Caos 6

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   Quando o dia raiou, segui meu cotidiano: levantar, banho, comida e escola.
   As coisas que peguei do quarto de Luna estavam na minha mochila.
   No momento do intervalo segui discretamente para a biblioteca, tanto para não ser perturbado quanto para não me verem, já que pouco gente entrava ali. Aquela biblioteca era bem grande e bem obscura, fria e macabra.
   Me sentei em uma mesa bem afastado dos outros que estava entre duas grandes estantes. Tirei o diário da mochila e voltei a ler.
   Eu sentia algo estranho ao ver os desabafos da garota.
   " 23:45/ Querido diário, não sei onde estão meus pais, eles saíram pra trabalhar e ainda não voltaram, sendo que eles estão em casa mais ou menos umas 15:20h, mas dessa vez ainda não voltaram."
   Olhei ao redor ao sentir que algo se aproximava de mim, mas não era nada, portanto, voltei a ler.
   " 01:15/ Eles dois acabaram de chegar, estão bêbados. Eles me abandonaram aqui com a Camilla e a Suzy. Não sei o que deu neles. Melhor eu ir falar com eles? Ou então espero até amanhã? Que droga, odeio bebidas... "
   - Oi Enzo. - disse Ronald se sentando ao meu lado.
   Levei um susto enorme que tremi todo. Olhei para o lado e vi que não era nenhum tipo de ameaça, era apenas Ronald.
   - Oi Ronin. - disse tentando esconder o diário.
   - O que você faz aqui? - disse ele até que viu que eu estava com um diário em mãos. - você escreve diários?
   - O que? Isso? Não, isso é apenas um livro que peguei pra ler.
   - Relaxa mano, eu também tenho um. Não tem problemas. Posso ver a capa?
   - Melhor não.
   - Deixa vai, eu não vou abrir.
   - Ele não é meu.
   - Ué, de quem é então?
   Fiquei um bom tempo pensando se realmente deveria dizer. Mas Ronald sempre foi um cara legal, nunca foi de dedurar ninguém.
   - Sabe aquela menina que desapareceu? Uma tal de Luna?
   - Sei, o que tem ela?
   - Esse diário é dela.
   - Ué, porque você está com ele?
   - Não sei, desde o dia que fui forçado a zoar ela que me sinto mau, eu havia ido pedir desculpas mas ela havia desaparecido, então meio que invadi a casa dela e acabei que pegando um dos diários.
   - Nossa, que estranho. Eu lembro desse dia, quando você rasgou toda a camisa dela em público. Mas porque?
   - A Larissa e o Marco me forçaram.
   - Tinha que ser - disse ele se sentando ao meu lado e revirando os olhos - eles sempre estão forçando os outros a fazerem o que eles querem. Que merda.
   O sinal toca.
   - Tenho que ir, falou. - me levantei e fui em direção a porta.
   - Tchau.
   - Você não vai agora? - disse quando o vi ainda sentando ajeitando uns livros.
   - agora não, tenho algumas coisas para resolver. - juntou os livros e os levantou com as mãos embaixo e os carregou para dentro da biblioteca e desapareceu por entre as prateleiras.
   Segui para a sala. Tivemos aula de geografia, o professor falava novamente da Guerra Fria.
   Fiquei contando os segundos para que o sinal tocasse para o almoço, aquela aula estava muito chata, além do mais porque eu já havia estudado aquilo em algum dos anos anteriores.
   Quando enfim o sinal bateu para o almoço, segui para o refeitório e logo comecei a comer para terminar logo e poder voltar a ler. Ao me levantar da mesa dos "populares" Larissa que estava do meu lado perguntou: - aonde vai Enzo?
   - Tenho que ver umas coisas com o treinador. - é bem inacreditável o quanto uma mentira pode sair das nossas bocas com tanta naturalidade e rapidez.
   - Então tá, mas volta logo meu amor.
   Nunca fui muito com a cara dela, mas ela sempre foi e parece que sempre será a menina mais cobiçada e famosa de toda a escola e se eu quisesse manter minha fama teria que continuar aturando ela.
   Fui realmente até o campo, mas não falei com ninguém, porque além do mais ali não havia ninguém.
   Fui até o fim da arquibancada e me sentei no topo.
   Peguei o diário. Marquei com a fita que achei naquele dia e comecei a ler.
   "08:25/ hoje não fui pra aula, dei uma desculpa que estava doente pra não ir, estou trancada no meu quarto pois meus pais passaram a noite brigando e ninguém conseguiu dormir, não dava pra entender sobre o que eles brigavam, pois estavam bêbados. Daqui a pouco vou sair daqui pra tentar impedir que eles acabem pegando as facas e acabar fazendo algo sério. Eu e a Camilla passamos a noite todo tentando acalma-los, porém não deu muito certo. Estou bastante preocupada. Não quero que isso continue."
   Olhei ao redor para ver se algo vinha ao meu encontro, mas não havia nada, então passei as página.
   "02:04/  estou no hospital mais minha mãe que levou um forte golpe do meu pai durante uma discussão em um bar aqui perto. "
   "12:20/ não fui para aula porque tenho que ficar com minha mãe em casa, os médicos já a liberaram, porém meu pai continua preso. Uns policiais ligaram e disseram que meu pai seria liberado essa noite, porém pra prevenir que ele não faça alho errado aqui em casa, dois deles ficaram por aqui também para vigiar... eu não me importo em ter faltado aula, já que eu teria aula de bullying hoje de novo, não me importo em falta pois tenho essa "aula" todos os dias mesmo."
   Sinal toca, hora de voltar a sala.
   Guardo o diário na mochila marcado pela fita que peguei. Não conseguia parar de pensar naquele acontecimento e naquela sombra.
   Naquele dia houve aula de inglês,  porém não consegui parar de pensar em Luna.
   - Onde será que ela está agora? - pensei - será que se matou? Que droga, porque eu fui fazer aquilo? Como sou idiota...
   Ao fim da aula fui para o treino do time. Como sempre, Larissa estava na arquibancada me olhando. Eu não consegui me concentrar no treino, o que fez o treinador chamar minha atenção ao fim do treino.
   Quando saí, Larissa me acompanhou, ela me disse que estava um pouco preocupada, eu estava começando a agir um pouco estranho. Sinceramente, ela nunca se preocupou comigo, só com minha fama e que com isso ela ficasse bem mais famosa.
   Ela me levou até a praça da cidade e ficamos em um banco perto da fonte d'agua.
   - O que houve meu amor? - disse Larissa passando o braço pelos meus ombros  e se aproximando. Aquela voz me irritava um pouco, tanto por ser bem aguda quanto por ser sarcástica.
   - Nada de mais - olhei para a fonte - só estou bem pensativo mesmo.
   - Você está parecendo aqueles nerds. Se anima, que tal sairmos essa noite? - perguntou Larissa quase subindo no meu colo.
   - Não vai dar, estou bem cansado.
   - Vamos amor, vai ser legal.
   - Já disse que estou muito cansado Larissa. - tiro os braços dela de mim - Melhor eu ir pra casa que amanhã tem treino novamente.
   Tirei as pernas dela de cima das minhas e me levantei. Peguei minha bolsa e fui embora.
   Aquilo foi bem estranho, pelo menos para mim, eu nunca negaria nada a ela. Mas já era, já fiz.
   Fui para casa deixando Larissa naquele mesmo banco. Eu realmente estava cansado, que quando cheguei logo me joguei na cama e logo dormi.
  

A dama do caosOnde histórias criam vida. Descubra agora