Prólogo

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Cristiano

A semana que antecede a um jogo importante, contra um adversário de peso, sempre é puxada.

Treinos e treinos, trabalho pesado e meu quadril pra variar, anda incomodando, preciso parar pra ver isso, mas o time e o campeonato vêm em primeiro lugar, isso pode esperar. Tento não pensar muito e me jogo nos treinos, dando o meu melhor, afinal ser convocado pra fazer parte do time da seleção Brasileira, é sempre uma honra ao jogador, aos 28 anos, e dois mundiais disputados, estou no auge e essa disputa merece meu sangue, não vai ser um quadril incomodando que irá me impedir.

Essa vaga para a Copa, maior campeonato mundial, é muito importante para cada brasileiro, e infelizmente a seleção não se encontra numa posição confortável, o professor, como chamamos nosso técnico, está exigindo o máximo de cada um de nós.

Depois do treino puxado, exausto vou ao vestiário, comemorando e rindo com meus companheiros de equipe. Hugo Lima, meu companheiro e amigo de anos, percebe meu leve mancar...

― Cris, o que o professor falou sobre esse quadril, cara? ― Pergunta preocupado, o que me deixa sem graça, pensei que ninguém havia reparado, merda!

― Está tudo certo, cara. ― Puta merda, sei que não adianta falar, o cara é um pé no saco, bufo.

― Meu! Você precisa passar pelo médico! Eu sei que essa po.rra está doendo! ― fala furioso.

― Me deixa, cara! ― tento disfarçar o nervoso ― Qual é! Sei que estou bem, irmão! ― dou uns tapinhas em seus ombros e me viro para o armário.

― Pessoal, hoje tem festinha na cada do Tod, despedida antes da concentração. ― Ricardo grita, convidando para mais uma festinha famosas dos jogadores, regadas a bebidas, mulheres e muito se.xo.

― Tô fora! ― Respondo orgulhoso. ― Milena me aguarda ansiosa hoje, pra uma noite a dois, bem intima, sabem como é?

A turma zoa, como sempre, quando um cara é comprometido, mas Milena é minha noiva, minha mulher, minha metade, enfim, a mulher que escolhi pra minha vida, o amor que sentimos é coisa rara e não pretendo jogar fora, com festinhas de macho que pensa que ter bu.ceta a vontade é vida, e a minha Milena, aceitou meu pedido há poucos meses, estamos juntos há dois anos, a conheci num desses eventos esportivos e ela era a modelo anfitriã, linda, morena, alta e com um rostinho de anjo, me enfeitiçou no ato e me vi babando que nem um bobo por ela, eu no auge da minha carreira, com todas mulheres do mundo aos meus pés, e me encantei com uma mulher em inicio de carreira que me ganhou num simples sorriso.

Hoje, seu trabalho e o meu definitivamente não conversam, e para ficarmos juntos, resolvemos morar juntos, e ela aceitou, desde que oficializássemos a união, e assim que esse campeonato acabar, estaremos juntos e casados na Europa, que é onde trabalho e moro.

― Ah o apaixonado, fisgado! ― Grita Rogério do chuveiro ― Cara! Aproveita enquanto não se amarra de vez! ― todos concordam e começam novamente a zuação com minha condição de "casado", mas não me importo, pra mim a seleção, e minha mulher são prioridades, são meu coração e vão continuar assim.

***

O dia do jogo chega, a concentração do time antes da partida é grande, no vestiário, o nervosismo é geral e um peso paira sobre os jogadores e comissão técnica, estamos numa situação delicada e só temos duas opções ― ganhar ou ganhar! ― Soltamos nosso grito de guerra e corremos ao campo, olho para meu amigo Hugo e percebo seu semblante fechado, ele também está sentindo a pressão.

A partida está difícil, o adversário detém a vantagem, os nervos estão aflorados, confusões a cada falta, o juiz agitado, quando pela primeira vez em campo, tenho a oportunidade de fazer o gol da partida, espero Hugo passar a jogada, domino a bola, giro o corpo e então sinto ― a pancada que acabaria com a minha vida ― Dor toma conta do meu lado esquerdo, sobre meu quadril dolorido e caio, não consigo nem mexer, bile sobe pela minha garganta, um enjoo forte se mistura a dor, ouço a confusão a minha volta, Hugo gritando meu nome, olho seus olhos assombrados e caio num vazio escuro.

Acordo no Hospital com dores pelo corpo todo, caramba! O que sofri não foi uma falta, foi um atentado! Olho em torno e vejo Milena e Hugo conversando baixinho num canto do quarto.

―Ei, estou aqui, não me veem? ― tento brincar, mas gemo com a dor lancinante em minha perna esquerda.

― Cris! Amor! ― Milena é a primeira se aproximar e vejo pelo seu rosto lindo que andou chorando, e isso aperta meu coração.

― Ei, calma vida, estou bem! Logo me consertam e estarei pronto pra outra! ― limpo sua face ― E o jogo? Ganhamos, campeão? ― mudo o foco para Hugo, ver Milena naquele estado, mexe comigo.

― Ganhamos. Jogamos por você cara, agora faça a sua parte de agradecer e ficar bom logo. ― batemos as mãos no nosso cumprimento usual, mas vejo uma sombra, um medo em seus olhos que me esfria a coluna.

Gemo forte, ao tentar acertar o corpo na cama, e percebo minha perna presa a uma espécie de peso! Que diabos aconteceu?!

― Cara! Cadê a po.rra do médico?! ― Grito para Hugo ― O que dia.bos aconteceu?!

― Cris, calma! ― Hugo aperta o botão de emergência, e duas enfermeiras entram rápido.

― Eu não disse enfermeiras! Cadê a po.rra do médico? Cadê Gustavo? ― Gustavo é o médico da seleção, ele com certeza sabe que droga esta havendo comigo e por que dessa dor desgraçada, grito mais alto, e vejo Milena chorando no canto, tento me controlar, mas impossível. Essa dor vai me matar, ou eu me mato pessoalmente!

Dr. Gustavo finalmente entra no quarto, acompanhado de três médicos desconhecidos pra mim, os apresenta e ali naquele leito, naquela cama de hospital, descubro que metade do meu coração havia sido arrancado de mim, por ter omitido a dor no quadril, eu desenvolvi uma osteopenia precoce, um desgaste no osso do fêmur, e a pancada da falta quase criminosa que levei do adversário, praticamente explodiu meu fêmur, e parte da bacia, era o fim pra mim.

Naquele dia, metade de mim se foi... não poderia atuar como jogador profissional mais.

Tempos depois, a outra metade do meu coração se foi, me deixando só, vazio, desacreditado, fodido.

Milena não aguentou a pressão de ter ao seu lado, um aleijado, meses de fisioterapias, cirurgias e muito trabalho, definitivamente não combinavam com o mundo de glamour dela.

Perdi meu coração inteiro.

Ganhei determinação, me coloquei de pé, com um único pensamento na cabeça, jamais me envolver com mulher alguma, desde o dia em que pude andar novamente, até o dia que morrer elas serão pra mim, meros instrumentos de prazer... mais nada.

****

Amores,

Em breve estaremos novamente juntas nessa nova aventura! 

bjokas!

Ali.

Regras do Desejo - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora