Capítulo 9

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*LEIAM OUVINDO A MÚSICA*

Sempre que tinha algum problema, corria para casa. Sabia que minha mãe sempre estaria lá para me ouvir e depois me presentearia com um de seus sábios conselhos. Não importava o que fosse, ela sempre tinha a solução para tudo. Mas hoje que preciso de colo, ela não está aqui e muito mesmos lá em casa esperando. Agora somos apenas eu e Theo contra todos.

Desde que o Sr Felippo, vulgo meu avô, disse tudo aquilo, saí daquela casa correndo até minhas pernas não me obedecerem. Theo veio junto. Paro quando sinto a areia sob meus pés, fofinha e gelada, ainda úmida por causa da maré. Sento próximo do mar e Theo senta ao meu lado ofegante, mas não reclamou, ficamos lá olhando o encontro do mar com o horizonte, em um silencio confortável, pensando nos acontecimentos dessa fatídica manhã. Jamais passou pela minha cabeça que meus pais mentiram para mim durante meus 20 anos de vida.

Agora tudo começa a fazer sentido em minha cabeça, as noites em que meu pai chegava muito tarde ou quando não dormia em casa, ele nunca falava com o que trabalhava, a família de minha mãe não ter aceitado o casamento deles. A mudança para o Brasil, nós não termos contato com o restante da família, tudo isso era um plano, mas eu não quero fazer parte dele. Tudo bem escondido. Lembro da história de voltar para Itália, ele já sabia que isso iria acontecer.

Lágrimas tenta escapar dos meus olhos, mas pisco não deixando elas caírem, agora não. Agora só sinto ódio, um sentimento novo para mim e assim como o amor, percebo que dói, arde, parece queimar meu peito. Me sinto usado, um peão no tabuleiro do jogo da vida, onde os dados que decidem o meu futuro. Minha vontade é de gritar até perder a voz, extravasar, colocar para fora essa dor.

Levanto correndo em direção ao mar, preciso me livrar dessa dor, está me sufocando. Entro na água de roupa e tudo, vou até onde não dá mais pé, prendo a respiração e coloco minha cabeça debaixo da água. Fico ali até faltar o ar e arder meus pulmões, quando levanto ouço o Theo gritando desesperado, já quase me alcançando. Ele vê que estou bem, começa a xingar bravo e sai da água.

Quando eu o alcanço ele vem para cima de mim socando o meu peito, deixo ele extravasar, colocar tudo para fora, pois vejo em seus olhos que ele está sentido o mesmo ódio que eu. Logo se cansa e cai ajoelhado na areia, me ajoelho na sua frente e nos abraçamos, sem conseguir conter, as lágrimas começam a rolar de nossos olhos, em um choro sem fim.

Chorei pela mentira que foi minha vida, chorei pela morte de meus irmãos inocentes, que o pouco que virem, viveram uma mentira, assim como eu. Todo o amor que sentia por meus pais vai embora, meu coração quebra em milhares de pedaços, nem quando a cretina da Antonella me humilhou me senti assim, devastado, desolado e enganado. Queria ter a oportunidade de perguntar ao meu pai o porquê de toda essa merda de mentira.

Perdi a noção do tempo em que ficamos ali na praia, quando começou a escurecer, chamei Theo para irmos embora. Quando alcançamos a rua percebi três carros parados, a porta do passageiro de um deles se abre e reconheço Giulio, ele abre a porta de trás e fica aguardando. Reviro meus olhos e entro no carro, Theo dá a volta e entra pela outra porta. Estava fatigado e morrendo de fome, então nem achei ruim a carona. Só quando alcançamos os portões da mansão me dei conta do quanto tinha corrido, estávamos muito longe.

Assim que o carro para, a porta de entrada abre. Respiro fundo já me preparando para uma nova briga, mas apenas Dna Alessa saiu de dentro da mansão chorando. Ela me abraça forte e não devolvo o afeto, meus braços continuam esticados nas laterais do meu corpo. Por um momento fico com pena, mas lembro de tudo o que aconteceu nessa manhã e a pena vai embora correndo.

- Nos perdoe Matteo, não renegue sua família e muito mesmo sua herança filho.- diz ainda chorando.

- Eu não quero falar sobre isso. – respondo me afastando, sem olhar para ela.

Máfia: O Herdeiro SartoriOnde histórias criam vida. Descubra agora