Capítulo 10

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O sábado foi um dia simplesmente espetacular. Começamos o dia em um almoço na casa de um famoso. Lá, muitos empresários e outros famosos claramente fechavam negócios. Várias apresentações se seguiam uma após a outra. Parecia uma vitrine. Cheguei a me questionar se aqueles artistas realmente estavam ali por diversão. Principalmente os menos famosos. Parecia realmente que estavam mostrando seu trabalho disfarçado de diversão.

Mas resolvi não pensar nisso. Esse era o mundo deles. Não o meu. Se era trabalho ou diversão, dava tudo no mesmo. Para mim, tudo era diversão.

O sertanejo se destacava. Cantei muito, dancei muito. Conheci muitos artistas amigos dos meninos. Tive que me segurar para não dar vexame.

Fotos, tirei muitas. Como iria mostrar? Ainda não sabia.

Os meninos e o Márcio faziam o possível para não parecer algo que não era. Havia muitas mulheres lá. Muitas mesmo. E nem todas eram artistas. E elas não me olhavam com bons olhos. Márcio não me deixou sozinha nem um só instante. Isso deixou aquelas moças um pouco mais tranquilas, já que ele não era um artista. O problema era quando os meninos se juntavam com a gente. Eu só conseguia rir.

À tarde, fomos para casa apenas para tomarmos banho e nos dirigirmos para o local do show. Não deu tempo nem para tirar um cochilo. Iríamos para o camarim. Gustavo e Cristiano arrumaram apenas as coisas pessoais que levariam. As roupas comuns ficariam no apartamento mesmo.

Eles me chamaram um pouco antes de sairmos. Entregaram-me uma caixa. Ficaram sorrindo enquanto eu abria. Na caixa, havia CDs autografados para minhas filhas e meu marido, camisetas, taças da turnê, um vinho personalizado e mais um monte de lembrancinhas que eu guardaria com muito carinho.

Abracei meus novos amigos. Eu nunca precisei pedir nada. Eles me ofereciam gentilmente. E eu me tornava mais fã a cada dia, se isso fosse possível.

No fundo da caixa, um cartão me chamou a atenção: um vale para um fim de semana em um spa caríssimo de Goiânia, com direito a acompanhante. Fiquei emocionada.

- Não queríamos te deixar em uma situação constrangedora, então se você não souber como explicar isso para o seu marido, diga que ganhou em um sorteio durante o congresso. Sei lá! Só queríamos​ te dar um mimo que você pudesse aproveitar com o seu amor. - Cristiano disse e me abraçou, sendo seguido por Gustavo.

Eu fiquei sem voz por um instante. Meus olhos ardiam. Não pelo valor do presente (que não era barato), mas por se lembrarem de mim.

- Obrigada. Eu... nem sei o que dizer... Não comprei nada para vocês...

Todos riram muito e se juntaram ao nosso abraço.

Saímos em direção à casa de show às 19 horas. Durante o percurso, a alegria de sempre. Porém, dessa vez, havia uma melancolia implícita.

A fila diante da casa de show estava imensa. As pessoas alegres, cantavam, conversavam animadamente. Foi lindo ver o poder do sertanejo no Rio de Janeiro.

Entramos por uma entrada especial e nos dirigimos ao camarim. O espaço era grande e fantástico. Goiânia tinha lindas casas de shows mas aquilo ali não era nem de perto igual.

Aos poucos, outros artistas começaram a chegar. Alguns eu já tinha visto durante a manhã. Outros, deviam ser empresários e pessoas ligadas ao meio. A assessoria dos meninos veio até nós. Uma mulher chamada Shirley abordou Márcio sorridente:

- Há quanto tempo! Resolveu se render ao sertanejo?

Márcio sorriu, apertou a mão da moça ignorando o rosto que ela estendia para receber um beijo:

- Estou aqui pelos meus amigos, Shirley. Independente do tipo de música, meus amigos são os melhores.

- Vejo que se lembra do meu nome - ela se insinuava. Eu tentei segurar o riso de todas as formas. Será que ela não via a aliança no dedo dele?

