A QUÍMICA MENTAL

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Acreditamos que a mente é formada pelo mesmo fluido universal, a mesma energia
que constitui o éter que preenche o universo. É fato já bem conhecido tanto dos leigos como dos homens que se dedicam às investigações científicas que certas mentes se chocam quando entram em contato com outras, ao passo que algumas mostram grande afinidade entre si. Entre os dois extremos do antagonismo e da afinidade naturais, nascendo do contato mental, há uma grande possibilidade para as várias reações de um cérebro a outro. Há casos em que um espírito se adapta tão bem a outro que o “amor à primeira vista”
é o resultado inevitável do contato. Haverá quem não tenha tido uma experiência assim? Em outros casos, há um tal antagonismo que o aborrecimento mútuo se mostra claramente logo ao primeiro encontro. Isso acontece sem que as pessoas em questão tenham trocado uma só palavra e sem qualquer indício das causas que habitualmente agem como estímulo para o amor e o ódio. É inteiramente provável que a mente seja formada de um fluido, ou substância, ou
energia — como quer que a chamemos — semelhante ao éter. Quando duas mentes se aproximam, a ponto de haver contato, a fusão das unidades desse “material mental” (chamemos assim os elétrons do éter) produz uma reação química, e iniciam-se as vibrações que afetam os dois indivíduos, quer agradável, quer desagradavelmente. O efeito de tal contato é evidente até para o observador mais desprevenido. Todo efeito
deve ter uma causa. Haverá coisa mais razoável do que suspeitar que a causa da transformação da atitude mental entre dois cérebros que acabaram de entrar em contato não seja outra senão a alteração dos elétrons ou unidades de cada mente, no seu processo diverso de combinação, no novo campo criado pelo contato? Com o objetivo de estabelecer uma sólida base para essa lição nos aproximamos
bastante do êxito ao admitirmos que o encontro, o contato de duas mentes produz, em ambas, “efeito” evidente, ou um estado de espírito muito diferente do que havia antes. Conquanto isso fosse desejável, não é essencial saber qual é a “causa” dessa reação de mente para mente. Que essa reação se produz em todos os casos é fato conhecido, o que nos dá um ponto de partida para podermos demonstrar o significado do termo Master Mind.
Pode-se criar um Master Mind por meio da fusão de duas ou mais mentes num estado
de perfeita harmonia. Com essa fusão harmoniosa a química mental cria uma terceira mente, que todas as outras mentes podem fazer sua e empregar. Esse Master Mind permanecerá disponível enquanto exista a aliança amigável e harmoniosa entre os indivíduos que concorreram para a sua formação. Desintegrar-se-á, desaparecendo sem deixar vestígio, no momento em que cessar a aliança. O princípio da química mental é a base e a causa de todos os casos de “almas irmãs” e
“eterno triângulo”, muitos dos quais, infelizmente, acabam nos processos de divórcio, provocando o ridículo que se origina da ignorância e da falta de educação, que dessa maneira fabrica escândalo com uma das maiores leis da natureza. Sabe-se, em todo o mundo civilizado, que os dois ou três primeiros anos de vida em
comum, no casamento, são sempre marcados por muitos desentendimentos, de natureza mais ou menos mesquinha. São os anos de “ajustamento”. Se o casamento resistir a esses desentendimentos, tem todas as probabilidades de se tornar uma aliança permanente. Isso é fato reconhecido por todos os casais. Mais uma vez, vemos o “efeito”, sem compreendermos a “causa”. Embora existam outras causas que contribuam para isso, em conjunto, a falta de
harmonia durante os primeiros anos de casamento é devida à lentidão da química mental para se fundir harmoniosamente. Em outras palavras, os elétrons ou unidades de energia que chamamos de mente, muitas vezes, não são amistosos ou antagonistas em extremo logo no primeiro contato, mas, pela constante associação, gradativamente, se adaptam harmoniosamente, exceto em casos raros, onde a associação teve um efeito oposto, gerando uma franca hostilidade entre essas unidades. É fato bem conhecido de todos, que depois de viverem juntos alguns anos, um
homem e uma mulher se tornam indispensáveis um ao outro, mesmo quando não existe entre os dois o mais leve resquício desse estado de espírito chamado amor. Além disso, essa associação e as relações sexuais não somente desenvolvem uma afinidade natural entre os dois espíritos, como também levam até mesmo os dois indivíduos a adquirir uma expressão semelhante de feições e a se parecer em muitas outras coisas. Um analista competente, que penetre num grupo de estranhos onde se encontrem casais, sendo apresentado a um dos homens presentes, pode facilmente apontar a esposa desse. A expressão dos olhos, as linhas do rosto e o tom da voz dos dois cônjuges, tudo isso se torna bem semelhante depois de muitos anos de casamento. Tão marcado é o efeito da química mental humana que qualquer orador
experimentado pode, com rapidez, interpretar o modo como o auditório recebe as suas palavras. O antagonismo de um só espírito, entre mil pessoas, pode ser prontamente captado pelo orador que sabe “sentir” e registrar os seus efeitos. Além disso, o orador
pode fazer essas interpretações sem observar a expressão fisionômica dos que o ouvem ou ser, de qualquer maneira, influenciado por ela. Dessa maneira, um auditório pode fazer um orador elevar-se aos píncaros da eloquência ou levá-lo ao fracasso, sem dizer uma palavra, sem dar a menor demonstração de satisfação ou de desagrado por meio dos traços fisionômicos. Todo vendedor experimentado conhece o “momento psicológico” de fechar um negócio, não pelo que diz o cliente em perspectiva, mas interpretando e sentindo os efeitos da sua química mental. As palavras muitas vezes escondem as intenções dos que as pronunciam, mas uma interpretação correta da química mental não deixa saída para tal possibilidade. Todos os vendedores hábeis sabem muito bem que a maioria dos compradores tem por hábito apresentar uma atitude negativa até o momento de efetuar a compra.
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Não há o advogado que não desenvolva um sexto sentido, que torna possível para ele
“abrir o caminho” através das palavras de uma testemunha inteligente, que esteja mentindo, e interpretar, por meio da química mental, o seu verdadeiro pensamento. Muitos advogados têm desenvolvido essa habilidade sem saber de onde ela se origina. Possuem a técnica sem a compreender cientificamente. O mesmo tem acontecido com vários vendedores. O indivíduo dotado da arte de interpretar corretamente a química mental dos outros
pode, para se falar figuradamente, entrar pela porta principal da mansão de um dado espírito e, despreocupadamente, explorá-la toda, tomando nota de todos os detalhes, saindo em seguida com uma fotografia completa do interior do edifício, sem que o
proprietário tivesse conhecimento de que recebia uma visita. Observar-se-á, na lição sobre “Pensar com segurança”, que a esse princípio pode ser dado um emprego muito prático (relacionado com o princípio da química mental). Mas ele é citado apenas como uma aproximação, para os princípios de maior importância, contidos nessa lição. Dissemos já o bastante para a apresentação do princípio da química mental, e para
provar — com o auxílio das experiências quotidianas do próprio leitor interessado e das observações acidentais — que, no momento em que duas mentes se aproximam uma da outra, tem lugar uma transformação mental digna de nota, registrando-se, algumas vezes, sob a forma de antagonismo, e outras, sob a forma de amizade. Toda mente possui o que se poderia chamar de campo elétrico. A natureza desse campo varia de acordo com o “humor” da mente e com a natureza da química mental que produz o campo elétrico a que nos referimos. Acreditamos que a condição normal ou natural da química mental de qualquer
indivíduo é o resultado da sua herança física mais a natureza dos pensamentos que dominaram o seu espírito, que cada mente está em contínua transformação, a tal ponto que a filosofia particular da pessoa e os seus modos de pensar modificam sua química mental. É nossa crença que esses princípios são verdadeiros, que qualquer pessoa pode voluntariamente modificar sua química mental, a ponto de atrair ou repelir todos aqueles com que entra em contato. Isso é fato conhecido. Em outras palavras, qualquer pessoa pode assumir uma atitude mental capaz de atrair e agradar, ou, pelo contrário, de gerar antagonismo, e isso sem o auxílio das palavras, da expressão do rosto ou de qualquer movimento ou gesto. Volte-se agora à definição do Master Mind: uma mente que nasce da fusão e
coordenação de duas ou mais mentes, num espírito de perfeita harmonia, e se aprenderá o significado completo da palavra “harmonia”. Dois espíritos não se fundem nem podem ser coordenados a menos que esteja presente o elemento da perfeita harmonia, pois nele repousa o segredo do triunfo ou do fracasso de todas as uniões, quer no campo comercial, quer no social. Todos os gerentes de casas comerciais, todos os comandantes militares, todos os
dirigentes, em suma, em qualquer setor da vida, compreendem a necessidade imperiosa do que os franceses chamam esprit de corps (espírito de compreensão comum e de cooperação) em busca do êxito. Esse espírito de harmonia e de propósito em conjunto é obtido pela disciplina, voluntária ou forçada, de tal modo que as mentes se fundem num novo espírito, que decidimos chamar de Master Mind, o que significa que a química mental é modificada a tal ponto que todas as mentes se fundem e funcionam como uma só.
