Fevereiro, 21

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Fevereiro, dia 21

Já é muito tarde, mas infelizmente não consigo voltar a dormir. Não sei se foi do sonho que tive e que agora não me lembro ou se foi de outra coisa, alguma preocupação minha ou o stress talvez, mas acordei a meio da noite e fiquei sem sono nenhum. Por isso, estou aqui sentado à minha secretária em frente à janela, com a luz do candeeiro ligada e porta do quarto fechada, a ver a chuva a cair e a escrever-te, para ver se o turbilhão de ideias na minha cabeça se acalma e consigo voltar a ir descansar antes que o Sol nasça de novo.

Não o consegues ver, mas a minha atenção ora está neste mesmo papel e nestas mesmas palavras, ora está na chuva lá fora. Não sei porquê, mas sempre gostei de ouvir e ver a chuva a cair. São estes momentos assim que me fazem pensar nas coisas mais simples e elementares, mas no entanto cruciais na nossa vida.

Como a nossa prória existência. A vida é engraçada. Temporal e efémera, passa por nós num abrir e fechar de olhos. Não permite segundas oportunidades, não permite a repetição dos dias. Cada dia é um capítulo novo que depois não poderá ser reescrito. Tens apenas uma oportunidade por dia, todos os dias da tua vida. Até ela acabar.

Lembro-me de uma vez ver uma história, em que o pai perguntava ao filho todos os dias quando o ia deitar se se sentia satisfeito com o que tinha feito nesse dia. O rapaz respondia que sim, não percebendo muito bem aquilo que o pai lhe dizia. No entanto, o homem aconselhava-o sempre: "Aproveita o dia de amanhã para fazeres tudo o que querias ter feito hoje, se Deus assim o permitir. Nunca se sabe quando é que pode ser demasiado tarde". Apesar dos conselhos do pai, nada impediu o rapaz de, um dia mais tarde, se arrepender de não ter dito ao pai tudo o que queria, antes deste morrer. E a partir de aí, o rapaz tentou não voltar a deixar passar nada, indo sempre dormir com a sensação que tinha feito e dito tudo aquilo que queria.

E esta história simples dá-nos uma lição: aproveita a vida, que é rica mas curta. Vive a vida intensamente, para não dizeres que te faltou alguma coisa para viver.

Eu tento fazer isso, mas nem sempre consigo. Ao fim do dia pergunto a mim próprio se me sinto satisfeito com o que fiz, e acabo por chegar à conclusão que não. Há sempre qualquer coisa que ficou por dizer, alguma coisa que ficou por fazer, ou coisas novas que ficaram por exprimentar. E o ser humano é ingénuo o suficiente para achar que tem sempre tempo. Depois os assuntos por resolver arrastam-se e o destino acaba por nos apanhar, ficando assim os problemas por resolver a atormentar os mortos, para sempre, roubando-lhes o eterno descanso.

É mais um dos muitos problemas dos Homens. Mais um na sua interminável lista de defeitos. E pus-me a pensar nisto agora graças à chuva que cai lá fora, molhando a relva e a terra, trazendo o sustento da vida.

Como é que uma força da Natureza, tão simples e alheia ao ser humano ou à nossa existência, tem sobre mim tal efeito? Costumo ser um pouco filosófico, mas não assim tanto. Talvez seja da falta de sono. Por isso, Di, vou acabar isto por aqui. Acho que ainda vou ficar uns minutos sentado no parapeito da janela a olhar a água que cai lá fora, mas assim penso conseguir arranjar sono. Quem sabe o cansaço desta ginástica mental para te escrever, que me deixou um pouco melhor, me consiga fazer adormecer antes de se tornar completamente inútil tentar dormir.

Vou apenas deixar-te um último conselho, apesar de já me parecer a mim que o segues instintivamente: vive a tua vida como queres. Segue o teu coração e não deixes que nada te impeça, sejam quais forem as dificuldades. Não há barreiras impossíveis de transpor quando a vontade é muita.

Com Amor,

Sammy

Guarda a última dança para mim ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora