Passei o resto do dia ajudando Lucy com o jantar, ela não foi trabalhar hoje, Lucy trabalha em uma corretora de imóveis, ela ganha muito bem, mas é muito controladora com dinheiro, ela nunca me da um centavo, se eu quiser alguma coisa, eu tenho que pedir. Nós não tínhamos facas em casa, não sei por que, mas Lucy disse que era para ninguém se machucar, é como se ela lesse meus pensamentos, então não comiamos carne, sempre legumes, sopas, pizza, nada que precisasse cortar ou pegar com garfo, hoje ela estava preparando uma salada verde para a entrada, para o prato principal arroz, com purê de batata e uns pedaços de carne em cubos que ela já comprou pronto e para a sobremesa um mousse de limão, que para ser sincero era o meu preferido.
Eram quase 20hrs tinha que me arrumar, vesti minha blusa de manga longa preta, coloquei minha calça de sempre e calcei meu tênis que ganhei no natal, até que gostava dele, desci e Lucy já estava pronta, ela usava um vestido preto horrível, mas prefiri ficar quieto.
- Você quer ir busca-la? - disse me entregando a chave do carro, será que ela bebeu?
- Não posso. A mãe dela não deixaria eu traze-la. Você tem que ir.
- Mas por que ela não deixaria?
- Eu e Clara estamos namorando e a mãe dela não gosta muito de mim. - Lucy deu um sorriso enorme, acho que ela estava surpresa, bom, não queria me estressar, então fiquei só nos meus pensamentos.
- Mas isso é maravilhoso filho - ela me abraçou, eu queria empurra-la mas pensei em Clara, não queria que desse nada errado, deixei-a me abraçar, mas não correspondi.
- É. Agora vamos.
Chegamos a casa dela, fui até a porta e bati, não tinha campainha, a mãe dela abriu, me olhou dos pés a cabeça e disse:
- O que está fazendo aqui? Vá embora.
- Boa noite - Lucy apareceu - vim buscar Clara para jantar conosco essa noite.
- Ela não pode sair.
- É que já tínhamos combinado e eu já preparei tudo, por favor só essa noite, eu cuidarei bem dela. - a mãe de Clara acabou cedendo, eu entrei e a esperei na sala, em frente a escada tinha uma espelho, me vi e nossa, eu tinha uma aparência estranha, na minha casa não tinha espelhos, então é assim que eu sou. Gostei.
Clara vinha descendo, ela estava...linda. Nossa eu nunca a vi assim, ela estava com um vestido azul, não gosto dessa cor, mas ficou lindo nela. Ela brilhava como nunca vi, agora sim, seu nome fazia sentindo.
- Você está linda. - eu a girei. E era mesmo verdade.
- Obrigado Ben, você também está.
- Vamos. - eu a segurei pelo braço e saimos. Lucy esperava dentro do carro, ela a cumprimentou, abria a porta e ela se acomodou no banco de trás.
A mesa estava bem organizada, três pratos, colheres, não vi garfos nem facas, no meio da mesa uma salada verde muito bonita, varias travessas, arroz, purê de batata, e carne em cubo. A última vez que eu comi assim foi no casamento do meu pai. Lucy estava linda, ela usava um vestido preto, muito alinhado. A casa de Ben era linda, tinha uma decoração moderna com um toque antigo, era incrível. Sentei na cadeira ao lado de Ben, Lucy serviu a salada, eu tive um pouco de dificuldade em comer com a colher, mas não queria ser mal educada.
- Desculpe querida por ter que fazer você comer a salada de colher.
- Tudo bem Dona Lucy.
- Tudo bem nada, não sei para que essa besteira de não termos garfos nem facas nessa casa. - disse Ben.
- Por mim esta tudo bem. A salada esta uma delícia.
- Fico feliz que tenha gostado. Ben que me ajudou a fazer.
- Nossa. Não sabia que cozinhava Ben.
- Não fiz nada além de colocar a salada na travessa. - disse indiferente.
Depois de comermos a salada e o prato principal, Dona Lucy trouxe a sobremesa, era um mousse de limão, eu não gosto muito desse sabor, mas comi tudo, não queria causar uma má impressão. Logo após o jantar fomos para a sala, Ben sentou-se ao meu lado e colocou seu braço sobre meu ombro.
