O motorista deu uma olhada panorâmica na turma, parece que havia perdido repentinamente a pressa:
- E vocês tem autorização dos pais?
Um olhou para cara do outro. Autorização de quem? Era só o que faltava, esse motorista quebrar nosso barato. Minhas mãos soavam, tinha que entrar naquele ônibus de qualquer maneira. Será que ele insistiria mesmo naquilo? Sabia que era necessário a tal autorização, naquela época só era permitido viajar maiores de dezesseis anos e eu tinha acabado de fazer quinze. Com cara de garoto ingênuo, tentei ser simpático.
- Mas precisa de autorização? É aniversário de um amigo nosso e vamos comemorar lá.
Nunca dei um sorriso tão falso e nervoso, quem sabe ele se sensibilizaria? Não adiantou muito, com cara de vitorioso respondeu com um sorriso sarcástico.
- Sem autorização dos pais, nada feito!
- Eu sou maior de idade – Robson se apressou a dizer, entregando a passagem para o motorista e em seguida entrando no ônibus, que viadinho.
Mais dois ou três fizeram o mesmo, enquanto o restante ficou do lado de fora. Meu amigo sinalizou para sua tia que permanecia do outro lado da rua. Ao chegar explicou-lhe o que estava acontecendo e ela então tentou interceder:
- Boa noite senhor. O senhor não quer liberá-los?
- Não minha senhora. Sem autorização não é possível, estão viajando sozinhos.
- Mas eu vim até aqui para embarcá-los.
- Entendo minha senhora, porém apenas o responsável pode fazer isso.
- Eu sou a responsável. – disse a mulher, com a maior naturalidade do mundo.
- A senhora não pode ser responsável por todos.
- Posso sim, porque não? São todos meus sobrinhos.
Meu, essa foi demais. Tudo bem que eu seja um pouco cara de pau, mas aquela mulher estava querendo bater algum recorde. Nunca vi tantos carinhas diferentes num mesmo lugar, negros, loiros, morenos, tinha até japonês no meio da turma. Foi engraçado, não tinha como deixar de rir e até mesmo o motorista achou graça.
- Sobrinhos? Todos eles?
- Sim senhor – ela falava com a maior naturalidade do mundo.
- Quero a identidade de todos!
Enquanto entregávamos nossos documentos, as pessoas dentro do ônibus começavam a reclamar e ficamos mais nervosos ainda. O motorista pegou mostrou uma das identidades para a mulher, deixando a vista somente a foto.
- Então me fala o nome deste, qual é?
- Ahhh... não sei! Com tantos sobrinhos como vou saber o nome de todos? - respondeu já com um tom de brincadeira.
- Minha senhora, lamento mas eles não podem embarcar.
- Com quem posso falar sobre isso?
- Tem um posto do juizado de menores logo ali, no fim da plataforma, mas não dá tempo, estou muito atrasado. – respondeu o motorista já mostrando novamente um certo desconforto por causa do atraso.
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O que há por trás do pijama...
RomanceAssim começa a saga do Marc, o personagem do livro O Pijama, uma história envolvente, realista e com certos toques de humor. Quem não se viu em algumas situações na qual o Marc passou? Quem nunca buscou o grande amor? A verdade é que não sei se ess...