9-Avanços

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Segunda-feira, 8h50. Acordei ao ouvir meu pai fechar a porta do meu quarto. Sensação esquisita. Eu nunca tinha trazido uma mulher pra dormir em minha casa. Estava me preparando para os conselhos sobre sexo que meu pai me daria.
    Caterine estava deitada em um colchão posto sobre o chão coberta por um lençol do tio Patinhas que ganhei em meu aniversário de 8 anos de idade. Como eu cheguei aqui? Como Dream Walker a liberou para vir até a minha casa? Bom, foi simples.

— Ancião, estou saindo. — foi tudo que ela disse. Ainda assim Dream Walker vagou em meus sonhos para ter certeza de que nada havia acontecido.

Viemos até certo ponto a pé e depois pegamos um táxi para minha casa. Durante a viajem Cat parecia muito animada com a minha decisão. Perguntara o que me fez decidir isso, eu só disse que fui consciente.

Estamos aqui agora, dormindo no mesmo quarto. A garota dormia de uma forma engraçada, parecia abraçar o colchão com seus braços esticados de um lado a outro e de barriga para cima. Vestia um casaco quadriculado azul que reconheci como sendo o meu que a tempos não uso. Vasculhou meu guarda roupa? Não me recordo de ter dado essa roupa a ela.
Levantei apressado ao ver a hora no relógio. Fiquei de joelhos na lateral do colchão olhando e pensando em como acorda-la. Seus cabelos pretos desarrumados escondiam seu rosto, sua boca estava aberta mostrando seus incisivos centrais superiores elegantemente separados. Quis beija-la, mas evitei lembrando daquele mau hálito matinal.

Balancei seus ombros para que acordasse. Sem sucesso, Cat permaneceu do mesmo jeito. Tirei o cabelo de seu rosto, falei com voz grave ao seu ouvido, balancei insistente, mas nada parecia acorda-la, então levantei e puxei o seu lençol. Fiquei envergonhado ao ver que ela estava vestida apenas com uma calcinha e meu casaco. Essa garota é louca, pensei.

Desci para a cozinha para preparar o café, tentava esquecer a visão recente que havia se pregado a minha memória, eu sorria por dentro.

Preparei o café. Pão com queijo quente, leite e bolo que era o que alegrava minhas manhãs. Tentei pela última vez acorda-la gritando da cozinha:

— O café está pronto! — em um estante ela já estava sentada à mesa.

A garota comia como uma fera, parecia que estava presa a anos sem comer nada. Terminei de tomar meu café e fiquei observando ela comer, nada atrapalhava sua concentração.

— Que foi? — perguntou ela de olhos arregalados e boca cheia. — Estou em fase de crescimento. Continuei olhando ela comer.

— Onde os renegados estão dessa vez? — perguntei.

— Nós temos um lugar, uma mansão, quase no fim da cidade — disse ela gesticulando com um pão na mão.

— Mansão? De quem? — quis saber.

— Você não sabe, mas Gepard é podre de rico. Muito de nós conseguiu avançar na vida depois de tudo. Gepard é um dos que se deu "mais bem". — mais bem?, pensei.

— Eles sabem que estamos indo para lá? — perguntei.

— A essa hora o velho já deve ter avisado a todos, para que nos encontre lá.

— Vamos andar muito daqui até lá?

— Não muito, talvez uma hora, essa cidade é bem grande, não é como a minha. Vamos demorar um pouco. — disse ela. — Com certeza Samuel vai te falar coisas e tal, depois vão te treinar, coisas assim.

— Estou pronto para isso.

— Vamos? — chamou ela, tomando o ultimo gole de café.

  Eu já estava um pouco cansado de andar de ônibus. Viajamos em um sanfonado rumo as áreas com sítios da cidade. A mansão grande e imponente era cercada de arvores centenárias que pareciam alcançar o céu. Sinceramente não imaginava que existia um lugar como esse nesta cidade. O muro que rodeava toda a mansão era feito de pedra, musgos se penduravam nele deixando o lugar com um ar assustador.

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