Saio do Vestiário.
Ao mesmo tempo em que fico chocada, abafo as sensações dentro de mim que me dizem pra não me sentir assim. Donatela me olha bastante séria ao lado do dono da empresa, ele em seu terno impecável e sapato social reluzente, arrumo minha bolsa de lado, ignorando Noah Baltimore completamente, ou a pessoa que ele representou na minha vida por algum tempo, estendo a sacolinha com o uniforme e as sapatilhas, as chaves do armário e o crachá.
– Eu sei o caminho da saída, Donatela. Muito obrigada pela oportunidade.
– Mas... Mas...
– Meu número – interrompo-a, e enfio o papelzinho no bolso dela. Esperava por ela, mas, jamais esperei por Noah, cansei de esperar ele há muitos anos atrás. – Com licença, que a garota enorme está saindo do recinto.
Giro os calcanhares e me afasto de pressa de ambos, eu não irei jamais me sujeitar a este tipo de coisa pra conseguir trabalhar em qualquer lugar que seja! Prefiro fazer bico de faxineira na casa dos Farrew ou ser garçonete a vida toda, mas eu não vou ficar sendo humilhada por ninguém por causa do meu peso. Isso já acontece com muita frequência na minha vida pessoal, já não basta isto, agora também no meu trabalho? Não mesmo!
A vontade que me dá é de voltar lá e dar um tapa bem servido na cara daquela vadia seca.
– Sam... Sam... Espera... Sam... Volta aqui!
Eu o ignoro completamente, não tenho por que atender aos seus chamados.
Noah não respondeu a nenhuma das minhas cartas durante três anos, ele também não fez questão de mim em nenhum desses treze anos; meus nervos vão ficando duros quando me lembro de todas às vezes que ele deixou de almoçar comigo na escola pra comer com a filha dos Collins, de todas às vezes que ele estava com os meninos do futebol americano usando uma jaqueta azul idiota, e eu estava servindo de chacota para as líderes de torcida, não esqueço o dia em que ele me viu na lanchonete da Betsy e virou a cara pra mim... Àquela foi a ultima vez que eu o vi.
Depois disso sumiu.
Evaporou.
Como diz mamãe, a terra comeu vivo!
Noah Baltimore morreu pra mim, ou ao menos foi isso o que eu achei durante esses anos, desde que ele decidiu me desprezar e esquecer-se da minha existência, pois, fiz o mesmo com ele.
– Sam...
Odiava quando ele fazia isso, tenho absoluta certeza que faz de propósito pra me encher a paciência.
– Sam, volta aqui... Você não pode fazer isso!
– É muito cinismo, meu Deus.
Estou sorrindo de um jeito tão amargo que minhas bochechas doem com o esforço. Não olho pra trás, entro na recepção da entrada de funcionários e passo pela porta dos fundos.
– Saaammmm... Que droga, volta aqui!
– Vai para o inferno, Noah Baltimore!
Explodo e me viro para ele. Noah está a apenas alguns metros de distância de mim, não penso duas vezes antes de fechar o punho e acertar uma direita bem servida no nariz dele. Noah recebe o golpe muito mais que surpreso e cambaleia pra trás colocando as mãos no nariz, um dos seguranças se aproxima, sacudo minha mão fazendo uma careta porque também machucou minha mão, o homem vem na minha direção, enérgico e Noah ergue a mão direita pro rumo dele, meu coração dispara enquanto se comprime, ele me olha ainda parecendo bem surpreso.
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Número 50 (DEGUSTAÇÃO)
Storie d'amoreSam e Noah foram os melhores amigos desde a infância, eles eram simplesmente inseparáveis, o garoto magrelo e a menina gorducha, o menino medroso e a menina corajosa, mas os anos foram se passando e durante a adolescência Noah se distanciou de Sam...