Capítulo Onze

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Bliss soltou sua pequena mão de Dean e colocou-as na cintura. Eu queria rir da posição em que ela estava, toda autoritária e bem brava, mas eu não entendia o que estava acontecendo aqui.

—Diga, titia Nani! Cade seu amigo Dean? –ela me perguntou ansiosa pela resposta.

Antes que eu pudesse dizer algo, Bliss arregalou os olhos e abriu a boca surpresa.

—Espera aí, agora você consegue vê-lo? –ela começou a pular sorrindo. —Você consegue vê-lo!

Ela encarou Dean que se abaixou perto dela e agarrou seus bracinhos ao redor de seu pescoço.

—Gabe, minha titia está te vendo! –ele foi atencioso e a abraçou sorrindo. —Você está vendo Daniel também?

Minha sobrinha soltou-se de Dean e se virou para o outro lado.

—Está vendo meu anjo também? –ela dizia empolgada.

—Não. –eu não queria estragar os sonhos e amigos imaginários de Bliss, mas materializá-lo em Dean foi demais. Eu precisava acabar com isso.

Caminhei lentamente até ela e me agachei. Quando virei meu rosto, percebi que Dean me encarava de um jeito diferente. Ele balançava a cabeça como soubesse o que eu estava prestes a fazer. Segurei os braços de Bliss, que ainda sorria animadamente, e sorri pra ela.

—Bibi, eu sei que você diz ter anjos, mas isso já está ficando fora de controle. Você está em uma escola nova e seus amigos vão zombar de você. Não pode sair falando que vê anjos.

Droga. O que eu fiz?

Os braços finos da garotinha a minha frente, se soltaram bruscamente de mim. Seu olhar que antes era repleto de alegria, agora estava seco e vazio. Ela se afastou de mim e correu para perto de Dean. Não. Não. Não. O que eu fiz? Repetia em minha mente, enquanto olhava as lágrimas escorrerem do rosto dela.

—Está tudo bem, abelhinha. Ela é careta. –escutei o sussurro de Dean e quando vi seu dedo tocar o pequeno nariz de minha sobrinha, um sorriso saiu do meu rosto.

Ela estava rindo agora, enquanto o estranho em minha sala fazia cócegas em sua barriga. Olhando assim, eles pareciam velhos amigos. Bliss colocou suas mãos sob o ouvido dele sussurrou:

—Vamos parar, Daniel está com ciúmes. –nesse mesmo instante, os dois olharam para o mesmo lado e Bliss começou a rir.

O semblante de Dean não era o mesmo que o dela. Sua mandíbula estava firmemente sendo apertada e seus olhos estavam cerrados. Ele moveu seu olhar para mim e ficou ali por alguns segundos.

—Eu disse, ele tem ciúmes! –Bliss sussurrou para Dean. Logo depois se virou novamente para o espaço vazio e disse: —Eu também acho ela muito linda!

Oi?

Dean se levantou e caminhou até mim. Por que eu tinha a sensação que os dois já se conheciam?

—Não pode falar assim com ela. –ele disse de um jeito sério.

Cruzei meus braços e comecei a observá-lo de perto.  Seus traços perfeitos e a barba malfeita o deixava com um ar de superioridade. Abaixei meus olhos sob seu abdômen escondido na camisa de Alex e desejei vê-lo sem ela de novo. O que você está pensando?

—Annie? –ele me fez sair do transe. O que eu estava fazendo?

Bliss correu para o meu quarto para "brincar" com seu amigo Daniel. Movi meu olhar para o par de olhos acinzentados à minha frente. Eles me encaravam de uma forma tão pura e provocante. Ele era intenso. O estranho era completamente intenso e provocante. Tentei retrair minhas pernas para longe dele, mas elas não me obedeciam. O corpo alto se aproximava de mim e cada vez que ele se mexia, cada vez menos eu conseguia respirar de uma forma correta. Me esbarrei na pequena mesa de centro e Dean segurou os meus braços me impedindo de cair. O seu toque me fez sentir coisas que eu jamais havia sentido. Seu cheiro, suas mãos, tudo ali me fazia ficar maluca. Meu corpo inteiro se arrepiava e eu mal conseguia manter minha respiração controlada.

—Você precisa prestar mais atenção, Annie. –talvez fosse a maneira com que ele falasse o meu nome, o jeito em que cada sílaba escorria em sua língua, eu não sei, mas eu estava perdidamente viciada em sua voz.

Antes mesmo que eu conseguisse ouvir mais alguns segundos do som mais suave e excitante que eu já havia escutado, suas mãos me soltaram e ele se afastou de mim. Dean se sentou no sofá, mas em nem um instante sequer retirou seu olhar de mim. Dei três fortes respiradas e caminhei até meu celular. Havia inúmeras mensagens de Alex e Hayley. Não abri nenhuma, apenas enviei uma mensagem de texto para minha amiga:

"Fale para Alex que eu tive que ir para a cafeteria do centro e que o marido de Marie não vai deixar ele se encontrar comigo. Mande ele ir embora logo, pq estou indo levar Bliss pra você. Beijo :*"

Com certeza Alex esperaria uma eternidade naquele café. Eu precisaria tirá-lo de perto de mim até conseguir levar Dean até a delegacia. Bliss veio correndo até a sala e sentou ao lado de Dean. Ele ainda me olhava. Qual é o problema dele? Será que minha cara está suja? Tem algo errado em mim? Dei de ombros e caminhei até eles.

—Bom, vamos passear. Bliss pegue sua mochila, vou te deixar com Hayley, enquanto resolvo alguns problemas com meu amigo aqui. –eu disse, pegando minha bolsa e chave.

Dean se levantou do sofá e segurou a mãozinha de Bliss. Caminhamos para fora do apartamento e ele nem sequer me perguntou para onde iríamos. No fundo ele sabia que eu estava o levando para a delegacia. Quando estava trancando a porta, minha sobrinha soltou-se de Dean e puxou meu vestido.

—Titia, eu não vi seu amigo. –eu não estava entendendo. Isso estava indo longe demais, tenho que conversar com Natalie depois.

—Vamos, estamos atrasados. –eu disse, segurando sua mão e a puxando para fora.

Dean estava logo atrás de nós. Eu era acostumada a fazer o caminho até meu trabalho a pé. Não era muito longe e eu odiava o trânsito. Sinceramente, me deixa com dor de cabeça. Toda aquela confusão nos horários de pico, buzinas, xingamentos, isso não funciona pra mim. Não demorou muito para que chegássemos até a cafeteria. Eu não vi o carro de Alex do lado de fora, muito menos ele, então eu podia entrar. A porta se abriu e pôde se escutar o tintinar do sino avisando que havia chegado clientes, nos caso, eu. Não só eu, mas Bliss e Dean também. Quando os olhos de Hayley chegou até nós, ela parou de limpar a bancada e encarou incansavelmente o rosto do estranho. Bliss saiu correndo e abriu a portinha que dava acesso a área de trás do balcão. Ela vinha muito aqui e Marie não se importava em deixá-la comigo. Os seus braços envolveram completamente Hayley, que sorria enquanto a abraçava. Nos aproximamos das duas do lado de cá da bancada.

—Oi, estranha. –ela disse se referindo à mim, mas alternava seu olhar entre mim e Dean. E por algum motivo, eu não estava gostando daquilo. Por quê? —Não vai me apresentar ao seu amigo?

—É o Gabe, o an... –antes que Bliss, a intrometida, terminasse de falar, eu a interrompi:

—Não precisa, você não vai vê-lo novamente. –dei um sorriso amarelado e puxei Hayley para longe dos dois.

—Ai! Qual é? Por que está me puxando? Quem é esse cara? E você não está nada doente! –ela dizia se contorcendo como se eu estivesse a machucando.

—Longa história. –revirei meus olhos e continuei. —Bliss vai te contar várias coisas, coisas de criança. Baboseiras. Entao, já sabe, não precisa levar à sério. Eu volto mais tarde. –depositei um beijo em sua bochecha e me debrucei no balcão onde Bliss estava.

—Não demoro, por favor se comporte e obedeça a Hayley!

Me inclinei o máximo que pude até chegar perto de sua cabeça. Dei um beijo nela e coloquei minha mão no ombro largo de Dean, o empurrando até a saída.

—Annie Hastings! Volte e me conte o que está acontecendo! –me virei para ela e mostrei a língua. Bliss colocou as mãos na boca se surpreendendo.

Quando pisei do lado de fora, Dean estava rindo. Do que ele estava rindo?

—Ela vai ficar uma fera. –sua voz que me hipnotizava dizia, enquanto caminhávamos.

—Quem é esse cara? –a voz rouca que eu conhecia bem, vociferou. Era Alex e ele estava parado à nossa frente encarando Dean de uma forma assustadora.

The Angels - AnnieOnde histórias criam vida. Descubra agora