22°Dia

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25/12/1986
Após enviar a carta a dor se tornou suportável, pois eu sabia que ele estava feliz ,e se não estava,ficaria, lá era onde ele devia estar.
Mas neste dia uma vontade muito forte de ir a capela me tomou,aquele lugar podia me despertar muitas lembranças, mas era onde eu queria estar por isso sai e me dirigi até lá tranquilamente.

Infelizmente havia um congestionamento muito próximo a capela, provavelmente por um acidente na estrada ,e esperei mais de meia hora pois não tinha mas nada para fazer no dia,vi algumas pessoas deixando seu carro para ver o que tinha acontecido e fui até lá, uma carro havia batido bem a entrada da capela.Meus olhos encheram-se de lágrimas antes que alguém dissesse algo,pois o carro era dele.

Os médicos tiraram das ferragens um corpo,não não podia ser um corpo, eu corri pra perto dele ainda que algumas pessoas tentassem me impedir.
-Conhece ele?-perguntou um homem
E eu assenti,então cheguei onde ele estava,não havia dúvida era Devan e ele estava morto o choque vem como uma bala no meu peito ,não podia ser verdade,mas ali estava a prova que não me deixava mentir senti que começava a desfalecer aos poucos,como poderia ser verdade?ele se mantinha vestido de terno como se tivesse feito por querer como se fosse uma surpresa, estava tão belo quanto da primeira vez que o vi,sua pele mais branca,mas os olhos aqueles olhos cor de mel que brilhavam tanto, estavam fechados.

As lágrimas escorreram sem que eu pudesse evitar,me inclino e dou um beijo leve em sua testa,começam a leva-lo,um homem me diz algo mas não posso ouvir nada apenas as batidas do meu coração, isso é estranho ,ele não deveria bater assim agora,só Devan o acelerava assim e isso nunca mais aconteceria,tento chegar a ele enquanto o levam mas me impedem,eu grito e choro, devo parecer louca.

Eles o tiram de lá, escuto comentários sobre um homem bêbado ter batido nele.Um homem me entregou um bilhete, que estava na mão dele,dentro estava escrito
"Tenho um presente pra você na capela "
Estava em um envelope,uma carta endereçada a mim.Eu atravesso a rua correndo em direção a capela, no lugar onde dormimos tinha uma caixa gigante de presente que abro correndo entre lágrimas.
Dentro havia um violão idêntico ao que minha irmã me deu e ele tinha quebrado ,e um papel sob as cordas dizia.
"E se você tomar a decisão mais idiota do mundo e me abandonar pra me fazer feliz, devia saber que sou feliz só de te amar,e isso ainda não vai mudar,te esperarei o tempo que for preciso
Porque eu te amarei Para sempre "
PS:Acabo de te condenar a Lembrar-se de mim sempre que tocar seu violão

Eu choro como nunca chorei. Me culpo por ter o feito ir lá naquele dia,ainda que sem saber.A dor está me consumindo,lembro de como fiquei com a morte da Alisson,aquilo de novo não,eu não podia suportar,não Devan,ele não podia morrer depois de mudar minha vida,isso não fazia sentido.
Ele ia entrar agora através da floreta e me dar um susto...isso tinha que acontecer...eu ia esperar por ele assim como ele disse que esperaria por mim,eu fixo lá por tanto tempo que perco a noção das horas,apenas olhando a floresta,tentando não admitir o que já sabia,tentando ter esperança.
Mas de alguma forma,ele nunca apareceu...

Saio de lá e dirijo,vou a fazenda e pela primeira vez na vida falo com Lorraine ou melhor nos abraçamos,porque não há nada para se falar.

Porque talvez ela fosse a única que entendia um pouco minha dor.
Eu sabia que o tempo passaria e em alguém momento a dor também,e o que restaria seria apenas as boas lembranças, mas naquele momento eu ainda sentia como se tivesse perdido o chão.
Em algum momento eu estava sozinha na pedra olhando a água que também me lembrava Devan e gritando, para o céu? Ou para o nada?não sei.
-Porque me  apaixonar se isso ia acontecer? Porque tirar de mim a única coisa que me mudou nesses anos?Talvez eu estivesse falando com Deus,nunca fui muito de falar com ele,talvez esse fosse o problema, ou não ,a verdade é que eu não tinha a quem culpar, e culpar alguém não mudaria nada,mas mesmo assim eu perguntava.

Mas eu nunca obtive respostas só sabia que Devan havia mentido naquela carta,eu não estava condenada a me  lembrar dele apenas ao tocar o violão, eu estava condenada a lembrar dele pra sempre,em cada pedra daquele lugar,em cada médico ou fazendeiro em cada roseira em cada capela, em tudo.
O dia do enterro chegou e na lápide de Devan estava escrito.
"Não deixou saudades, deixou amor"

E eu sorri,porque era verdade,e porque ele tinha de fato mudado minha vida pra sempre, e eu seria eternamente grata.

Como Não Se Apaixonar? [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora