Os dez minutos seguintes passaram em absoluto silêncio dentro do quarto do pequeno João. Período no qual as meninas brincaram com as barbies debaixo da mesa da cozinha, enquanto a mãe preparava o café da manhã do menino adoecido (um pedaço de bolo liso, um pãozinho de queijo, uma maçã e um copo de leite achocolatado) e o colocava sobre uma bandeja de plástico amarela. Não se esqueceu do copo d'água, onde as gotas do remédio para a febre dissolveram-se.
Talvez seu erro tenha sido colocar a água com o remédio em um copo de vidro. Mas, também, como adivinharia que o mesmo quebraria, inexplicavelmente, nas mãos do João, quando este estava prestes a beber o líquido? O copo era resistente, novo, e estava intacto, então foi inacreditável. João alimentou-se com o café da manhã lentamente e a mãe desceu para pegar outra dose do remédio, minutos mais tarde.
O pai limpou os cacos de vidro e os deixou no canto do quarto, atrás da porta, só por o tempo em que o menino não o permitia sair do cômodo, pensou. Porém esqueceu-se de avisar a mulher, dessa vez com o antibiótico em um copo de plástico. Os cacos ficaram por ali mesmo...
Com o decorrer do dia, João manteve a quietude na cama. O pai passou o tempo todo lendo um livro de filosofia. A mãe ocupou-se com os afazeres domésticos (dentro de sua mente, julgava-se sobrecarregada, precisavam de uma empregada), Maria e Lua ajudaram Lúcia um pouco e depois foram brincar na calçada com seus bambolês coloridos.
O sol do outro dia nasceu com novas surpresas. Para João, surpresas já haviam ocorrido antes que o sol chegasse.
"Três, dois, um... A um passo do inferno" escutou o menino as três da madrugada, um sussurrar baixinho, quase inaudível, vindo de baixo da cama. A voz era rouca e parecia ter dificuldade para produzir as palavras. No escuro intimidador do quarto, João notou o seu pai se mexer. César acordou. Levantou. O que aconteceu em seguida deixou o garoto dominado pela catapora chorando por horas, apavorado. A cada barulho de baixo da cama, uma dor no coração amaldiçoado, um alfinete na alma, um poderoso grito reprimido.
***
"Mamãe, mamãe!" gritou Lua, balançando Lúcia pelos ombros, "Vem ver o que a Maria fez no nosso quarto".
Lúcia se sentia cansada para levantar às seis horas, mas o fez. Lua pareceu muito atordoada.
No quarto das gêmeas, entre o quarto do casal e o quarto do João, Maria chorava e negava constantemente "não fui eu, mamãe, não fui eu".
Abaixo da galeria de desenhos da Maria, na parede, desenhada a tinta guaxe vermelha de forma rústica, uma frase e um homem com cabeça de cabra chamavam atenção:
Três, dois, um... a um passo do inferno.
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REZADEIRA
Terror'Você acredita em espíritos? Espíritos malignos, para ser mais exato. Se a resposta for negativa, peço que a repense, ao menos depois de conhecer a minha história. Eu também não acreditava, e você nem imagina o que aconteceu comigo, com a minha famí...