Capítulo 4 - Ladra

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ATENÇÃO! As imagens deste capítulo foram editadas para o livro Reich - entre vampiros e deuses e estão protegidas. Não devem ser copiadas para outros fins que não estejam relacionadas a Reich.


Um fato sobre mim: eu odiava o verão. Sempre odiei e sempre odiaria. Perdoem-me os adoradores do sol, mas eu preferia o frescor da noite. Aquele calor escaldante só poderia ser algum castigo divino! Morava em um país tropical, não no deserto do Saara, mas o suor escorria pelo meu pescoço, deixando-o tão grudento, que sentia meus cabelos se aderirem à pele. Por que meu quarto parecia uma fornalha? Estava tão quente, que não tinha forças para abrir os olhos. Afundei mais no travesseiro, algo me incomodava demais naquela manhã e eu não sabia o quê... Não até me lembrar da noite anterior.

Abri as pálpebras e me sentei na cama de supetão, checando os arredores. A varanda estava aberta, com as cortinas amarelas balançando pelo vento quente que vinha da rua e a mesa de cabeceira continuava com o abajur em forma de ninja que ganhei da minha prima Cecília no Natal passado. Uma garrafa plástica de água vazia encontrava-se jogada no chão de porcelanato marfim, coberto de pegadas de terra seca. Meu Deus! Coitados dos meus lençóis, cheios de terra e fuligem. Os papéis e recortes de jornal que cobriam a mesinha do notebook foram revirados. O guarda-roupa e a porta do banheiro escancaradas, com roupas caídas no chão e penduradas na minha cadeira de madeira. Eu fiz aquela bagunça, ou um furacão passou por ali?

Joguei-me para trás, de volta para o travesseiro macio que, até a noite anterior, era branco. O que aconteceu não podia ser real, podia? Claro que não, vampiros não existiam! Coloquei a mão em meu peito e senti a pulsação firme. A luz do sol entrava pela varanda e tocava o início da minha cama. Estiquei-me no colchão até que meus dedos sujos estivessem banhados pela luz solar, não sentindo nada além do costumeiro calor. Tinha certeza que era cem por cento Homo sapiens, se eu fosse metade qualquer coisa, seria parte humana e o resto pura paranoia. Precisava analisar calmamente os fatos.

Andando de um lado para o outro do quarto, discuti comigo mesma.

Vampiros não existem.

Ótimo argumento, concordava plenamente.

O coração dele começou a bater depois que o sol se pôs.

Hum... devia haver alguma explicação científica para aquilo. Talvez Cecília me ajudasse, ela era a cientista da família. Já sei! Ele poderia ter aquela doença que a pessoa parece morta, como uma paralisia. Qual era o nome mesmo? Ah, catalepsia! Isso, ele tinha catalepsia.

E o fato de nós dois sermos mais fortes e mais rápidos do que outras pessoas?

Droga, será que a desculpa do espinafre só funcionaria para marinheiros? Olhei para a minha cortina blecaute, aquela coisa horrorosa com frente branca e verso cinza, feita para impedir toda a entrada do sol, mas estava entreaberta, escondida pela cortina de voil amarelo com arabescos. A verdade era que minha pele estava começando a arder com o sol sobre ela e eu queria correr até a janela e fechá-la, mas era teimosa demais para admitir que naquela manhã em específico estava incomodando mais do que nos outros dias...

Vampiros não existem!

Relembrei meu único argumento consistente, aquele que me mantinha presa à sanidade. Suspirei pesadamente e fui arrastando os pés até o banheiro, mas parei para recolher as blusas e calças do chão. Lembrava de procurar uma camisola e, ao não encontrar, terminei adormecendo com o vestido que usei no Reich. Vestido este que ainda tinha o perfume de Heinz impregnado nele. Era uma fragrância sutil, uma mistura de um perfume caro que eu não conhecia e o aroma de sua pele. Seria imperceptível para um olfato comum, ainda mais embaixo de todo aquele odor de fumaça, mas não para o meu. Joguei a porcaria no lixo e entrei na água fria sem nem me olhar no espelho, tinha medo do que meu reflexo revelaria.

Reich - AMOSTRA DA 2ª EDIÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora