Tentar me superar, foi a coisa mais difícil que fiz na minha vida. Era quase que impossível.
Olhar para meus instrumentos e ter desânimo ao pensar em tocar, ou ver para os carros da rua, e lembrar que não poderia dirigir o meu quando pudesse comprar, ou simplesmente lembrar que não poderia ser uma dançarina profissional, eram as coisas mais dolorosas que senti na minha vida...
-Laura, tem visita pra você. -meu pai me chamou a porta do quarto, o olhei confusa, e ele me fez sinal de "venha logo".
Fiz questão de ficar no primeiro andar da casa, e minha irmã no segundo, então talvez eu nunca mais possa visitar seu quarto.
Ultrapassei os corredores com a cadeira de rodas e cheguei a sala, me deparando com minhas amigas Bianca, Débora, Natália e Clarisse sentadas no sofá.
-Oi Laura! -exclamaram felizes, apenas sorri.
-Está de automóvel novo? -Clarisse brincou- Nem precisa de um carro novo. -riu, apenas vi Bianca beliscando-a- Ai mas eu não falei nada de mais. -esfregou seu braço no lugar que fora o beliscão.
-Estou sim. -sorri forçado- Melhor que um carro né?! Nem preciso de carta. -sorri e suspirei- A única diferença, é que esse automóvel, eu não tive escolha se queria dirigir ou não. -respirei fundo tentando conter o choro.
-Clarisse! -Bianca (que é sua irmã mais nova) exclamou- Fica quieta! -admito que de ambas, apesar da Bia ser mais nova, é a mais madura.
-Deixa ela. -suspirei
-Desculpa Laura... Achei que te animaria.
-Tudo bem... No momento nada está me animando mesmo... -suspirei, a fazendo sentir-se mal- Não foi sua culpa. -comprimi os lábios, assim como ela.
-Nada? -Natália se animou- Nada mesmo? Nós vamos te animar... Ou no mínimo tentar. -sorriu, fiz uma cara confusa e as vi se levantando. Débora colocou Love with your Life no celular e se formaram em posições. Começando a dançar.
"There's only so much you can say. Til' words turn into noise. Yeah we go round and round again. But people we were meant to blaze. A life that's beautiful. Yeah we got so much love to give"
Dançavam no início da música com animação, eu até que estava curtindo o momento, até ter lembranças.
-Mãe! -eu gritava desesperada a procurando na casa.
-Oi Laura?!
-É verdade?
-O que?
-Você e o papai vão se separar? -tentei conter o choro
-Quem te disse isso? -perguntou preocupada
-Ouvi a Bea e o papai conversando. É verdade?
-O seu pai não está em casa Laura. Quem te disse isso? -comprimi os lábios
-A Bea.
-Beatriz, venha para a cozinha agora! -mamãe gritou e Bea apareceu
-Oi? Estou estudando pra passar na faculdade no próximo semestre. Que foi?
-Por que você falou para a Laura? -nesse momento, Bea entendeu o recado.
-Até quando vão esconder? Até o papai arrumar as malas? Sair de casa, entrar num táxi e for embora? Ai você vai chamar ela pra conversar e contar?
-Não era a hora ainda Bea!
-Então vocês vão mesmo se separar? -falei em meio a sussurros e lágrimas
-Meu bem... -a interrompi
-Vão?!
-Sim... -nesse momento eu corri para meu quarto no segundo andar.
Chorei por alguns minutos, até mamãe e Bea aparecerem.
-Calma Laura, vai ficar tudo bem. -passaram as mãos em meus cabelos.
-Tudo bem? Eu não vou viver mais com meu pai. -comecei a chorar- Por que mamãe?
-Não é o mesmo amor de antes Laura. Você vai morar comigo, passar uns dias na casa dele... -suspirou- Nós te amamos. -me abraçou
-E você Bea?
-Vou... Morar com o papai. -suspirou
-Como assim?
-Se eu passar na faculdade, a casa do papai é mais perto, perto de tudo o que eu preciso para estudar. Sinto muito Laura. -suspirou- Mas eu venho te visitar.
-Eu vou viver a base de visitas? -surtei começando a chorar
-Aos poucos você vai se acostumar. Nossos pais só não vão estar juntos... Mas a vida continua. -Bea me consolou
-Poderia continuar com todo mundo junto. -desabei em choro tentando refletir
-Mãe... E minha escola? Você não vai poder me levar para o outro lado da cidade todos os dias. Sendo que papai trabalha lá perto e você por aqui.
-Como seu pai vai morar longe, e não estamos em condição de pagar uma van... Você vai estudar numa escola pública, perto de casa.
-O que? -comecei a surtar- E meus planos de ir para a faculdade da escola? De me formar com meus amigos? E agora?
-Filha, é para seu bem. -suspirou, Bea apenas observava quieta.
-Bem? Até agora isso só me fez mal. -comecei a chorar e deitei minha cabeça em seu colo, logo ela começou a passar as mãos em meus cabelos, mesmo que eu não parasse de chorar, e Bea começou a cantar baixinho.
"Don't let the moment pass you by. We got a chance to be the light. Don't let the moment pass you by. Don't let the moment pass you by. We got a chance to be the light. Don't let the moment pass you by"
E assim eu adormeci em seu colo, sabendo que mesmo sendo difícil aceitar, eles sempre estariam comigo.
Assim que minhas lembranças acabaram, a música também parou, e as meninas pararam de dançar, talvez por mero impulso, eu me alterei.
-Gostou? -Débora sorriu, apenas comecei a chorar, as fazendo ficarem confusas.
-Vocês dançaram na minha frente... Só para me fazerem lembrar que não posso mais andar? -me alterei chorando
-Não Laura... Fizemos isso sem...sem pensar. -Bianca começou a chorar-Com licença. -chorei alterada indo para meu quarto, depois de alguns minutos, elas apareceram e se deitaram na minha cama.
-Laura, nós não queríamos te deixar chateada. Apenas fizemos sem pensar. -Natália começou a falar, chorando, assim como eu.
-Mas temos que admitir que... Deveríamos ter pensado melhor. -Débora abaixou a cabeça.
-Não.... -me acalmei limpando o rosto- Tenho que admitir...gostei da dança. -sorri fraco- Só é... difícil pra mim. -chorei baixo.
-A gente... Entende. -Clarisse abaixou a cabeça.- Desculpa por...tudo. E aliás, acho que você é forte pra isso.
-Eu espero. -sorri fraco
-Estamos de bem? -Bianca abriu a boca.
-Estamos de bem. -sorri e ela foram até mim num abraço caloroso.
É tão bom saber que talvez... Ou melhor, que existem sim pessoas ao seu lado.
Continua.
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Love with your Life
Short StoryLaura sentia poder enfrentar tudo, mudar de escola, divórcio de seus pais... Mas perder o movimento das pernas, e sua mãe em um acidente de carro, foi algo que ela nunca imaginou ter que enfrentar. "Nós pensamos que pode acontecer com todos, me...