Capítulo XVII

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A escuridão poderia ser dita acolhedora para alguns, estes sendo um pequeno numero, bem finito, podendo ser dita acolhedora, um refugio, uma saída, um meio, não importava, aquela pequena minoria a tinha como um amigo. Lucy conheceu a escuridão, por um bom tempo fugira dela, idealiza-la era terrível, algo frio, solitário, sem cores, ela trazia o medo. Lucy pensou não gostar da escuridão, mas agora ela a abraçou, estava imersa na mais profunda escuridão. 

Lucy tinha tudo bem claro em sua mente, o ser de olhos dourados que a encarou fixamente, as palavras ditas, um simples adeus, sua respiração que acelerou, o grito de alguém, pois dela mesmo não veio, o choque a manteve estática, por fim a dor, quando as garras penetraram seu peito, rasgando o fino pano de sua roupa e então sua pele, ela deixou os olhos dourados e olhou para baixo, nenhuma cor se destacava como o vermelho vivo que manchou seu peito, que sujou as mãos de sua alma. Suas pernas foram as primeiras a perderem as forças, então ela caia, lentamente, o dono dos olhos dourados que em momento algum lhe deixou veio com ela, a abraçando ate estarem os dois sentados sobre o chão gélido, ele passou a mão banhada em carmesim por sua face, retirando uma mecha loira que se tornou manchada.

-Ouça Lucy, eu a direi mais uma vez, a ultima vez...- A voz baixa que sussurrou ao seu ouvido, não fora feroz, não escondia divertimento negro como outrora, estranhamente lhe confortava. 

Os olhos castanhos se focaram novamente aos dourados, ela viu sua boca mexer lentamente enquanto dizia algo, ela tentou ouvir, mas nenhum som lhe veio, apenas um silencio constante, seus sentidos estavam se esvaindo, rápido. Apertou a mão pousada sobre sua face, sentiu ela molhada, puxou para os seus pulmões o ar por uma ultima vez, o som lento de seu coração retumbou em seus ouvidos quando sua visão escureceu, aquele plano se esvaziava absurdamente rápido. Lucy estava morrendo. Lucy morreu.

Não sentia mais dor, ela não sentia cansaço, frio ou calor, ela não sentia nada físico, mas suas emoções ainda existiam, por isso Lucy mesmo que por todos os lados só houvesse o negro, ela corria, sem jamais parar. Talvez tenha se passado dias, anos ou meros segundos, ela não contou, tudo que almejava era poder ouvir, ela queria ouvir, ouvir o que lhe fora dito, as palavras de seu assassino. Não sabia ao certo, contudo, algo em seu intimo lhe dizia que era aquilo que deveria procurar, dessa vez não um amigo, uma fada, tigre ou sua mãe, mas a ele, deveria ouvi-lo.

A escuridão derreteu, sob seus pés se estendia um infinito mar negro, ao olhar para cima o mesmo se via, mas de cada lado seu surgiu paredes, onde podia se ver lamparinas, essas iluminaram um caminho, longo, estreito e estranhamente frio, ela voltou a sentir o frio, apenas ali, naquele lugar. Lucy não se deixou levar pelo medo, o receio do que poderia vim, seguiu como viera fazendo, correndo, procurando, ate quando o corredor acabou e a sua frente viu grandes que alem dela guardavam mais escuridão. Lucy parou ali, seus olhos fixos, ate notar que já estivera ali, não uma unica vez.

A sua frente a maga celestial via as grandes que deixara por tanto tempo o demônio de olhos dourados aprisionado, e então ela se sentiu vazia. A devastadora sensação do vazio se fez presente, a loira se curvou, os próprios braços a envolvendo, então ela chorou, o vazio era aterrador. 

Uma mão foi posta sobre sua cabeça, em um toque leve, seus olhos chocolate foram para cima, mesmo embaçados pelas lagrimas ela pode reconhece-lo de imediato, sempre iria reconhecer aqueles olhos dourados. 

-Você esta aqui, você voltou!- Ela se viu animada, falando como uma criança, era estranho, mas ela não se importava, mesmo que por tanto tempo o tivesse visto como um inimigo, algo sombrio, seu maior fardo, aquilo a ser superado, apagado, destruído.

-Meu nome, me diga o meu nome.- Ele falara, sua voz ecoando por toda aquela escuridão.

Lucy não falou, o fitando como ele a fitava, porque ele continuava a pergunta seu nome? Ela não sabia! Ela não sabia! 

The Inheritance - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora