Capítulo XIV

1.8K 159 47
                                    

Em algum lugar aos arredores de Magnólia

Hayato observou pelo canto dos olhos o outro no ambiente um pouco escurecido onde estavam, ele não falava muito, não parecia se interessar por nada e se mantinha sempre com um olhar frio e calculista, o que trazia desconfiança. Desde o início tudo que Hayato almejava era poder, e ter outro demônio ao seu lado era uma ótima jogada, o problema era, demônios eram seres manipuladores por natureza,  sempre com intenções ocultas e controlar era um papel quase impossível, quase, pois agora ele podia, com a ajuda daquela luva e a pequena pedra mágica fixada nela, o demônio de Lucy teria que obedecer a ele, contra ou não a sua vontade.

Ao terminar a bebida no copo que segurava o depositou sobre a mesa de madeira, aquele silêncio não o incomodava muito, porém Hayato se sentiu atiçado para provocar um pouco o outro. Aquilo era o que muitos chamavam de "cutucar onça com vara curta".

-Não irá me dizer seu nome?- Hayato rompeu com o silêncio. 

A verdade era, o demônio de Lucy se recusava a revelar sua identidade real por algum motivo desconhecido, o que não era favorável. Veja bem, quando se possuía o nome de demônios como ele, era possível obter um poder extremo sobre os mesmos, algo bem superior ao que a luva lhe proporcionava, com o nome dito seria possível até mesmo se compartilhar todo o poder.

Diante do silêncio recebido pelo outro e não se dando por vencido, Hayato continuou:

-Estive pensando na doce Lucy, é uma pena para ela, não é verdade? Ela irá perder a vida tão jovem.- O outro não parecia prestar atenção no que era dito, mas Hayato sabia que era o contrário,  então continuaria,  queria ver qual seria a reação do mesmo. -Como acha que sera,  quando enfim ela se for? Viver sem sua outra metade deve ser algo bem assustador, ou seria magnífico?  Para mim seria magnífico,  ter todo o controle e poder só para mim.

Hayato não obteve resposta,  tudo que recebeu fora um olhar desdenhoso e dourado sobre si, antes do mesmo deixar o ambiente. O moreno pragueja, sem saber ao certo o que significará aquela atitude.

***

Lucy estava novamente encrencada, os problemas parecia que nunca iriam chegar ao fim em sua vida. Tudo começara a cerca de dois dias, quando magos representando a Fairy Tail junto ao líder dos tigres deixaram a guilda das fadas e se dirigiram rumo ao conselho, quando ela optou por se juntar a eles e uma súbita tontura a fez sua cara ir de encontro a parede ganhando um sacramento nasal. Desde então ela esteve sempre doente, com sintomas variantes que não possibilitava apontar qual seria o real problema, Wendy não a deixava só em momento algum e suas forças nem ao menos a permitia se erguer e ir para junto dos outros.

Naquele dia Lucy estava deitada em uma das camas da enfermaria, Wendy exausta dormia na cama ao lado e Charlie não estava em lugar algum por ali. Era noite, porém a loira não tinha sono, apesar de se sentir absurdamente cansada, fraca demais para sequer comer sozinha. Seus pensamentos variavam, mas sua principal preocupação não era ela em si, era a situação da guilda,  os que foram ao conselho ainda não haviam regressado nem mesmo Sting,  estava louca para saber o desenrolar de toda aquilo. Suspirou, logo agora essa doença misteriosa, quando Natsu a chamou para ir com ele em busca de Happy,  desde então o mesmo vinha adiando sua partida por sua preocupação em relação a ela.

Com certo esforço rolou na cama para se por de lado, enquanto lembrava do que o rosado a dissera a algumas noites, a suposta ameaça de morte feita pelo demônio que antes lhe habitava. Já tinha cogitado a possibilidade de a sua atual situação ter sido provocada pelo seu demônio,  mas era uma ideia vaga demais, afinal eles nem mesmo voltaram a se encontrar desde que o mesmo partirá com Hayato,  a não ser que o mesmo a tivesse envenenado quando ela estava desacordada antes de Natsu chegar para resgata-la, o que fazia surgir mais uma dúvida,  porque o veneno de ação tão lenta? A não ser que ele a odiasse bastante e estivesse disposto a vê-la definhar aos poucos.

Foi desperta de seus devaneios ao ouvir o ranger da porta da enfermaria quando a mesma foi aberta, Wendy nem notará continuava a dormir um profundo sono. Sorriu de leve ao ver a pessoa que por lá passava e vinha a passos silenciosos até ela, Natsu estava sério e seus olhos a fitavam diretamente, como se pudesse ver até sua alma, estranhou.

-Natsu?

-Já faz um tempo Lucy, se concentre mais e poderá ver a verdade.- Natsu falara, mas aquela voz não era dele,  disso a loira tinha certeza.

Lucy fez o que foi instruída, de olhos semicerrados observou a figura do rosado e enquanto a verdade ia aparecendo aos poucos seus olhos ia se abrindo mais e mais. Aquele não era Natsu, era seu demônio, ele fizera uma ilusão que talvez usará para chegar até ali sem atrair atenção.

-O que faz aqui?

-Esperava por uma recepção melhor tolinha.- Os olhos dourados brilharam ainda a observa-la. 

Seu demônio não disse mais nada, continuou seu caminho e a empurrou de leve para que ele pudesse sentar na cama dela, ao seu lado, ele desviou seu olhar para Wendy e não voltou a fitar a loira.

-Esta mais deprimente do que me lembrava humana.- Voltou a falar ao constatar o óbvio a respeito da situação da maga.

-Me diga, foi você que fez isso a mim? Usou algum veneno?- Lucy o viu se voltar para ela novamente, ele não parecia ter os olhos contidos com seu costumeiro divertimento malicioso.

-É tão estúpida,  para que me daria ao trabalho de fazer isso, você irá morrer sozinha, logo.

-Eu não entendo...

O demônio suspirou, como se lidar com ela fosse como lidar com uma criança e o cansasse bastante.

-Por um momento cheguei a pensar que você fosse inteligente tolinha, nem ao menos notou ainda algo tão óbvio.

-Diga logo o que quer, pare com toda essa enrolação.- O tom de Lucy se alterou um pouco e notou Wendy se remexer um pouco,  logo se repreendeu mentalmente,  precisava se conter. 

-Além de tola é irritante,  quando entenderá que não possui qualquer controle sobre mim, não me nade fazer nada isso realmente me irrita e você não gostará de ver como eu extravaso essa minha raiva.- Seu olhar dourado pousou sobre a azulada adormecida e Lucy engoliu em seco ao entender a ameaça silenciosa, não duvidava de que ele fosse capaz. -Mas hoje me sinto tentado a ser um pouco bonzinho com você, vou te dizer o que você está deixando passar.

Lucy esperou, mas por alguns momentos ele apenas se manteve em silencio e então se levantou, mas não andou para longe ainda continuo ali do seu lado a olhando de cima com seus penetrantes e ferozes olhos dourados. 

-Você vai morrer porque não tem mais sua alma, um corpo vazio só possui um destino e esse é o fim. Agora se pergunte, aonde sua alma foi parar?

O demônio não esperou por uma resposta e em silencio ele andou para longe dela, abriu a porta e saiu e então Lucy estava novamente somente na companhia de Wendy. Ela fitou o teto e em sua mente ecoou novamente as últimas palavras do seu demônio "Aonde sua alma foi parar?".

Assustada Lucy sentiu seu estômago revirar e suas mãos trêmulas, agora ela entendia. Lucy já possuía a resposta para aquela pergunta. 

The Inheritance - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora