Capítulo 10

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Mil novecentos e oitenta e sete....

Fiz 15 anos!

Estava de férias da escola e do Senai, mas desta vez não iria para o estágio, afinal como os demais empregados, também tinha direito as férias trabalhistas. Muito bom! Iria aproveitar ao máximo cada segundo! Nenhum dos meus amigos trabalhava, portanto nas férias escolares o bairro era uma festa só! Jogar bola o dia inteiro, se reunir a noite nos banquinhos sob as árvores, cada um entrava com algum dinheiro e comprávamos garrafas e mais garrafas de vinho, alguém descolava o carro do pai e deixava parado na rua, com as portas abertas e o som muito alto, muita bagunça e apesar das broncas, jamais voltava pra casa enquanto não me chamassem.

- Murilo? A mãe mandou te chamar, é pra você entrar agora, já está tarde!

Olhei pra trás e dei de cara com meu irmão, mas que droga Lucas, tinha que aparecer justo agora? Disfarçadamente dispensei o cigarro que estava fumando, deixando-o cair no chão, mas e a fumaça? Que faria com a fumaça? Tentei engolir, mas não conseguia, prendi a respiração mas já estava ficando zonzo com aquilo.

- Já estou... – não consegui completar a frase, de uma vez soltei a fumaça seguida de uma crise de tosse frenética.

- Você está fumando?? Vou contar tudo pra mãe.

Antes mesmo de tentar dizer algo, vi meu irmão correndo em direção ao prédio.

Olhei pro pessoal, todos ficaram quietos. Pra variar o Tato tinha sempre uma frase de consolo para os momentos difíceis:

- Você tá ferrado Murilo, nossa nem quero ver o que seu pai vai falar!

- É, estou.

Sem dizer mais nada, fui pra casa. Tinha que inventar alguma coisa, mas o que poderia falar? Negar, simplesmente negar. O Lucas estava inventando, não tinha visto nada. Mas porque inventaria isso?? Não sei, na hora teria alguma idéia genial.

Entrei em casa, meu pai já estava dormindo com certeza porque a porta do quarto estava fechada, o que me aliviou bastante, menos mal! Minha mãe estava com as mãos na cintura, na porta da sala de jantar.

Já fui me aproximando todo afobado.

- Olha mãe eu não estava fumando não, é mentira dele!

- Não? Quer dizer que você não estava fumando?? Murilo sua boca está fedendo cigarro, estou sentindo daqui.

Como sou idiota, fiquei tão preocupado em inventar algo que esqueci do principal, agora nem adianta chupar a balinha de sempre, tarde demais. É o que dizem: fodido, então fodido e meio, tanto faz.

- Eu dei um traguinho só para experimentar, mas foi só isso!

- Não foi só isso não Murilo. Faz tempo que tenho reparado no cheiro de cigarro nas suas roupas. Porque não diz logo que está fumando? Eu não vou brigar, só preferia saber por você mesmo, do que pela boca dos outros.

Quem diria, ela estava calma. Por um instante fiquei feliz, iria ser o máximo! Imagina a cara da turma quando souberem que estou fumando em casa, enquanto todos fumavam escondidos? Grande oportunidade! Não perderia por nada, mas nada mesmo. A melhor coisa então era dizer a verdade.

- É mãe, é verdade, eu não queria contar, mas é verdade. Eu fumo, tudo bem então?

Se arrependimento matasse, morreria ali mesmo, como fui cair nessa? O rosto dela se transformou de imediato.

O que há   por trás do   pijama...Onde histórias criam vida. Descubra agora