Capítulo Seis

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Minhas mãos se esticaram tentando pegar o isqueiro na mesinha de dentro do meu quarto. O frescor da varanda me fazia bem. Eu adorava me sentar ali. Acendi meu cigarro e no mesmo instante, a doce voz de Bliss me atingiu.

"Você devia parar de fazer isso, é feio."

Eu já havia a prometido que iria parar, mas não consigo. Pelo menos, agora só faço isso quando estou nervosa ou preocupada com algo. E nesse momento eu estava com os dois sentimentos. Alex. Ele era o grande problema. O que eu tinha feito? Me enrolei entre minhas pernas e fiquei olhando o céu a minha frente, estava tudo tão lindo. O escuro azul carregado de estrelas, brilhava em todos os cantos. Onde meus olhos pudessem alcançar, eles viam estrelas. Isso não era comum aqui. A luminosidade dos postes e dos enormes prédios luxuosos, ofuscava totalmente o que eu mais gostava de ver. O carro de Alex não estava mais lá em baixo. Respirei aliviada. Ele me escutou e não insistiu, esse era um longo passo. Bato levemente as costas das minhas mãos sob minha cabeça e resmungo.

—Droga, Annie! Você não tem que dar nenhum passo.

Estava começando a esfriar e eu precisava cochilar, nem que fosse por alguns poucos minutos. Logo, logo, eu enfrentaria uma longa jornada de fazer cafés, atender pessoas infelizes e lidar com a nova máquina ultra-super-hiper-X-274, ou como você preferir chamar. Depois que Marie colocou aquilo sob meus cuidados, eu tenho apanhado bastante. Respirei fundo, enquanto me levantava e abria as cortinas da porta. Assim que entrei no meu quarto, um grande vulto passou pelo meu armário. Eu balancei a cabeça.

—Caramba, o que o sono está fazendo comigo? –disse para mim mesma.

Fechei a porta quase por completo e comecei a caminhar para perto da minha cama. Antes que eu me sentasse, uma forma humana estava parada ao lado da porta me encarando. Eu respirei fundo três vezes. Fechei meus olhos. Pisquei. Ele continuava ali. Apaguei meu cigarro e me aproximei. O homem não se movia. Estava prestes a gritar, quando ele cruzou seus braços e sorriu pra mim.

—Quem é você? E o que está fazendo na minha casa? –eu parei de caminhar.

Eu queria gritar. Não conseguia gritar.

Ele soltou seus braços e me encarou mais uma vez. Consegui mover meu rosto e observá-lo. O homem não vestia roupa alguma! Meus olhos se arregalaram e minha mão foi direto para minha boca.

—Socorro! Socorro! –eu gritei desesperada.

Como esse pervertido entrou na minha casa? Eu não conseguia me mover, eu só gritava. Os olhos do homem a minha frente se encolheram e fizeram com que as sobrancelhas quase se ajuntassem. Ele parecia confuso.

—Socorro! Tem um homem na minha casa. –parabéns, Annie.

Eu estava fazendo exatamente o que eu odiava em filmes de terror ou suspense. Quando a mocinha encontrava com um bandido ou um monstro, ela não corria, ela gritava. Ótimo. Não consigo me mover. Minhas porcarias de pernas não queriam me obedecer!

—Você... Você está me vendo? –a voz do homem começou a dizer, enquanto se aproximava de mim.

—Não! Eu sou cega! Se aproximar de mim, eu juro que arranco as suas bolas! –o que eu estava fazendo?

—As minhas o quê? –ele disse confuso.

—O que você quer? Eu não tenho dinheiro, você assaltou a casa errada. Por favor, eu tenho DST! E estou menstruada. Você não vai querer me estuprar. Por favor! –merda! O que eu estava pensando?

—Você consegue me ver?

—O que você tem? Pensou que eu fosse cega? Pois eu digo de novo, não se aproxime ou eu arranco o seu brinquedinho.

Ele parou. Deu certo? Deu! Ele começou a rir de um jeito meio estranho. Esse cara não estava nada normal. Ele tocava seus braços e rosto e ria. Com certeza ele não é nada normal. Eu continuei ali, imóvel e já não gritava mais. O quarto estava escuro e eu mal conseguia olhar o rosto do homem. Eu só conseguia pensar naquele dia. Aquele dia.

Fevereiro de 2005

O frio de sua mão tocava incansavelmente minhas pernas. Tinha uma gota caindo do teto. Um papel amassado na mesa ao meu lado e uma caneta sem tampa jogada no tapete. Eu provavelmente a deixei cair.

—Um, dois, três, quatro... –eu sussurrava.

—Fique calada pra mim, meu amor.

Não. Por favor. Não me chame de seu amor.

A gota continuava pingando no chão extremamente limpo do meu quarto.

—Annie, está tudo bem! Tudo bem. –o estranho estava me abraçando. O estranho estava me abraçando?

—Seu tarado! Me solte! Me solte. –eu me debatia, enquanto me afastava dele.

Eu não sabia o que fazer. Ele continuava me olhando e parecia não entender.

—Eu já pedi para ir embora! –estendi minhas mãos e agarrei um porta retrato. Não era nada, mas eu podia arremessar na cabeça dele.

—Você está me ve... –antes que ele terminasse de dizer, eu disse.

—Olha aqui, não vem com essa de pensar que eu sou cega, não! Por favor, seu drogado! Vá embora da minha casa.

—Eu não sou drogado, sou eu. –quem? –Eu não entendo como isso é possível, como isso é possível? –ele olhava para suas mãos e depois me olhava. Um sorriso saía de seus lábios.

—Eu não te conheço. Por favor, vou chamar a polícia. –levantei o porta retrato fazendo-o de uma arma mortal.

—Não, não, não. Eu posso explicar. Só me deixe explicar, Annie. –espera, já era a segunda vez que ele dizia meu nome!

—Como você sabe meu nome?

O estranho se aproximou de mim. Eu não conseguia ver muito. Apenas alguns traços de seu rosto. Ele era bonito.

—Me deixe explicar, eu não vim fazer mal a você. Eu não sou um ladrão.

***

The Angels - AnnieOnde histórias criam vida. Descubra agora