Os métodos por meio dos quais esse processo de fusão se verifica são tão numerosos
como os indivíduos empenhados nas várias formas de liderança. Cada líder tem o seu método próprio de coordenar o espírito dos seguidores. Um empregará a força; outro preferirá a persuasão; este agirá com a ameaça dos castigos, ao passo que outro prometerá recompensas, a fim de reduzir as mentes dos indivíduos de um dado grupo de pessoas a ponto de poderem ser fundidas. O leitor não precisará estudar a fundo a história da diplomacia, da política, do comércio ou das finanças para descobrir a técnica empregada pelos dirigentes nesses diversos campos, para o processo de fusão dos espíritos, a fim de formar um espírito de massa. Todos os chefes realmente poderosos foram providos pela natureza de uma combinação de química mental favorável como um núcleo de atração para outros espíritos. Napoleão foi um exemplo notável de homem dotado de uma espécie de espírito magnético, com uma tendência decidida para atrair todos os espíritos com os quais entrava em contato. Os seus soldados o seguiam certos de que se encaminhavam para a morte, sem vacilar, isso devido à natureza da sua personalidade, que impelia ou atraía, e essa personalidade nada mais era do que a sua química mental. Nenhum grupo de espíritos pode ser fundido num Master Mind se um dos
indivíduos desse grupo possuir um desses espíritos negativos que tudo repele. Mentes negativas e positivas não se podem fundir no espírito que descrevemos aqui como Master Mind. A ignorância desse fato tem levado ao fracasso muitas pessoas que de outra maneira seriam hábeis dirigentes. Qualquer líder capaz, que compreenda o princípio da química mental, pode conseguir
uma associação mental provisória, com qualquer grupo de pessoas, formando assim um espírito de massa, mas essa unidade se desintegrará logo que o chefe se afastar do grupo. As mais prósperas companhias de seguro de vida, bem como outras firmas importantes, convocam seus vendedores para uma ou mais reuniões, todas as semanas, com que objetivo? Com o objetivo de fundir todas as opiniões num Master Mind que durante alguns dias servirá de estímulo para cada mente em particular. De modo geral, é certo que os líderes de tais grupos são inconscientes do que se passa
em tais sessões, chamadas habitualmente de reuniões para “apimentar”. O programa dessas reuniões consiste em conferências pronunciadas pelo chefe e outros membros do grupo, e, esporadicamente, de alguém de fora, mas enquanto isso os espíritos dos presentes estão num contato constante, fazendo uma interessante troca de energias. O cérebro humano pode ser comparado a uma bateria elétrica que quando se torna
exausta faz a pessoa ficar desanimada e “sem energia”. Haverá quem não tenha experimentado isso? Quando está nesse estado de esgotamento, o cérebro humano precisa ser restaurado, e isso se faz através do contato com um espírito, ou espírito mais vitalizado. Os grandes líderes reconhecem a necessidade desse processo de “recarregar” e, ainda mais, sabem como conseguir tal resultado. Esse conhecimento é a característica principal que distingue um chefe de um adepto. É uma felicidade saber conservar o cérebro vitalizado por meio de contatos periódicos
com espíritos mais vigorosos. O contato sexual é um dos mais eficientes estímulos nesse processo de revitalização do cérebro, contanto que seja realizado de maneira inteligente, entre um homem e uma mulher que sintam uma afeição real um pelo outro. Qualquer outra espécie de relação sexual tem uma característica desvitalizadora mental. Qualquer psicólogo competente pode “recarregar” um cérebro em poucos minutos. Antes de passarmos dessa breve referência sobre o contato sexual como um meio de revitalizar um cérebro esgotado parece oportuno chamar a atenção para o fato de todos os grandes líderes, em todos os setores da vida em que tenham surgido, terem sido e serem pessoas de natureza altamente sexual. (A palavra “sexo” não é uma palavra indecente, e está em todos os dicionários.) Entre os médicos mais bem-informados e outros profissionais empenhados na defesa
da saúde há crescente tendência para aceitar a teoria de que todas as doenças começam quando o cérebro do indivíduo está em estado de esgotamento. Em outras palavras, é fato bem conhecido que quem possui um cérebro inteiramente são e vitalizado está praticamente imunizado contra todas as formas de doença. Todo médico inteligente sabe que a “natureza” ou a mente curam doenças todas as
vezes que a cura é possível. Os remédios, a fé, os passes, a quiropatia, a osteopatia e todos esses estimulantes nada mais são do que artifícios para auxiliar a natureza, ou, falando mais propriamente, simples meios de pôr em ação a química mental com o fim de reajustar as células e tecidos do corpo, de revitalizar o cérebro e fazer assim com que a máquina humana funcione normalmente. O profissional mais ortodoxo admitirá a verdade dessa afirmativa. Quais, então, poderão ser as possibilidades dos futuros desenvolvimentos no campo
da química mental? Empregando o princípio da fusão harmoniosa das mentes, é possível gozar de uma
saúde perfeita; com o auxílio desse mesmo princípio pode-se desenvolver uma força suficiente para resolver o problema econômico, que é o problema de todas as pessoas. Podemos julgar das possibilidades da química mental por meio de um estudo das
suas realizações passadas, sem esquecer o fato de que todas essas realizações têm sido em grande parte resultado de descobertas acidentais, e da possibilidade de agrupamentos de mentes. Aproxima-se o tempo em que o professorado das universidades ensinará a química mental, como ensina agora outras matérias. Enquanto isso, as pesquisas e experiências abrem perspectivas para os estudiosos do assunto.
A CORAGEM É O EXÉRCITO QUE DEFENDE A ALMA, QUE A CONSERVA LIVRE DA CONQUISTA, DA PILHAGEM E DA ESCRAVIDÃO. HENRY VAN DYKE

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