- Então Clara, em que ano você esta? - pergunta Dona Lucy
- No segundo ano do ensino médio.
- Nossa que bom. E você pretende ir para a universidade?
- Bom...esses não são meus planos. Pra ser bem sincera, acho que minhas notas não são tão boas para isso.
- Ben é ótimo em todas as matérias, ele pode lhe ajudar, assim vocês passam um tempo mais juntos.
- É. Pode ser. - apoiei minha cabeça no seu braço.
- Eu vou no banheiro, volto já - disse Ben. Se levantou e saiu. A Dona Lucy me olhou estranho, e como se verificasse se Ben realmente tinha saido, disse:
- Clara eu realmente estou muito felizes por vocês. Você não tem noção do quanto lhe sou grata.
- Mas Dona Lucy, eu não estou fazendo nada, é que realmente gosto dele.
- É que...Ben é um pouco difícil sabe, eu me preocupo muito com ele - ela começou a chorar - aconteceram muitas coisas com Ben em relação ao pai dele, e ele acha que eu sou culpada. - Fui até ela e a abracei, ela chorava muito - Clara preciso lhe contar um coisa.
- Pode falar Dona Lucy.
- Ben tem...índice de psicopatia, ele gosta de machucar as pessoas, ele sente prazer nisso, ele é frio, não sabe quando as pessoas estão com medo dele... - ela agora olhava para mim - quando ele disse que passou a noite na sua casa, eu fiquei muito preocupada. Mas...ele parece que gosta mesmo de você, a Dra. Hill, a psicóloga dele, disse que se fosse comprovado que Ben realmente é um psicopata, ele seria incapaz de sentir algo por alguém. - me assustei, como assim Ben é um psicopata?
- Mas...ele nasceu assim?
- Não... Eu...eu gostaria de conversar melhor com você sobre isso. Você pode jantar comigo amanhã?
- Por mim tudo bem.
- Sobre o que vocês estão conversando? - Ben apareceu do nada, Dona Lucy se levantou rápido e saiu.
- Sobre o jantar. Ben, você não quer me mostrar seu quarto? - falei me levantando.
- Pode ser.
O quarto dele era um tanto estranho, tinha uns posters de filmes de terror, as paredes eram de um vermelho sangue, nada de espelhos, ao lado da cama havia um computador, era um quarto bem organizado.
- Vem, vamos para o telhado. - o vi pegar duas garrafas de cerveja em um pequeno frigobar no canto. Subimos, eu me sentia tentada a perguntar para ele sobre as coisas que a Dona Lucy havia me contado, mas...será que ele tinha alguma noção sobre isso? Quando o vi batendo em Mark, ele parecia não ouvir seus pedidos para que parasse...será que ele era mesmo um...Adoro subir no telhado, quando não posso ir para o lago, é aqui que eu fico e agora, ela já conhece meus dois lugares preferidos, acho que estou envolvido demais, eu não sei como cheguei a isso, um dia eu estavamos no ônibus e no outro já estávamos no quarto dela, esses sentimentos eram tão intensos. Olhei para ela, não sabia o que dizer, então falei qualquer coisa.
- Então, qual o nome da sua mãe?
- Abigail. Abigail Jones.
- E eu tenho que chama-la por qual dos dois nomes? - ela riu. Não sei o que falei de engraçado.
- Acho que de Sra. Jones.
- Legal. - ela chegou mais perto e apoiou a cabeça no meu ombro, ela tinha feito a mesma coisa lá em baixo, não gostei, mas agora não posso ir para o banheiro de novo. Deixei- a ficar, ela tinha um cheiro doce, não era o mesmo cheiro da noite em que a levei no lago, acho que ela deve ter passado perfume, eu não gostei desse cheiro. - você passou perfume?
- Sim. Por quê?
- Porque você está com um cheiro...diferente.
- Na verdade esse perfume é da minha mãe... Ela nem sabe que eu peguei.
- Sua mãe é estranha, eu não gostei dela. Ela faz parte da sua escuridão, não faz?
