Capítulo 1

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Estava evitando pensar muito nos últimos tempos, mais precisamente a meses. Simplesmente por que toda vez que pensava no que a minha vida tinha se tornado, meus olhos se enchiam de lágrimas e tinha vontade de me deitar em posição fetal chorando rios, mares, oceanos.

É tão estranho como as pessoas podem mudar completamente, não é? Você parece conhecer uma pessoa e de repente descobre que não é bem assim, que apenas foi ingênua, ou trouxa, o bastante para não ver quem ela era de verdade.

Foi assim comigo.

Conheci Gabriel quando estava no terceiro ano do ensino médio. Último ano da escola, formatura, festa, amigos, parece ótimo, não é? Pois é, eu também achava, pelo menos no começo.

Eu e Gabriel nos conhecíamos desde o começo do ano, quando ele se mudou para a minha escola. Ele era bonito, com seus olhos verdes que pareciam brilhar. Um anjo, como o nome mesmo diz, mas infelizmente só por fora. Pena que descobri isso tarde demais.

Fomos nos aproximando aos poucos na escola e nos apaixonamos. Depois de algum tempo ele me pediu em namoro e obviamente aceitei. Posso dizer que foram momentos maravilhosos, pelo menos nos primeiros cinco meses, até ele finalmente começar a mostrar quem era.

No começo minhas roupas nunca o incomodavam. Não que usasse coisas extravagantes, não era nada muito curto ou decotado, mas até meus shorts ele começou a querer regular. Eu estranhei um pouco, mas levei na esportiva. Até fazia algumas brincadeiras quando ele começava de ignorância.

Deus como fui burra.

Depois continuou com a maquiagem. Meu delineador o incomodava e o batom era chamativo. Simplesmente não conseguia entender. Ele não tinha me conhecido assim? Não gostou de mim exatamente desse jeito? Porque querer me mudar então? Porque me transformar em outra pessoa?

Nossas brigas começaram a aumentar. Lembro que no final daquele ano, entre o natal e o ano novo nós brigamos feio. Foi a primeira vez que Gabriel tocou em mim. Aparentemente nada demais, não para Anaju daquela época, afinal ele só tinha segurado meus pulsos, nem chegou a me bater.

Pobre iludida.

Mas ele pediu desculpas, disse que se excedeu e até se ajoelhou na minha frente. E o que eu fiz? Sim, perdoei, afinal o amava, ou achava que amava.

Passamos o ano novo juntos e foi muito bom. Decidi que deixaria o passado no lugar dele e que o ano seguinte seria diferente.

Pobre iludida parte dois.

O ano seguinte começou até normal, mas só começou. Gabriel então achou uma nova implicância, minhas amigas. Eu já não podia mais sair com elas. Garotas que namoram não podem sair com garotas solteiras, foi o que ele disse.

O que Gabriel achava? Que eu ia trair ele? Que elas me influenciariam a isso? Mais uma vez deixei de lado. Era ciúmes, porque ele me amava.

Já posso rir disso?

Tinha decido que não entraria na faculdade naquele ano. Faria um cursinho de corte e costura, me dedicaria no curso de inglês e estudaria para ano que vem conseguir uma bolsa. E foi o que fiz.

Já não saia mais de casa. Minhas amigas estavam esquecidas, nem sabia mais sobre elas, a não ser por uma ou duas mensagens por mês e olhe lá. Minha vida se resumia aos cursos e a Gabriel. Nós nos víamos todos os dias. Ele também tinha decidido prestar o vestibular só ano que vem. Estávamos com planos de estudarmos e morarmos juntos.

Hoje quando penso nisso agradeço a Deus por não ter ido antes, nas várias vezes em que ele me chamou para morarmos só nós dois.

Então a gota d'agua foi no final desse segundo ano. Eu já estava completamente desanimada. Parecia que algo me sufocava por dentro e até sentia falta de ar as vezes. Tinha dias que queria passar o dia todo na cama, enrolada na coberta. Hoje sei que isso tinha um nome: Depressão. Tenho até arrepios ao pensar nessa palavra.

