Capítulo 14

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Quadragésimo primeiro dia do primeiro mês, ano 7302.

Cena I – O Saque.

23 horas e 20 minutos. Reino Anão – Ruthure. Fortaleza dos Guardiões das Chamas.

Os quatro estavam ali, às portas da fortaleza, para saírem em uma missão às escondidas do restante do clã. Todos em roupas escuras para se misturar melhor à noite. Hilda usava seu único vestido de tons sombrios, cinza chumbo com luas e estrelas prateadas; Kira, um manto roxo escuro e bem justo. Manu, de calça e camisa pretas, tremia de nervosismo com Garras enrolada no pescoço. Já Darius estava como um puma: trajava seu corselete de couro negro, projetado especialmente para ações noturnas, uma calça bem justa de tecido flexível, uma capa preta sobre as costas e uma máscara que cobria-lhe a boca e o nariz. Tudo obscuro em contraste com os braços brancos e nus que não eram cobertos pela roupa.

-Trouxe tudo de que precisa? -Perguntou ao elfo a cigana.

-Tudo aqui. -Disse ele afastando a capa e mostrando uma pequena mochila. -Ainda não entendi como você conseguiu enganar o Cícero, Hilda.

-Ele sabe que estamos saindo. Sabe tudo que eu penso, mas preferiu não ir junto. Vai dar o alarme aos outros, caso nos metamos em perigo.

-Cícero é um cara legal. -Elogiou-o Manu. -Olhem o que ele me deu. -Disse estendendo a mão e exibindo um anel dourado com uma pedra quadrada e vermelha.

Sobre a cabeça de Kira se formou uma frase:

"É mágico ou ele te pediu em noivado?"

Todos, incluindo Manu, riram da piada e ele respondeu:

-Sim, é mágico. Eu não tenho talento com nenhuma arma e esse anel vai ser a minha. Ele não é do tipo que produz feitiços. Cícero explicou que ele contém um feitiço de energia gravado em si, que se traduz em um tiro de energia ou em um campo de força pequeno.

-É melhor do que nada, amigo. -Disse Darius. -Vamos andando?

E foram. Não era um longo caminho até os Arquivos. Caminharam sem pressa, observando a paisagem até a cidade. A noite estava muito abafada, seu céu ricamente pintado de estrelas e o belíssimo Satélite Raus em sua fase crescente.

Às portas dos Arquivos, Hilda os parou e repassou os planos: entrariam rápido e destrancariam o alçapão. Procurariam algo importante lá dentro, roubariam o que pudesse ser útil e dariam no pé para longe dali, deixando tudo exatamente como antes. Sem rastros.

-Você fala como se eu fosse um principiante, querida. -Disse Darius aos sussurros ao remexer a bolsa à procura das gazuas certas para abrir o portão de entrada.

-Não sou sua querida, na verdade tenho um leve nojo de você. -Rebateu ela.

-É assim que começa. Só não se atire aos meus pés depois, implorando um pedaço do elfo mais bonito de Zaatros! -Riu-se Darius, fazendo a fechadura girar e abrir. -Damas primeiro. -Arrematou com uma reverência, dando passagem para Hilda e Kira.

-Ah se algum dia eu quiser um pedaço seu, Darius, pode deixar que não pedirei. Arrancarei eu mesma, por livre e espontânea vontade, com uma faca cega e o atirarei aos cachorros famintos da praça. -Disse a cigana esbarrando forte e jogando o cabelo na cara elfo ao passar por ele.

O ladino ia abrir a boca para retrucar, mas Manu o repreendeu com um olhar severo e ele se calou novamente.

-Não toquem em nada, pode haver armadilhas ou alarmes. -Disse Hilda. -Venham, é por aqui!

A Herdeira de ZaatrosOnde histórias criam vida. Descubra agora