- Sim. Ela faz. - levantou a cabeça e me olhou. - Ela...não é uma boa mãe, ela não liga para mim, não se importa com meus sentimentos, acho que ela pensa que a culpa do meu pai ter ido embora é minha e as vezes eu também penso.
- Por que seu pai foi embora?
- É uma longa história.
- Conte.
- Eu fui meio que um acidente, meus pais se conheceram em uma festa, e acabou que minha mãe ficou grávida, mas meu pai me assumiu, ele foi ótimo, cuidou dela e quando eu nasci ele foi incrível, ele me amava de verdade, eu era feliz naquele tempo, mas minha mãe começou a trai-lo e ele sabia disso mais ele aguentou por mim, eles brigavam muito, mas meu pai fazia questão de me deixar fora daquilo, ele me levava a parques e para tomar sorvetes, me fazia sorrir... - ela começou a chorar, eu comecei a ver a sua escuridão total, como era imensa e já se agravava dentro dela, eu tenho que salva-la, não posso perde-la. - Então um dia eu cheguei em casa e ele não estava mais lá - as lagrimas desciam como uma queda d'água - em cima da minha cama tinha uma carta, nela dizia que ele me amava, mas não podia continuar assim...então ele se foi.
- Mas isso não foi culpa sua. Se alguém tem culpa é sua mãe, na verdade a culpa é toda dela.
- Talvez, mas não para ela. Ela diz que ele foi embora porque eu era uma filha ruim e que se pudesse ela também teria ido. - Ela se derramava em lágrimas e eu estava colhendo cada uma e as transformando em ódio. Abigail Jones. Você acaba de entrar para a minha lista, cuidarei para que você sofra tanto quanto você está fazendo Clara sofrer. Dor.
- Não se preucupe Clara, isso não vai durar .muito tempo. Venha aqui. - eu a abracei e lhe dei um beijo e depois, não conseguia mais parar.Cheguei em casa tão feliz, Ben tinha sido incrível, ficamos no telhado e eu lhe contei minha história, ele me abraçou e ficamos ali, sem vozes, só eu e ele, queria que Ben sempre estivesse por perto, assim eu não precisaria me preocupar com essas vozes, nem com minha mãe, nem com as outras pessoas, seriamos só eu e ele.
- Então. Você chegou. - minha mãe estava no sofá, ela estava esperando por mim, senti uma onda de pânico me invadir, por favor, não estrague minha felicidade.
- Sim.
- Esse...esse vestido é o que seu pai lhe deu?
- Sim.
- Venha até aqui. - exitei. - Você não ouviu. - Dei passos curtos, eu estava com medo.
- O que vai fazer?
- Tire esse vestido.
- Já vou tira-lo, lá no quarto.
- Não. Você vai tira-lo aqui.
- Não mãe. Por favor.
- Não? - ela se levantou e começou a tentar tira-lo a força, eu tentei correr mais ela me puxou e rasgou a manga, depois a outra, logo meu vestido se desfez. Comecei a chorar, um ódio me tomou, então as palavras vinha como uma enchente.
- Sua estupida! Eu te odeio! Eu quero que você morra! Sua desgraçada! - Ela me deu um tapa.
- Cale essa sua boca e suma da minha frente.
- Vadia. É isso que você é. Uma vadia. - Sai correndo para o quarto, me joguei na cama e chorei, chorei como se minha dor não tivesse fim, aquela mão estava apertando meu peito, a mão do vazio, a mão da escuridão. "Coloque um fim a isso', " Morra garota, ninguém aqui precisa de você", "Fique viva", "Eu vou salva-la de você mesma" "Não se preocupe Clara, isso não vai durar muito tempo". Vozes. Muitas vozes. Dor. Vazio. Escuridão. Um, dois, três cortes. Sangue. Depois. Mais nada.
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Blood
DragosteA quem diga que o amor é uma arma poderosa. Mas a verdade é que as pessoas não sabem usa-lo. Nesse livro, você vai descobrir quem é mais forte. O amor ou a morte. Entenda a mente de Clara e seu oposto Benjamin. Sem dor. Nem vozes.