Virei-me cautelosamente e dei de cara com um amigo que não via há muito tempo.
_ Oi, Márcio! Há quanto tempo! Tudo bem? – Respondi, alegremente, levantando-me para abraçá-lo.
_ Tudo ótimo. Para onde está indo? – Perguntou-me, sorridente.
_ Para o Rio de Janeiro. E você? - Perguntei apenas por educação.
_ Também vou para o Rio. Entre uma viagem e outra, passo lá para descansar um pouco.
_ Descansar, no Rio? Por causa da praia? – Perguntei, ironicamente, porque não entendia como alguém conseguiria descansar em uma cidade caótica. Tá certo que não é como São Paulo, mas deve chegar perto.
_ Mais ou menos. A praia também está nos meus planos.
_ Trabalha com o quê, Márcio? – Perguntei, para prolongar a conversa. Estava quase começando a ficar sem assunto.
_ Sou funcionário público federal. Meu trabalho me consome muita energia. Então, fraciono minhas férias ao longo do ano. Às vezes, consigo juntar com folgas provenientes de horas extras, aí consigo viajar com a família.
_ E, por falar em família, como vão Mariana e Larissa?
_ Vão bem... – Ele respondeu e eu notei um quê de tristeza em seu olhar. Ou foi o modo como ele coçou a nuca ao me responder?
_ Que bom! Mande um abraço a elas – dei o assunto por encerrado.
_ E você, o que procura no Rio de Janeiro? Vem sempre aqui? – Perguntou-me, sorridente, como se nada o tivesse preocupado anteriormente. Talvez tenha sido algo que eu interpretei mal. Pode ser.
_ Bem, vou a um Congresso Internacional de Educação. Algo simples, vou sempre _ respondi, tentando segurar o sorriso, e não mostrar meu nervosismo.
É claro que ele percebeu. Sorriu também e perguntou:
_ Você já veio aqui antes? Sabe onde vai ficar hospedada? Alguém vai buscá-la no aeroporto?
_ Calma aí! Agora fiquei nervosa mesmo! – Respirei fundo e disse: _ Não. Nunca vim aqui antes. Como minha inscrição foi confirmada bem no fim do evento, só vou conseguir me hospedar no mesmo hotel que os outros participantes, se houver vaga quando eu chegar lá. Se não houver, terei que procurar outro. Mas eu trouxe o cartão de dois outros hotéis.
_ É, realmente, eu ficaria nervoso também. Chegar no Rio de Janeiro no final da tarde, pegar um táxi do aeroporto para o centro e ainda descobrir que não tem hotel disponível... Já será noite... Táxi pra lá e pra cá... – Ele dizia, coçando o queixo e apertando os olhos.
Dei um tapa de brincadeira nele, sorri, mas entrei em parafuso. Como assim?
Acho que ele sentiu minha preocupação e me fez a seguinte proposta:
_ Cláudia, vamos fazer assim: eu vou com você e verificamos o hotel. Se não houver vaga, eu te acompanho nos outros dois. Vamos de carro. Sempre que eu venho aqui, alugo um carro e eles o trazem no aeroporto. Está bem?
_ Meu Deus! Melhor impossível! _ Respondi, aliviada.
Embarcamos e a conversa continuou animada, com informações da minha família. Parecia que havia tão pouco tempo que a gente não se via. Natural. Conversávamos baixo. Márcio me contou mais sobre seu trabalho estafante e eu falei sobre o meu. Infelizmente, eu não podia fracionar minhas férias como ele fazia, porém, podia dizer que tinha férias duas vezes por ano. Então, acho que saí no lucro. Ele trabalhava com pessoas problemáticas e eu com crianças e adolescentes. É, ainda estava no lucro. Mas o lucro parava aí.
Financeiramente, o lucro era todo dele, sorri ironicamente. Ele não viu. Ainda bem. Não gostaria de chorar meus problemas financeiros. Afinal, quem escolheu esse caminho fui eu mesma. E ninguém mais. E estava satisfeita. Muito mesmo.
Desembarcamos. Márcio foi realmente uma companhia maravilhosa. Sem falar que, nos momentos em que eu tinha mais medo, durante o voo, dava pra disfarçar. E sorrir. Como se nada estivesse acontecendo. Como se eu passasse por aquilo sempre. Doce ilusão... Certamente, não era a primeira vez que eu viajava de avião, mas não era algo que eu fizesse sempre. E eu adorava a sensação de estar em pleno ar...
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A CASA RICA (Completo)
ChickLitCláudia é uma professora tranquila apaixonada por sua profissão, mas um pouco acomodada. Quando surge uma oportunidade de fazer alguns cursos, ela fica na dúvida, mas, com o apoio da família, ela vai. Acompanhe nossa protagonista em uma viagem de re...