Capítulo 7

108 13 8
                                    

Trigésimo oitavo dia do primeiro mês, ano 7302.

Cena I - O Peso do Luto.

07 horas em ponto. Reino Elfo - Eyrell. Castelo Real.

-Meu rei, minha rainha... -Apresentou-se, reverenciando, um dos guardas do castelo. -Um mensageiro ramaveno deseja vê-los.

-Mande-o embora. -Disse Rei Zadell. Ele, assim como a Rainha Maya, perderam a felicidade de governar desde o suicídio da filha. Eles têm outro filho, Hélio Jardais de treze anos, e que, mesmo antes da morte de Kayena, já era herdeiro do trono. Pela legislação dos elfos, Kayena seria a herdeira de direito por ser a primogênita. Contudo, o Tratado de Número Dois da União Real diz que o herdeiro deve ser sempre o filho homem mais velho.

-Diga que a mensagem foi recebida ontem por telepatia e que estaremos em Ramavel amanhã para a assembleia. -Rainha Maya concluiu para tentar suavizar a grosseria do marido.

Uma curiosidade: Diferentemente dos outros reinos, em Eyrell rei e rainha detêm o mesmo poder, da mesma forma que quaisquer outros homens e mulheres do reino.

-Sim, majestade. Com vossa licença... -E saiu.

-Maya, essa reunião é uma afronta! -O Rei comentou com sua rainha. Zadell acabou por desenvolver um tique nervoso após a morte da filha; vez ou outra, ele passa a mão pelos cabelos louros, longos o suficiente para cobrir-lhe as orelhas pontiagudas, e arranca um dos fios. Como fazia agora. -Quando ela... quando aconteceu... a União não se manifestou para nos ajudar. Não nos enviou sequer uma mensagem de conforto.

-Sei disso, Zadell. Também não desejo sair de Eyrell ainda em luto. -Não só a família real, mas também todos os funcionários e membros da realeza ou da nobreza, vestiam-se de preto. -Porém o chamado partiu da Deusa, não dos gigantes. -A rainha também tinha um cacoete: Desfazia e tornava a refazer a ponta da trança em seu cabelo preto.

Ainda que castigada pelo sofrimento de perder a filha, era uma mulher muito bonita; pele bem morena quase avermelhada, olhos amendoados e escuros como jabuticabas e cabelos longos e brilhantes, trançados e enfeitados com miúdas flores brancas.

-Como sempre, amada, tens razão. -Rei Zadell abraçou-a, enquanto caminhavam sem rumo pelos corredores do castelo.

***

Cena II - Desaparecida.

10 horas e 06 minutos. Reino Humano - Feltares. Boticário de Velma Cann.

-Bom dia, senhora Cann! -Catarina cumprimentou ao entrar na lojinha.

Havia pouco espaço e o pouco que havia era ocupado por estantes e prateleiras abarrotadas de frascos, ampolas, maços de ervas e todas essas coisas usadas em remédios e perfumes.

-Nós viemos saber como a Vívian está. -Meline falou.

-Ora, achei que ela estivesse com vocês. -Respondeu a mãe de Vívian. Eram exatamente iguais; pele clara, olhos escuros e cabelo preto e comprido. A única diferença de mãe para filha era que a rechonchuda Velma Cann possuía alguns quilos a mais. -Ela me disse que sairia com as Dragonesas.

-Sim, mas só saíram as mais velhas. -Catarina andava pela loja destapando e cheirando cada frasco de perfume ou loção para a pele que encontrava. -Elas foram beber enquanto Meline e eu ficamos em casa jogando cartas.

-As outras já voltaram e disseram que Vívian tinha conhecido um homem e que os dois saíram juntos depois de quase se matarem de pancada... -A maga acrescentou.

-Pela Deusa, então ela sumiu outra vez?!

-Calma, senhora Cann. Nós só ficamos preocupadas porque ela ainda não chegou e nós três combinamos de visitar o Hospital Central do reino. -Catarina mentia bem a ponto de acreditar na própria mentira. Na verdade ela criou a lorota ali na hora para encobrir a amiga.

A Herdeira de ZaatrosOnde histórias criam vida. Descubra agora