Prólogo

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Sol, mar, minha prancha e a galera, poderia ser perfeito, mas não, esse verão será muito mais difícil que o do ano passado. Ver a catástrofe que abalou a Vila foi fácil em comparação da que abalou a minha vida para sempre.

Hoje faz 5 dias que minha família sofreu um acidente de carro e fiquei sozinho no mundo. Isso mesmo, meus pais e irmãos se foram para sempre, como Deus pode deixar isso acontecer comigo? O que fiz de errado? Só pode ser carma de outras vidas, não há outra explicação racional. Não consigo apagar da minha mente a cena do acidente, fico vivendo aquele momento o tempo inteiro.

- Vem Matt, vamos pegar onda. - Chamou o Theo, meu melhor amigo desde que me conheço por gente.

- Estou indo. - Respondi amuado.

O pessoal me convidou, na verdade me obrigou, a sair de casa e pegar umas ondas com eles, estão todos aqui, o Theo, a Mari, o Rick, a Gabby e a Lua. Eles fazem de tudo para me distrair, sempre tem um ou dois enfiado em minha casa, estão fazendo revezamento para não me deixar sozinho, já saquei tudo, acho que estão com medo que eu faça alguma merda. Assim que voltamos do enterro expulsei todo mundo lá de casa, não queria a companhia de ninguém, só precisava ficar sozinho e pensar, mas eles são tão insistentes que nem se mexeram.

Levantei, limpei a areia da bermuda e peguei minha prancha, já que estou aqui, porque não me distrair um pouco e retribuir pelo menos um pouco do que fizeram por mim? Corri em direção ao mar, a cor da água já voltou ao normal, não tem mais aquela lama toda misturada, sabemos que é perigoso e arriscado entrar, por conta das substâncias químicas tóxicas que estão depositadas no fundo, mas já faz um ano que não pegamos umas ondas nesse pico, estava sentindo falta disso.

Depois de várias manobras, risadas e muitos caldos saímos da água e ficamos na areia tomando sol para secar o corpo antes de irmos almoçar e logo depois tenho que ir no escritório do advogado do meu pai, ele me liga todo dia desde o enterro, falou que tem um assunto muito importante para tratar comigo e tem que ser antes do final de semana, estou fugindo dele desde então, como o diabo foge da cruz, eu sei que ele quer abrir o testamento, mas a partir daí tudo será oficializado, minha família se foi.

É ridículo, eu sei, um homem do meu tamanho fugindo de um senhor baixinho, careca e barrigudo, mas ainda acho que estou preso em um pesadelo e é isso que quero continuar acreditando. E como hoje já é sexta-feira, logo, já não tenho mais como ignorá-lo e terei que ir querendo ou não.

O almoço foi bem descontraído, com conversas em grupo, as vezes paralelas, mas não conseguia me concentrar em nada, nem afim de comer eu estava, ora ou outra pegava a Lua me encarando, o Theo sempre fala que ela é caidinha na minha, gosto dela também, mas agora não dá, mesmo antes do acidente já não dava, não quero me apegar a ninguém, daqui um mês estou indo morar em Vitória, escolhi fazer o curso de oceanografia e consegui passar na UFES (Universidade Federal do Espírito Santo) e sei que relacionamento a distância não funciona, então me faço de desentendido sobre o assunto.

Logo estamos eu e Theo pegando a estrada até Linhares, é, chegou o momento que tanto adiei. O Rick e a meninas queriam vir junto, mas como não dá para ir todos em um carro só, achei desnecessário vir com dois e agradeci a preocupação deles e sei que quando chegar estarão me esperando no sofá de minha casa, acho que fizeram uma cópia da chave, não é possível.

A viagem demora certa de 1h e agradeço aos céus por hoje não ter caído uma gota de água, como uma parte da estrada é de terra se chover já era, sem condições de sair ou chegar na Vila. Theo liga o rádio e a voz do Serj Tankian, cantando Lonely Day, toma conta do carro e cai como uma luva neste momento da minha vida.

Que dia solitário!

E é só meu

O dia mais solitário da minha vida

Máfia: O Herdeiro SartoriOnde histórias criam vida. Descubra agora