Como pode uma pessoa deixar chegar a esse ponto? Como eu deixei isso acontecer?

Naquele natal meus pais decidiram fazer a ceia em nossa casa. Como previsto convidei Gabriel para passar conosco. Ele fez um pouco de birra, pois não gostava muito dos meus primos, mas nós só os víamos em datas comemorativas, não tinha porque se incomodar tanto.

No dia vinte quatro, na virada para o dia vinte e cinto, nós estávamos todos na sala conversando. Até meus avós que já estava morrendo de saudade vieram. Gabriel e eu estávamos sentados em um dos sofás e Lisa, minha prima, conversava comigo sobre sua faculdade de engenharia.

Quando meu suco acabou pedi licença e fui até a cozinha pegar mais. Fernando, meu outro primo, apareceu e começamos a conversar. Ele era dois anos mais velho e morava em Curitiba.

Não sei dizer ao certo como começou, acho que porque eu não consigo achar uma razão, só sei que vi de relance Gabriel parado a porta da cozinha nos encarando. Virei em sua direção, mas ele simplesmente saiu andando a passos duros. Corri atrás dele, literalmente, e o parei no jardim na frente da casa. Segurei seu braço e fiz com que me olhasse.

O que estava acontecendo afinal?

Foi então que Gabriel começou a jogar em cima de mim todas as palavras mais ofensivas que você pode falar a uma mulher, ou ser humano.

Eu estava parada. Paralisada. Não conseguia entender o motivo daquilo, mas ele continuava me insultando, falando como se eu fosse um nada e ele fosse o melhor.

Senti uma raiva começar a crescer dentro de mim, subindo até se acumular em minha garganta, como se fosse um nó que estivesse entalado ali. Então sem pensar muito levantei minha mão e acertei em cheio seu rosto.

O que eu tinha feito? Aí meu Deus!

Vi os olhos dele se fecharem um pouco e em seguida eu já estava no chão. Sim, ele tinha me acertado. Tinha dado um soco no meu rosto.

Ainda caída ali só conseguia encara-lo com os olhos arregalados, sentindo a fixa do que tinha acontecido cair sobre mim. Mesmo que não quisesse acreditar naquilo.

Percebendo o que tinha acabado de fazer Gabriel até tentou se ajoelhar ao meu lado, mas fui mais rápida e levantei correndo para dentro de casa. Subi a escada e me tranquei no quarto. Simplesmente não queria acreditar que aquilo tinha mesmo acontecido.

Então hoje, sete meses depois, ainda custava a crer que isso tinha realmente acontecido comigo. Nós nunca achamos que estamos sujeitos a essas coisas.

— Filha... — Minha mãe chamou aparecendo na porta do quarto.

— Oi. — Me ajeitei melhor na cama, sentando.

— Tudo pronto para amanhã? — Questionou sentando perto de mim.

— Tudo sim. — Concordei sorrindo.

Sabia que não tinha sido fácil nem para ela e meu pai quando souberam de tudo. Até porque não tinha como esconder um olho roxo.

Foram meus pais que seguraram minha mão enquanto estava na delegacia prestando queixa contra Gabriel. Foram eles quem me consolaram e disseram que tudo aquilo ia passar, que voltaria a ser a garota que sempre fui. A garotinha deles.

— Vou sentir saudades. — Confessei a abraçando o mais forte que conseguia.

— Eu também, meu anjo. — Sussurrou retribuindo o abraço.

Respirei fundo sabendo que uma nova etapa estava começando na minha vida. Era um novo ciclo. Onde eu tinha esperança e muita fé de que coisas boas aconteceriam. O passado ficaria para trás, enterrado em um buraco fundo e com uma pedra em cima, só para garantir.

Nos separamos e minha mãe segurou minha mão, enquanto me olhava sorrindo, passando toda confiança de que eu precisava.

Sim. As coisas dariam certo.

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