Me levantei de um susto. Minha respiração estava forçada e meu coração acelerado. Olhei ao redor e através da janela pude ver que o sol estava nascendo. Me sentei na beira da cama, fitei o olhar nos meus pés e após passei a palma das mãos sobre os olhos enquanto bocejava. Me levantei e fui me banhar. Ao sair pude sentir um cheiro bom de café e logo fui até lá para comer. Minha mãe estava preparando panquecas e aquele magnífico café que somente ela sabia fazer.
Comi e voltei para me arrumar.
Juntei logo as coisas que iria levar para Luna na minha mochila e pus perto da janela, escondida. Fui me vestir.
Uma camisa sem mangas totalmente cinza, um short jeans, mas com um de tecido fino por baixo e um tênis preto.
- Você vai assim? - perguntou minha mãe quando passei pela cozinha para pedir sua benção.
- Mãe, é uma festa adolescente e na beira da praia ainda por cima.
- Tudo bem. Cuidado. Se for chegar tarde ligue pra mim não ficar tão preocupada. - disse ela se me acompanhando até a sala.
- Espera! Esqueci de separar outra roupa. Caso eu me banhe na piscina e não tenha outra roupa para vestir. - subo rápido para meu quarto e ponho numa pequena mochila um outro short, camiseta e um par de chinelos. Desço as escadas voltando até onde ela estava e ela me segue até a porta e sigo caminhando enquanto ela me observa - que droga, ela não vai entrar? - pensei olhando ela pela visão periférica.
Quando estava quase virando a esquina vi que ela entrara. Esperei um pouco e voltei correndo e peguei minhas coisas pela janela. Segui até o ponto de ônibus e logo ele apareceu e fui a praia. Que bom que não havia nenhum conhecido por ali naquele dia. Passei numa pizzaria ali perto e comprei duas pizzas de pepperoni e uma garrafa de refrigerante. Depois passei na floricultura e comprei um pequeno buquê de flores roxas, já que naquele dia não pude entregar a ela.
Segui até próximo a mata e ao ver que não havia ninguém ali para me ver entrando, pulo bem rápido para dentro e vou em direção a cabana de Luna. Quando desci o barranco logo fui até a barraca.
Ela dormia. Naquela areia fria e fofa. Abraçava seus diários. Mesmo dormindo, eu podia ver nela um leve sorriso.
Deixei as flores encima das pizzas e o refrigerante ao lado de suas pranchas próximo a ela.
Segui até a mata e juntei um pouco de palha que havia jogada ali no chão e levei até a praia. Me sentei no tronco que rodeava as cinzas da fogueira da noite passada e comecei a separar as palhas e a tecer as mesmas uma na outra.
De repente Luna chega por trás de mim. Vinha abraçada com o buquê de flores. Os cabelos um tanto bagunçados.
Tomei um leve susto.
- Bom dia. - disse ela se sentando ao meu lado.
- Bom dia. - respondi - dormiu bem?
- Sim. - respondeu Luna que encostou sua cabeça em meu ombro, por ainda estar com sono - são lindas.
- O quê? - perguntei.
- As flores. Amei essa cor.- Depois daquele acontecimento, demorei para criar coragem, mas enfim resolvi pedir desculpas, mas quando cheguei lá você não estava mais. Eu havia comprado flores iguais a estas.
- Você... conheceu meus pais? - sussurrou ela, parecia meio preocupada.
- Sim.Olhei para ela e vi que seu semblante entristeceu-se.
- Sente saudades? - perguntei.
- Não. Odeio eles. - respondeu - eles sempre me trataram como lixo. Como se eu fosse apenas um objeto deixado no sótão que só serve pra acumular poeira.- Ah... sinto muito. - disse após alguns segundos, já que não sabia muito o que falar.
- Não precisa lamentar. Só quero que eles se explodam. - respondeu ela firme se levantando e seguindo até a barraca.
- Luna! - disse firme me levantando - Não é assim que se resolve as coisas. Não é se distanciando e desejando o mau aos outros que vai resolver seus problemas.
Ela parou. Mas não olhou para mim.
- Você não sabe de nada mesmo. - então olhou para mim - O que você sabe sobre mim, Enzo? O que sabe sobre minha família? Você nunca entenderá minha classe social. Você sempre foi o perfeito, o desejado, o líder do time, sempre com as meninas mais lindas chovendo em você, sempre recebendo carinho e compreensão dos pais. Você não faz a mínima idéia do que é excluída e rejeitada até pela própria família!
Eu não sabia o que responder, ela estava certa. Eu não fazia idéia como era estar no lugar dela.
Então entrou.
Sabe, eu estava confiante nas teorias que contei em base nos diários, mas não é assim. A prática é diferente da teoria. As teorias são fáceis, agora, por em prática é muito ruim.
Mas eu não podia desistir. Lutei de mais para chegar até ali. Além do mais, não podia dar mais um motivo de sofrimento a ela.
Fui lentamente até a barraca já escolhendo as palavras com o que usar.
Entrei. Ela estava sentada no canto da parede, abraçando as pernas.
- Sabe, Luna, eu sei que nunca vou entender seu sofrimento na prática. Nunca mesmo. Mas você não precisa se fechar. - me aproximo - nesse mundo, não importa onde seja, há alguém que nos pode fazer sentir bem, que nos faz sentir perfeitos, que nos faz sentir especiais a sua presença. - me abaixei em sua frente e ergui sua cabeça fitando meu olhar no dela - E eu queria ser esse seu companheiro para tudo. Não importa como, farei de tudo para te ver feliz, mas você tem que contribuir, não adianta ficar apenas sentada esperando e quando chegar se esconder. É difícil confiar em alguém com esse seu histórico, mas acredite em mim. Já errei com você uma vez, não quero fazer de novo.
Não sei, acabaram as palavras, não sabia mais o que falar. Afinal, tinha mais o que se falar?
Ela me olhou, sorrio, soltou as coisas no chão e me abraçou. Então retribui. Com força. Com carinho. Com proteção. E ela se entregou ao meu abraço, até que senti algumas lágrimas descerem pelo meu ombro. Ergui novamente seu rosto e enxuguei suas lágrimas.
- Prometo, você vai estar sempre bem ao meu lado. - disse.
- Obrigada. - respondeu ela soltando um leve sorriso entre as lágrimas que ainda desciam.
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A dama do caos
Misterio / SuspensoDesde muito nova, Luna sofre com bullying, tanto físico quanto psicológico. Foi desprezada por seus pais que davam atenção apenas aos irmãos mais novos dela e seu único amigo era um velho diário. Aos quinze anos ela se apaixonou por um rapaz de s...