trouxe aqui.
- Então... Para que foi - engoli em seco, eu estava nervosa e suando, ele estava muito perto.
- Eu queria dizer que eu vou me entregar. - passou a mão no meu cabelo - me entregar a você.
- Co...mo...assim?
- Eu não sei o que é isso, mas eu gosto de estar com você, você é a única pessoa que eu quero manter viva. Clara. Eu a salvarei de si mesma.
    O que ele queria dizer com isso? Se entregar a mim? Isso quer dizer que ele gosta de mim? Ninguém nunca gostou de mim... Isso não esta acontecendo. Ben jamais se apaixo...
- O que eu faço agora? - disse interrompendo meus pensamentos.
- Como assim? - ri
- Eu tenho que... Beijar você? - me beijar? Eu...nunca tinha beijado ninguém... Como assim?
- Eu não sei..a..acho que sim.
- Não sei se gosto disso...você já beijou alguem?
- Não. Você já?
- Não. - ele ficou um tempo pensando. Eu estava mais nervosa, senti um frio na espinha. - Mas...ja que esse é o próximo passo...

    Ele se aproximou lentamente e colocou suas mãos em volta da minha cintura, eu não sabia o que fazer então, fiquei parada. Fechei os olhos, primeiro um toque, seus lábios eram quentes, diferente do resto do seu corpo, ele beijou de leve minha boca. Parou. Eu não abri meus olhos estava envergonhada. Ele voltou a encostar a sua boca na minha, agora foi mais intenso, ele me puxou para perto do seu corpo, agora eu já não tinha mais medo, coloquei meus braços em volta do seu pescoço, nossos corpos trocavam calor, eu não sabia o que estava fazendo, só me entreguei em seus braços e me deixei levar.

    Estava quase amanhecendo, Ben estava na minha cama... Foi a melhor noite da minha vida, ele tinha me levado para a casa, eu o deixei entrar, estávamos só nós dois, ficamos no meu quarto, tudo que fizemos foi nos beijar a madrugada inteira, eu não estava prepara para um algo a mais, ainda não...
- Clara. Você... Você quer namorar comigo?
- Mas...nós só nos conhecemos a dois dias...
-Bom. Você que sabe.
- Quero. - ele me abraçou e ficamos ali. Sem vozes. Nem dor. Eu não tinha mais medo. Eu iria me entregar, eu precisava de Ben, e eu queria ele. Ali comigo. Dormindo.

    Acordei e ele estava ali, do meu lado, a luz do sol batia em seu rosto o tornando mais branco, sorri. Meu Deus! Eu tinha um namorado! "Olha para você! Ridícula! As pessoas tem medo de você Clara!" Seus olhos se abriram, a luz fazia com que eles brilhassem mais, ele sorriu e me abraçou. 6hrs30min, precisávamos levantar, mas eu não queria, estava tão bom...assim. Levantamos, eu fui tomar banho, Ben desceu, não me importei, entrei debaixo do chuveiro e... Minha mãe! Como ela reagiria a isso!? Tinha que sair antes que ela chegasse. Troquei de roupa e desci. Onde estava Ben?
- Ben? Onde está você?
- Aqui. - fui até a cozinha, ele estava parado em frente a geladeira. - não tem nada na geladeira, nem nos armários. - ele me olhou - o que vamos comer?
- Não sei. Mas...Ben acho melhor você ir para casa minha mãe pode chegar a qualquer momento. - fechou a geladeira e veio em minha direção, beijou minha testa devagar e disse.
- Tudo bem Clara. - e se dirigiu para a porta mas...era tarde de mais. Minha mãe entrou pela porta e se deparou com Ben, ele ficou parado na frente dela, cheguei mais perto.
- O...oi mãe. E...esse é o Ben.
- Oi. - disse Ben, nada formal.
- Oi. O que está fazendo aqui?
- Eu sou namorado da Clara. - "namorado" minha nossa, essa palavra parecia nova para mim.
- Clara não me disse que tinha um namorado.
- E você se importa com isso? - ela o olhou com desprezo, ele não deveria ter dito isso.
- Saia daqui. Agora.
- Eu já estava fazendo isso. - Ele voltou e me deu um beijo, abriu a porta e se foi.

    Minha mãe se aproximou de mim, eu sabia o que ia acontecer mas, quer saber? Ela leva um monte de homem para nossa casa e eu não digo nada, ela não vai estragar minha felicidade.
- Quando vocês começaram a namorar?
- Hoje - respondi
- E quem deixou você traze-lo para a minha casa?
- Achei que eu pudesse.
- Achou errado. Nunca mais quero ve-lo aqui. Entendeu?
- Sim.
    E saiu. Fui me arrumar para a escola. Agora eu tinha um namorado. Deixe de ser boba Clara, isso não é uma coisa do outro mundo. Mas eu estava feliz, em anos a felicidade resolveu bater em minha porta e abri, e não a deixaria ir embora, nunca mais. Silêncio.

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