Sabe quando parece que as coisas estão dando certo demais e você fica com medo, porque está tão acostumada com o contrário. Pois é, eu estava assim.
Desde que me mudei e comecei essa nova etapa da vida as coisas vinham dando certo. A faculdade, o trabalho e minha vida pessoal estavam fluindo.
Conheci algumas pessoas na faculdade, que de colegas passaram a ser amigos e isso era bom, porque tinha esquecido de como era se sentir bem perto de quem gosta mesmo de nós. No trabalho também tinha feito boas amizades. Marcus e Luiza foram legais comigo desde que cheguei a cafeteria, eles me ensinaram com paciência e dedicação tudo que teria que fazer.
Posso dizer que eu estava feliz. Depois de muito tempo sem saber o significado dessa palavra, finalmente estava sendo feliz. Podia até parar e pensar no futuro sem ter mais medos e essa sensação era maravilhosa.
— Terra chamando Ju. — Luiza chamou a atenção enquanto estralava os dedos em frente ao meu rosto.
Pisquei algumas vezes voltando a realidade. Tinha viajado completamente em meus pensamentos.
— Desculpe... — Sorri levemente.
— Volte a terra porque tem alguém lhe esperando. — Avisou indicando com a cabeça para algo atrás dela.
Olhei por sobre o seu ombro e encontrei a mesa ocupada por três pessoas, ou melhor, três homens. Mordi o lábio quando consegui identificar um deles. Era Fábio.
A uma semana eu vinha sentindo esse calor no peito todos os dias. Isso porque Fábio resolveu aparecer a semana toda no horário da tarde para tomar seu café. Em dois dias estava acompanhado de um amigo e hoje este mesmo amigo também estava, mas com outro junto.
Nesta semana foi eu quem o atendi em todas as vezes. Algumas por coincidência mesmo e outras por insistência de Luiza, que dizia saber o motivo dele vir todos os dias. Fábio sempre pedia a mesma coisa, café duplo, as vezes para tomar aqui e em outras para levar.
No final, mesmo que não quisesse, já tinha me acostumado com o fato de vê-lo todos os dias. Quando chegava perto das seis horas da noite meus olhos já iam para a porta, esperando que Fábio entrasse com seu costumeiro sorriso de canto.
— É sua mesa. — Contestei fazendo Luiza revirar os olhos em desdém.
— Como se ele quisesse mesmo olhar para a minha cara. — Debochou bufando baixo — Você sabe porque ele está aqui.
— Para beber um café. — Respondi e ela negou com a cabeça.
— Não adianta se iludir. — Insistiu em tom de repreensão — Agora saia desse balcão e vá até lá.
Luiza já me puxava para fora e colocava o bloco e a caneta em minhas mãos. Olhei feio para ela, mas suspirei baixo rendida e segui até a mesa onde os três homens estavam.
— Olá, — Chamei a atenção, engolindo meio em seco — Posso anotar o pedido de vocês?
— Pode, vou querer um café preto, sem açúcar. — Falou um deles.
— Ok. — Anotei o pedido e virei em direção ao outro.
— Um cappuccino com chantilly. — Pediu e anotei também, finalmente me virando para Fábio.
— Duplo? — Perguntei dando um pequeno sorriso.
— Isso. — Concordou.
— Mais alguma coisa? — Questionei olhando para cada um deles.
— Só. — Afirmou um dos homens.
Assenti concordando e pedi licença, voltando até o balcão. Luiza estava atrás dele e sorriu assim que viu que me aproximava.
— Então... — Incentivou movendo suas sobrancelhas sugestivamente.
— Então nada.... Pare com isso Luiza. — A encarei com seriedade fazendo com que ela bufasse e revirasse os olhos — Agora peça a Marcus que prepare esses pedidos.
Entreguei a ela o papel e sem esperar que dissesse algo mais, segui até as outras mesas. O movimento no café era constante, isso porque ficava em um ponto bom no centro, além de que os cafés, doces e salgados eram de ótima qualidade.
— Ju. — Luiza chamou e voltei ao balcão — O pedido do seu boy. — Avisou dando uma risadinha baixa.
— Não brinque com fogo. — Alertei fazendo sua risada aumentar.
Peguei a bandeja e caminhei com cuidado até a mesa, onde agora os três homens conversavam e davam risada. Vi o sorriso no rosto de Fábio e fiquei feliz por isso, afinal queria dizer que as coisas estavam melhores. Pelo menos esperava que sim.
— Com licença, — Chamei a atenção deles — O pedido de vocês.
Coloquei as xícaras na frente de cada um. Eles agradeceram e dei um pequeno sorriso antes de voltar ao balcão. Olhei no relógio da parede e suspirei baixo, faltava apenas uma hora e meia para meu horário acabar. Respirei fundo e sorri para uma senhora de meia idade, começando a atende-la.
Estava terminando de servir um homem de meia idade, quando vi Fábio e os amigos se levantarem da mesa. Luiza já tinha recebido o dinheiro e a comanda.
— Obrigado. — Agradeci ao homem que sorriu saindo com seu expresso.
Sem que conseguisse me conter olhei para a frente e acabei encontrando com Fábio, que me encarava com um pequeno sorriso nos lábios. Ele acenou discretamente com a cabeça e antes que me segurasse já estava retribuindo seu sorrindo, mais animada do que deveria e queria.
Respirei fundo e abaixei os olhos para o balcão fingindo que havia algo muito interessante nele.
— Não adianta disfarçar. — Luiza sussurrou perto do meu ouvido fazendo-me pular de susto.
— Credo menina. — Coloquei a mão no coração sentindo-o acelerado.
— Você está na dele. Assuma. — Sorriu arqueando uma sobrancelha em desafio.
— Não assumo coisas que não são verdade. — Resmunguei dando de ombros.
Vi Luiza revirar os olhos, mas a ignorei. Peguei o bloco e a caneta, já andando até uma mesa que tinha acabado de ser ocupada por três garotas. Trabalhar com certeza distrairia a mente e era o que estava precisando, ou daqui a pouco começaria a acreditar nas besteiras que Luiza falava.
Convenhamos que o que menos precisava era voltar a ser a Anaju ingênua e boba de antes. Estava muito bem assim e não queria mudar. Meu coração estava fechado para balanço e semprevisões de quando voltaria a funcionar. Pelo menos era o que repetia para eu mesma sempre, sem parar.
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Começar De Novo [✓]
RomanceAnaju é uma garota de 19 anos, nova na idade, mas que já passou por muita coisa. Após sair de um relacionamento abusivo de dois anos, decidiu que nunca mais iria se apaixonar, ninguém mais a machucaria. Ela não deixaria. Isso até funcionou por um...