Capítulo 4

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_ Claro que sim, Márcio! Eu é que peço desculpas pelo transtorno.

_ Transtorno nenhum. Você é muito especial. Eu não a deixaria perdida por aí. Não consigo nem imaginar você sozinha nesta cidade. _ E ele fechou os olhos, por um instante, o que me deixou mais nervosa em pensar as coisas que poderiam ter me acontecido desde assalto, assassinato, sei lá... _ Graças a Deus, eu estava no lugar certo e na hora certa. _ Olhou novamente para mim rapidamente. Parecia realmente preocupado.

_ Cláudia... você.... _ ele hesitou e não continuou.

_ Diga... _ tentei encorajá-lo e fiquei olhando para ele, esperando.

_ Deixa pra lá! _ Ele disse, balançando a cabeça.

_ De jeito nenhum. Vou ficar aqui imaginando mil e uma coisas. Não é justo! Nunca tivemos segredos antes, por que isso agora? _ Tentei parecer natural ao mencionar o passado que, de claro, sem segredos, não tinha nada.

_ Você já havia pensado em como seria nosso reencontro? Ou quando seria? _ Ele pareceu envergonhado, pois dessa vez não olhou pra mim.

_ Não _ menti para ele. _ Você seguiu seu caminho. Eu segui o meu. Raramente nos falamos por telefone ou mensagens de família. Até achei que você não queria me reencontrar.

Ele me olhou magoado. Pelo menos foi isso que eu li em seus olhos.

Chegamos em um prédio belíssimo. Estacionamos. Retiramos a bagagem. Márcio tentou ligar antes de subirmos. Tentou mais umas três vezes. Ninguém atendeu.

Provavelmente não havia ninguém. O que, segundo ele, era um verdadeiro milagre, pois a quantidade de gente querendo relaxar lá era grande. Ele disse que eram pessoas que trabalhavam demais e precisavam daquele lugar. Pensei em um monte de velhos, gordos e estressados. Lendo jornal ou dormindo o dia inteiro.

_ Posso te pedir uma coisa? _ Ele me disse baixinho.

_ Claro que sim.

_ Poderia ficar perto de mim? Quero dizer, não quero ninguém dando em cima de você ou pensando o que não deve. Não consegui avisar a ninguém. Pode até ser que não tenha ninguém em casa. Mas, por via das dúvidas... Pelo menos, até eu explicar a situação _ ele olhava para o chão e para mim, totalmente sem jeito.

Engraçado! Eu deveria estar mais nervosa que ele. Mas... era praticamente impossível. Ele estava muito sem graça. Eu já estava me questionando se era realmente necessário fazê-lo passar por aquilo.
E se ele fosse expulso do apartamento por quebrar essa regra? Eu nem queria pensar nisso.

Subimos. Ele carregava minha mala e a dele. Chegamos na cobertura. Ele abriu a porta. Tive que me segurar para não suspirar com a beleza do lugar. Discreto, realmente, com pouca mobília. Porém, opulento. De muito bom gosto.

Ele levou a nossa bagagem para um quarto. Devia ser o quarto dele ou realmente não havia ninguém em casa. Ele pediu que eu esperasse um instante e foi até a área externa. Demorou a voltar. Presumi que ele havia encontrado alguém e estava explicando o motivo de ter me levado para lá.

Conhecendo Márcio como eu conhecia, se minha presença não fosse permitida, ele sairia para procurar um hotel comigo e dormiria lá também. Ou será que ele havia mudado? Não conseguia nem pensar no que poderia acontecer...

E foi perdida em pensamentos negativos que ele me encontrou quando retornou ao quarto.

_ Vamos? _ Estendia a mão e sorria.

_ Posso acreditar que está tudo bem? – Perguntei, franzindo a testa e mordendo o lábio inferior por dentro. Mania que estava me deixando com um gosto de sangue na boca.

_ Venha conhecer o pessoal. E, quando for dormir, por favor, tranque a porta.
_ Ele realmente estava sério? Não deu tempo pra verificar.

Saímos em uma área externa, separada por uma porta de vidro. O vidro bloqueava todo o barulho para dentro do apartamento, pois a festa estava rolando solta lá fora.

Totalmente diferente do clima do lado de dentro.

Se algum dia eu tivesse achado que seria atriz, aquele dia foi o teste final para o papel principal. Estava claro que eram pessoas que trabalhavam muito... Só havia famosos... Fiquei sem fôlego, pálida, rosto quente. Sei lá. As pernas tremiam. Eu simplesmente era tiete de todos que estavam lá. Como não dar bandeira?
Márcio me puxou pela mão. Eu não conseguia falar nada.

_ Cláudia, gostaria de te apresentar meus amigos _ alguém fez o favor de abaixar o volume da música. Não que eu me importasse. _ Carlos, Fernando, Bruno, César, Gustavo, Cristiano, Henrique, Lauro, Jaime e Juan. Pessoal, esta é a Cláudia, uma grande amiga minha.

Eu tive quase certeza que estava sendo analisada por um longo instante. Será que minha roupa estava rasgada? Eu conferi: calça preta de algodão, camisa de manga curta preta, cinto dourado, bota preta com salto dourado. Tudo parecia normal. Será que o desodorante estava vencido? Será que...

_ Oi, Cláudia. Desculpe a nossa reação. É que trata-se de uma situação fora do normal para nós. Pelo menos, aqui... Fique à vontade.

Então, todos começaram a falar ao mesmo tempo, apertando minha mão e me abraçando. Alguém aumentou o volume novamente e vieram me servir churrasco. Se havia algo fora do normal, não deixaram transparecer.
Na minha cabeça, eu só pensava: Como eu vou sair daqui com autógrafos e fotos, sem passar vergonha? Como eu vou contar isso? Será que vão acreditar? Será que eu vou poder contar? Será que eu vou desmaiar?

Um grupo dançava na beira da piscina. Outro grupo jogava video game. Outro grupo cuidava da carne e outros serviam a bebida. Interessante!

Mas não pude deixar de pensar: Será que essas pessoas ajudavam assim em suas casas? Será que se revezavam com as esposas ou com os familiares na hora de servir os convidados, ou eram tratados como estrelas em casa?

A CASA RICA (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora