Já era 17:40, a novata, "Caterine", havia me pedido para sentar em um dos bancos da praça. Ela dizia que podia explicar, mas explicar o quê? Eu tinha tanta pergunta, tipo: quem é esse grupo? O que aconteceu com Gustavo? Quem, ou o que, era ela? Ela fazia mistério, andava de um lado para outro, roía as unhas, me deixando mais ansioso ainda.
— Charlie, não sei por onde começar. — disse Caterine.
— Que tal do começo? — respondi.
— Bom, eu sei que você deseja saber o que eu sou, por quê eu vim estudar no seu colégio de repente, é tudo tão confuso. — Caterine me deixava cada vez mais irritado.
— O que fizeram comigo, Caterine? Ouça, eu morri, fui queimado, tive fratura exposta no fêmur e fraturei minha costelas, mas no dia seguinte eu acordei como se nada tivesse acontecido, sem um sequer um ferimento. Você acha isso normal? — eu disse, apesar de estar adorando tudo isso tenho que admitir que é estranho.
— Sabe, não é só você. — fez uma pausa e se sentou ao meu lado. — Existe um grupo. — disse por fim.
— Um grupo? — perguntei.
— Sim, pessoas independentes com habilidades como a sua. — respondeu, e eu fiquei em choque.
— Tá, mas quem são esses que fizeram isso comigo?
— Charlie, você já vota não, é? — ela respirou fundo e continuou — Vou te contar uma história, não sei como começar, então deixe-me pensar. Era uma vez... não. Há um certo tempo existia uma aldeia, uma aldeia de monges serenos e sábios que viviam distante de toda a civilização. Esses monges eram chamados de Mentalistas e, com base em sua religião e sua crença, eles diziam ter sido abençoados pelos seus deuses com habilidades, digamos, sobrenaturais.
— E quais habilidades eram essa? — perguntei
— Eles vagavam em mentes. Suas habilidades eram incríveis, eles se dividiam em vagantes de mentes, visitantes de sonhos, videntes e o mais alto nível da habilidade, a proibida e perigosa habilidade controlar as mentes. Esses monges não eram como o que você está acostumado a ouvir falar, não tinham votos de castidade, podiam constituir família e eu sou fruto de uma dessas famílias. — ela respirou fundo, tomando fôlego para continuar — Como eu vim parar aqui? Longa história, mas vou contar. Em 2006, nosso líder, Jerrard Malik, baniu seu irmão gêmeo, Sorrard, pela tentativa de obter essa habilidade e se tornar um controlador de mente. Esse homem desejava mais que tudo o poder, por sorte ele não conseguiu completar seu ritual. — Caterine me encarou e sorriu de lado, percebendo que era muita informação para absorver.
"Vou explicar como surge essa habilidade. Pode-se nascer com ela, essa era a forma mais rara, as outras são deveras cruéis e o que Sorrard fizera pra conseguir essa habilidade foi muito horrível, Charlie. Ele torturou 10 de nossos aldeões mentalista, entrou em suas mentes e os torturou até a morte. Dois das dez vitimas eram meus pais. Eu realmente desejei que ao invés de banir deveriam tê-lo matado, só assim minha família seria vingada e ele não seria pego pelo mesmo grupo que pegou você e eu. — Caterine respirou fundo novamente e continuou.
"Dois anos depois, em 2009, eu estava com meus 10 anos de idade e treinava para me tornar uma visitante de sonhos. Dois meses depois do início do treinamento nossa aldeia foi atacada por soldados, tais que sequestraram toda a aldeia. Fizeram experiências em todos nós, mas não conseguiram descobrir de onde viam nossas habilidades. Então nos recusaram, nós e vários outros sobre humanos, e assim surgiram os renegados: pessoas independentes com habilidades sobre humana. Bom, quando eles nos recusaram, tiraram tudo: nome e vida, tivemos que inventar personagens para nós mesmos para podermos nos encaixar na sociedade novamente.
"Charlie, você tem sorte de sido dado como morto. Você tem sua vida normal, tranquila, tem seu pai e provavelmente está esquecido. Nosso grupo se prepara para derrubar esses homens que brincam com vidas em busca de um propósito pessoal. Desculpa, Charlie, você entrou em uma guerra por acaso, você pode agora escolher seu lado, você não está sozinho, junte-se a nós."
