Cegos e calados

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Está pesado levar

Você sabe melhor que qualquer um,

memórias horríveis deixam fortes cicatrizes.

É difícil andar,

elas não param,

não param por você.

"Você vai acabar se enterrando"

Garota, chore baixo,

eles podem ouvir seus soluços

Garota,

corra, não permaneça onde está

"Eles me sufocam"

Suas costas se curvam,

é muita coisa,

o riso deles lhe perturba,

não sei dizer quanto tempo passou,

você sabe, você bem sabe, sabe que é uma boa atriz para abrir um sorriso na hora de sua morte.

Eles debocham,

seus risos lhe perturbam

"parecem explodir em gargalhadas enquanto assistem meu suicídio"

noite de chuva,

a varanda é grande,

garota, escorregue do parapeito.

Grite!

Até sua garganta rasgar,

berre,

tudo que quis berrar.

É um peso grande,

você vai cair...

ou vão te derrubar.

**

A manhã se descobriu fria. Eu não conseguia chutar que horas eram com aquele tempo sem expressão.

Não chovia. Mas passou a madrugada inteira de tal forma. Arya já havia levantado, sinal de que não estava tão cedo. Suas cobertas perambulavam pelo chão, e de certo ela estava descalça o andar de baixo, uma vez que seus chinelos se mantinham espalhados pelo chão. 

 Pisquei, coçando os olhos e levantando, ainda sonolenta. Um choro de bebê se ouve no quarto ao lado, mas não me lembro de estar quando abri os olhos. 

 Percebi que estava com dor de garganta. 

 Praguejei de leve, bufando, me dirigindo ao banheiro. 

 ** 

 Arya 

 Eu sonhei com um necrotério. Mas eu não estava lá. 

 Na verdade, não era eu. Era outra pessoa que estava no meio dos corpos borrados. Eu sabia que era alguém que eu conhecia. Mas não fazia ideia de quem fosse. De qualquer jeito, aquele sonho me acordou com uma sensação horrível. Travando totalmente meu cérebro, em uma dízima periódica difícil de se encontrar. 

 Suspirei, tentando ignorar o choro de Miguel. Incomodava um pouco em saber que ele estava crescendo nas mãos de empregadas, e que meu pai tinha que sustentar todos nós ali, sozinho. 

 Mas naqueles tempos, eu entendia que era melhor ficarmos unidos. 

 Meus pensamentos voltaram para o necrotério. As paredes eram escuras, iluminadas com uma luz perturbadora, de cor vermelha. Os corpos estavam cobertos, todos borrados, como em uma foto desfocada, mas apenas um se mantinha totalmente visível. 

Tem Alguém Ai? - Volume 3Onde histórias criam vida. Descubra agora