O Início.

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O inverno costuma-se ser cruel na maior parte do tempo. Sua beleza indescritível é igualada a calmaria e ao desespero de se viver em uma estação tão difícil para frutas, flores e animais.
A única coisa colorida em que se vê no branco da neve são as pessoas que são obrigados a sair de casa em busca de alimento...

- Ou desafiar os perigos do Tenebroso inverno para ir à escola.

- Preciosa Palacine Nevado não é crime nenhum ter uma educação de qualidade indo diariamente para escola.

- Mas queria que condenassem aqueles que queriam ser mestre.

- O que disse?

- Nada senhorita Regina eu só pensei alto.

Regina era a preceptora de Preciosa, moça jovem de 16 anos que possuía uma pele branca, lábios rosados e um cabelo longo com um preto penetrante. Ela vivia com o pai em uma casa grande, longe de tudo e de todos, localizada mais ou menos nas extremidades de uma floresta de Pinheiros.

Um cocheiro que trabalhava na casa as levava em uma carruagem feita de uma madeira envelhecida, por entre as árvores e arbustos até chegar em uma construção antiga onde Preciosa passaria a frequentar todos os dias.
Os cavalos param após o puxão das cordas que o cocheiro proporcionou, parando a porta da carruagem perfeitamente sobre o portão de ferro colocado fortemente em paredes de pedra formando uma murada sem fim.

- Comporte-se como uma dama Preciosa e jamais se esqueça das regras postas por seu pai, cumpras-as pelo menos pela memória de sua mãe.

Aquilo tudo era deprimente, toda hora a morte de sua mãe era lembrada machucando cada vez mais o coração que estava cruelmente magoado. A porta é aberta e um par de sapatos baixos pretos são postos no chão coberto pela neve.

Aquele era mais um dia a ser enfrentado e não seria fácil como todos os outros. Ajeitando um pouco seu manto de lã nos ombros, para aliviar um pouco do frio, ela empurra as portas pesadas daquela construção dando a um enorme salão movimentado.

Era estranho saber que entre tantas pessoas não se tinha nenhuma amizade, apenas alguns poucos conhecidos. Não existe lugar mais diversificado de pessoas diferentes como na escola. Até em grandes festas aquilo não existia, pois geralmente estão pessoas da mesma familia ou tem estilos de vida parecidos. Mais naquele lugar era como se todas as tribos, povos, culturas, reinos, religiões se encontrassem e faziam com que a mistura combinasse de certo modo.

O que era estranho é que todos se relacionavam muito bem, menos a menina Preciosa. Ao entrar naquele salão barulhento sua presença não foi notada e a única coisa que ela pensou em fazer foi andar para longe de todo mundo sem sequer olhar para ninguém.

Já estava próximo de começar as aulas, motivo que fez a jovem andar rapidamente para as escadas e ir em direção ao corredor onde havia muitas e muitas salas. Não era a primeira vez que ela tinha ido naquele colégio, mas era a primeira vez que estava indo estudar lá.

Ela não tinha noção de como era estudar junto com outras pessoas, sempre teve um professor particular em casa onde havia ensinado tudo.
Qual o motivo de ela estar ali? Mais um dos últimos pedidos feitos pela sua mãe, mas dessa vez a garota ficou muito incomodada pelo pedido pois além de gerar uma preocupação maior em seu pai ainda deixara nervosa.

Decidiu caminhar lentamente pelo corredor atenta a todas as salas e em todas as paredes buscando um cartaz "Preciosa irá estudar aqui" mas não encontrou nada. Todos pareciam muito bem informados de suas salas, pareciam tão normais... isso era praticamente um insulto para uma garota perdida em um mundo totalmente desconhecido.

Decidiu então perguntar a alguém e no meio de tantos viu um garoto engomadinho com livro aberto nas mãos encostado da parede.

- Por favor você pode me informar onde fica a sala para aula de espanhol?

O garoto nem sequer se mexeu, nem ao menos a reparou ali e muito menos a escutou.

- Por favor!

E nada. Ela se perguntou se ele era surdo ou coisa assim, mas aquele lugar estava realmente barulhento.
Decidiu então tomar uma decisão precipitada: com um movimento rápido, deu uma batida para cima na contracapa do livro fazendo ele fechar bruscamente e até fez um "poc" meio oco.

O rapaz move apenas os olhos para ela com um jeito sério e a garota se arrepende por um momento daquela situação.

- Você poderia, gentilmente, me dizer em que sala fica a aula de espanhol?

Ele revira os olhos, põe seu livro debaixo do braço e cruza-os, depois olha seriamente para ela e diz:

- Talvez eu não responda gentilmente como a senhorita deseja, pois você também não me deu motivos para ser educado.

Preciosa baixa levemente a cabeça e olha para o livro azul marinho fechado em baixo do uniforme Preto.

- Eu poderia te deixar procurar sozinha mas preciso fazer caridade.

Agora ela olha para o lado. Que humilhação! Só para saber onde fica a sua sala! Levantando um pouco a cabeça ela vê seu braço estendido para esquerda tendo na mão o livro azul.

- É a penúltima sala ao fim do corredor à direita.

Depois, um sorrisinho de satisfeita, e meia envergonhada diz um obrigada quase como um sussurro. Depois dessa vergonha decidiu andar rápido até a penúltima sala à direita, segundo aquele garoto esquisito.

Entrando na sala, sentou-se no local mais escuro possível da sala, queria realmente ficar invisível, camuflada na escuridão. A professora chega e a sala se acalma, enfim silêncio. Ela era uma mulher alta e magra, seus olhos castanhos combinavam perfeitamente com o cabelo marrom claro. Seu andar era elegante e seu vestido verde lodo caía muito bem.

-¡Buenos días!

-¡Buenos días!

A sala responde em coro. Ela se manteve quieta na frente e deu uma longa olhada nos alunos e suas localizações. Ao chegar na lateral, onde Preciosa estava sentada, a professora simplesmente para e observa. Ela aperta um pouco os olhos como se tivesse dificuldade para ver.

-Minha querida, porque você não senta mais perto da janela? Ainda temos cadeiras vazias nesse lado.

-Não obrigada senhorita...

Daquela distância não dava para ver seu nome em uma placa de metal posta na mesa.

-Margarida, meu nome é Margarida.

-Bem, senhorita Margarida, eu estou bem aqui.

-Mais parece tão distante e escuro.

-É... é melhor assim. Fico com a visão embaçada no claro.

-Realmente seus olhos são claros vão ficar irritados na luz das janelas. Pode ficar aí querida.

Suspiro de alívio. Depois disso a aula passou rápido, no intervalo Preciosa não saiu da sala e a segunda aula foi mais tranquila, mais nada foi melhor para aquela jovem do que ouvir o sino tocar para o término das aulas e afundar-se na carruagem.

A Estante de Corações Partidos. (Em Revisão... Feito Em 2017 Atualizado Em 2024)Onde histórias criam vida. Descubra agora