Eu tinha a sensação de que ela não havia me contado tudo, me pergunto se Gustavo foi recusado. Não, ele disse "seu amigo não me dá essa decepção". Minha duvida aumentava.
— E eu posso conhecer esses "renegados" antes de dizer que quero me juntar? — perguntei.
— Sim, claro, mas não hoje. Não agora. — respondeu.
— Me explique uma coisa. Por que você veio pra cá? Quem foram as pessoas que fizeram experiências com você, já que não foi aqui que fizeram? Ah, mais uma coisa... — fiz uma pausa, ela me esperou dizer — Você leu minha mente? — ela riu e respondeu.
— Não, “Sara” eu não leio mentes. Você não sabe, mas, basicamente, seu pai ou seu avô voltou nas pessoas que fizeram essas experiências, elas são grandes e fortes, estão por toda parte. E eu só vim pra cá por sua causa. — respondeu.
— Como assim por minha causa? Se você não leu minha mente como sabe da Sara?
— Bom, observei vocês algumas vezes, o jeito que você olha pra ela. E em uma de minhas visões aparecia essa cidade e essa escola, algo estava pra acontecer aqui, então descobri que você era o acontecimento. Eu vim para trazê-lo ao nosso grupo e unirmos forças para acabar com esses malditos.
— Mas como? Com quem você vive? Onde foram parar os outros aldeões? Você não contou o que aconteceu com Sorrard. O que esta me escondendo? — quis saber.
— Sorrard foi torturado até contar onde vivíamos. Você é tão cético, cheio de duvidas. Eu vivo com um de nossos monges, o mais velho vagante de sonhos Chang, ele se uniu ao nosso grupo, Malik morreu e isso fez os outros se acovardarem e fugirem. Ouvi dizer que existe um grupo na América Central. — disse ela. Bom isso explicava muita coisa, aquela reação ao tocar minha mão e tudo mais.
Eu acabava de entrar no meio de uma conspiração, isso não me deixava nem um pouco feliz. Droga, esqueci que tenho casa e um pai preocupado à minha espera, me envolvi na conversa. Agora já são 18:20 e não obtive resposta, acredito que só vou obter quando encontrar esse grupo, os renegados, mas agora preciso ir para casa.
— Bom, Caterine, você vai me levar até esses renegados, vai me ajudar a entender tudo isso, mas agora estou indo para casa. Te aconselho a fazer o mesmo. — ela assentiu. Me levantei e saí, mas ela ainda continuou na praça me observando ir embora.
Comecei a fazer o que eu já estava acostumado a fazer a um bom tempo, correr. Tentava controlar minha velocidade, mas logo senti um estrondo ensurdecedor, a barreira do som sendo perfurada. Eu já podia ser comparado a um caça F-18 hornet. Fiz duas voltas completas por meu bairro tentando diminuir a velocidade e ao entrar na minha rua já estava a mais ou menos 90km/h.
Encontrei um terreno bom para frear, Huterfield não ia gostar disso, eu destruí o seu jardim. Fui direto pra casa com meu tênis destruído. Meu pai, que cochilava assistindo jornal, acordou com o baque da porta se fechando atrás de mim.
— Pai, eu vou tomar banho e dormir, não estou com fome. Não se preocupe, só estou cansado. — falei rápido, ele assentiu e voltou a dormir.
Tomei um rápido e revigorante banho e fui me deitar. Estava ansioso pelo dia seguinte, o dia das respostas, o dia que conheceria outros como eu. Acabei adormecendo em poucos minutos.
Sexta feira. O dia. Levantei da cama com um pulo e fui até a cozinha, meu pai já havia saído para o trabalho. Escovei os dentes, me arrumei e saí. Pensei na possibilidade de Caterine prever onde eu iria, então fui para um lugar conhecido, a quadra de esportes da área. Fiquei dez minutos ali, esperando que ela previsse, mas nada. Comecei a achar a ideia toda uma furada, então resolvi sair. Como sentia muita fome, resolvi ir ao primeiro carrinho de lanche que encontrei. O homem do carrinho de hot dog era profissional e preparou rapidamente meu pão, me entregou e eu o paguei. Ao me virar para sair dei de cara com Caterine.
— Então, você está pronto? — ela precisa realmente parar com isso.
— Estou, vamos. — respondi.
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Em um segundo
PertualanganEm um segundo conta a história de um jovem de 17 anos que em um certo dia fora abençoado com uma nova habilidade e "em um segundo" toda sua vida mudou.