- Quem é você? - A pergunta foi gentil, mas a gentileza não chegava a seus olhos.

- Olá! Sou Cláudia.

- Cláudia de onde?

Estava com a boca aberta para responder, quando Cristiano chegou ao meu lado me abraçando.

- E então? Está recebendo o melhor tratamento de todos? Foi o que eu exigi. Não aceito menos que isso para minha amiga. Shirley, cuide para que Cláudia e os meninos tenham todas as suas vontades atendidas. - Em seguida, ele me deu um beijo no rosto e saiu alegremente.

Shirley olhava para mim com a testa franzida. Segurei seu olhar. Não devia nada a ninguém, não estava fazendo nada de errado, então..

- Gostaria de alguma coisa, Cláudia?

Márcio olhou para o outro lado e eu percebi que ele estava rindo.

- Bem, já que você tocou no assunto, eu gostaria de saber onde fica o banheiro. - A imensa quantidade​ de água que eu havia bebido durante o churrasco estava cobrando seu preço.

Ela riu um tanto debochada, pediu que eu a seguisse​. Márcio veio junto. Ela apontou a porta. Márcio disse:

- Eu espero aqui.

Entrei no banheiro, mas ainda pude ouvir:

- Ela ... é sua esposa, Márcio?

- Infelizmente, não.

Meu coração doeu. Muito. Que papo furado era aquele? Márcio sempre foi contra o casamento. Dizia que nunca ia se casar. Acreditava que casamento só trazia sofrimento. E que conhecia mais gente divorciada do que casada. E, no entanto, ele estava casado...

O que ficou no passado pertence ao passado...

Às 20:55, fomos conduzidos para uma área em frente ao palco. Algumas mesas estavam bem dispostas com uma visão incrível. Ali, era possível os artistas interagirem com os fãs. Sem falar que os garçons continuavam trabalhando e servindo os poucos sortudos escolhidos para se sentarem ali. E eu era uma delas.

Às 21:15, a abertura tirou o meu fôlego. Sempre admirei o começo de uma apresentação. A expectativa dá entrada dos artistas, a gritaria que antecedia a subida ao palco... Tudo isso era muito emocionante.

Quando os fogos cessaram, a bateria começou e a voz surgiu antes que víssemos seus donos, pensei que ficaria surda. Ou deixaria o Márcio surdo. Ele ria muito de mim. Eu não conseguia me comportar, parecia uma adolescente. E cantei. Cantei muito. Cantei todas. Ao final da primeira parte, os meninos começaram a cantar uma música mais lenta. E ofereceram a mim. A MIM.

Desceram do palco, dançaram comigo e me entregaram para Márcio. Mas... A música acabou. E ele não dançava. Eu o vi dançar apenas uma vez quando foi a um show comigo, depois de eu insistir muito. Nossas mães foram junto. E ele, mesmo sem gostar de sertanejo, dançou comigo. A música era... Ah meu Deus! Era aquela que os meninos começaram a cantar. Não era uma música deles. Por quê? Por que logo essa?

Márcio estende a mão e... dança comigo. Não do mesmo jeito de antes. Na nossa adolescência, ele ficou por trás de mim. Bem próximo. Mas quando tocou aquela música, ele me abraçou pela cintura e se balançou comigo. Foi o mais próximo de dançar que nós chegamos. O lance dele era música internacional. Eu também gostava. E muito. Nossos gostos eram muito parecidos. Até demais. Só nos diferenciávamos quando o assunto era sertanejo...

E, balançando delicadamente, eu voltei do passado para aquele momento. Não poderia me deixar levar. Meu coração estava disparado e, com a minha mão em seu peito, eu sentia que seu coração também estava batendo descompassado. Minha garganta se fechou. Um bolo se formou e era muito doloroso. Minha respiração estava acelerada. A música acabou e nós nos separamos. De volta à realidade... Ele me abraçou e me deu um beijo na testa.

A CASA RICA (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora