Capítulo Oito

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O sol batia forte em meu rosto me fazendo acordar. Abri meus olhos e olhei o relógio ao lado da minha cama, eram 07:00h. Eu nunca havia acordado antes dele despertar, berrando, até que eu o fizesse parar. Estranho.

—Caramba, que sonho maluco. –eu disse, enquanto me levantava e ajeitava meu cabelo em um coque.

Espreguicei e esfreguei meus olhos olhando a porta da varanda aberta. Eu tinha esquecido aberta.

—Por que diabos eu sonhei com um cara pelado na minha casa? –eu ri me levantando.

Falar sozinha era minha especialidade. Eu adorava ter um momento a sós comigo mesma. Era meu momento favorito. Passei direto do banheiro e destranquei a porta. Espera. Eu nunca tranco a porta. Assim que a destranquei, abri e comecei a caminhar para a sala.

Sonho estranho, mas bem que podia ser verdade. Ele era bonit... AAAH! –eu gritei assim que vi o mesmo cara do meu sonho, não sonho, parado a minha frente. O que estava acontecendo?

Ele estava na frente do meu quarto encarando incansavelmente a minha porta. Quando ele me viu, um sorriso completamente discreto saiu de seu rosto.

—Acordou cedo hoje. –ele estava sem camisa e só de cueca.

—O que você está fazendo? Você está sem roupa. De novo! –isso não foi um sonho.

Respirei fundo e fechei meus olhos. Contei até dez e os abri. Ele ainda estava no mesmo lugar, com o mesmo olhar e o mesmo sorrisinho. Seu cabelo estava tão bagunçado, o sofá estava intocável. Será que ele não havia dormido?

—Quem é você? –eu disse caminhando até a cozinha. —E por que está sem roupas? Eu já te disse pra ficar vestido.

—Elas me incomodam, Annie. Prefiro ficar sem. –ele cruzou os braços em seu peito e me acompanhou com o olhar.

—Por favor, vista as roupas que te dei. –eu tentava dizer calmamente.

—Tudo bem. Vou fazer o que me pedir. –ele se virou e vestiu as roupas.

Eu tentei desviar meu olhar, mas nada me fazia parar de olhá-lo. Ele era tão, diferente. Meu celular começou a tocar no balcão e eu corri para atender. Era Alex. Droga! Me esqueci que tinha combinado com ele.

"Alex?" –atendi.

"Oi, linda. Eu estou aqui em baixo. Posso subir?" –o quê? Socorro!

Olhei para frente e o cara estava vestido. Ele não tirava aqueles olhos acinzentados de mim, isso não estava me incomodando. Eu estava gostando de tê-lo me olhando.

"Linda?" –a voz de Alex me fez voltar do transe.

"Ah, sim. Me desculpa. Eu estou (tossi) muito gripada. Não vou poder ir. Acho melhor nem subir para não passar pra você." –o homem a minha frente riu.

"Gripada? Mas você estava ótima mais cedo. Deixa eu subir para te ver." –Alex respondeu preocupado.

"É melhor não. Adeus, Alex. Depois te ligo"–desliguei o telefone e voltei meu olhar ao cara desconhecido.

—Qual seu nome? –eu disse, enquanto colocava meus cotovelos na bancada e apoiava meu rosto em minhas mãos.

Eu... Não sei. –ele respondeu se aproximando.

Que bom. O cara totalmente estranho na minha casa, estava me deixando completamente maluca. Eu não queria chamar a polícia. O que eu estava pensando em deixar um desmemoriado dormir na minha sala e ficar me encarando desse jeito?

—Eu vou te ajudar, mas você precisa parar de me encarar desse jeito. –ele se aproximou mais e encostou suas mãos na bancada.

—Não posso parar de te olhar, Annie.

Eu não conseguia me mexer. Saia dai sua louca, tire ele da sua casa. Faça alguma coisa!

Ok. Vamos até a delegacia e lá eles vão saber o que fazer com você, mas antes vou fazer um café pra gente. Não funciono sem comida.

—É eu sei. –ele respondeu se sentando na mesa.

O quê?

Ignorei o que ele havia dito e comecei a fazer ovos e panquecas.

Quando o café ficou pronto, peguei duas canecas e as enchi. Coloquei os ovos em pratos separados e as panquecas também. Eu levantei minha cabeça até a mesa e ele permanecia ali, me encarando. Merda!

—Pronto. Coma depressa. –eu deixei os pratos em sua frente e a caneca de café também.

O estranho ficou olhando para os pratos.

—Não gosta? –eu perguntei, enquanto atacava minhas panquecas.

—Eu nunca comi. –ele levantou a cabeça devagar e eu percebi que ele não estava mentindo.

—Como assim? Ah, eu esqueci que você está esquecido. Coma, você vai gostar. –ele encarou minhas mãos e pegou os talheres de uma forma atrapalhada. Eu ri.

Com muita dificuldade, ele pegou um pedaço de panqueca e colocou na boca. Mastigou vagarosamente e arregalou os olhos.

—Como isso... Como isso? Como isso não tem no.. –ele parou de falar.

—Não tem onde? Está se lembrando? –ele balançou a cabeça negando e comeu apressadamente as panquecas.

Eu comecei a beber meu café e ele como se estivesse me imitando, pegou a caneca em suas mãos e tomou um gole. Foi inevitável não rir quando vi a careta em seu rosto.

—Que coisa horrível! –ele limpou a boca.

—Horrível nada, delicioso. –eu sorri bebendo mais.

Ele partiu para os ovos e eu fiquei o observando comer. Quem era ele?

—Você se lembra do seu nome? –perguntei.

—Não. –ele respondeu de boca cheia.

Eu não podia dá-lo um nome. Ele não ficaria na minha casa, não seriamos amigos. Dentro de alguns minutos eu o levaria para a delegacia e nunca mais o veria. Não precisava de nome.

—Precisamos de te dar um nome. Como quer chamar? –o quê? Por que eu disse isso?

—Não sei. –ele disse me encarando.

Seus pratos estavam completamente limpos, menos a caneca de café que ainda estava cheia. Ele estava faminto e devorou toda a comida.

—John? Não! James? Também não! –ele parecia se divertir, enquanto eu pensava em algum nome que fizesse sentido. —Dean. Você tem cara de Dean.

—Tenho! Dean, eu me chamo Dean. –ele respondeu confiante, enquanto se ajeitava na cadeira. —Você não está atrasada para seu trabalho? –Dean apontou para o relógio atrás de mim. Como ele sabia que eu trabalhava?

—Estou. Como você sabe? –perguntei, enquanto me levantava apressada.

—As pessoas trabalham.

The Angels - AnnieOnde histórias criam vida. Descubra agora