Perigo!

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Era sexta-feira, 5:00 da manhã e Preciosa estava sem sono. Seu corpo estava debruçado sobre a cama e seus olhos mais espertos do que nunca. Estava sem vontade de ir para a aula naquele dia. Não sabia exatamente o que estava sentindo, só sabia que não era bom. Era uma dor que queimava por dentro a fazendo desanimar... ela sabia muito bem que ficara assim a partir do momento da brincadeira de Desy com Arthur, "Esqueci que não posso falar mal de sua namoradinha".

Mas não fazia sentido, porque ela estava tão mal? Ela desliza os dedos sobre as faixas no braço e suspira; talvez seja porque nenhum homem havia se importado com ela.
O sol começou a aparecer e logo logo Regina apareceria também. Impulciona seu corpo para frente e fica sentada na cama. Encosta o seu queixo nos joelhos e envolve os braços em suas pernas e novamente se perde nos pensamentos. Dessa vez eles estavam focados no dia anterior, quinta-feira, um dia depois da cavalgada e do acidente de Márgareth. Ficou o dia todo se escondendo e as vezes que se encontrava com Desy fingia estar com dor de cabeça, mas na verdade a dor estava em seu coração. Não viu Arthur e achou bom isso, ela teria que esquece-lo. Seu olhar corre para sua estante, ela sabe o que fazer.

Há muitos anos aquela estante vivia ali em seu quarto, para olhos inocentes aquilo era apenas um móvel, mas para Preciosa era sua vida. Em cada caixa havia uma lembrança, curta ou longa, que quando desejada ser esquecida ficava adormecendo até achar coveniente lembrá-la. Mas aquilo não era uma amnésia, apenas os sentimentos eram realmente esquecidos: tristezas, dor, alegrias e a vida seguia quase na mesma proporção só que os fatos que o rodeiam sofria pequenas modificações.
Ainda lembrava dos dias em que sua mãe organizava aquela estante e passava horas contando histórias e dizendo o significado dela.

-E foi assim que consegui ter paciência e aguentei seu pai até hoje.

-Mamãe..

Ainda aos risos.

-Mas eu posso pegar uma caixinha dessas para brincar?

-Não querida, essas caixinhas não são para brincar. Seu avô deixou bem claro que tudo o que se guarda aqui dentro é esquecido.

A pequena Preciosa fica assustada.

-Mamãe eu falei para minha prima Viviane que nossa familia tem poderes mágicos.

-Você falou isso pra ela?

-Sim, mas ela disse que eu estava mentindo e que essas coisas não existem.

-Oh minha querida, as outras pessoas não entendem e podem ter medo disso, por isso precisamos manter isso em segredo. Você me promete?

-Sim mamãe.

"Sim mamãe." Preciosa repete em seu pensamento ao rever aquela lembrança. Sua mãe era uma sábia, admirava muito ela.

Agora estava mais que decidida, deveria esquecer aquele rapaz de uma vez por todas afinal, não queria trazer problemas para vida de ninguém.
Levanta-se da cama e caminha pelo quarto até chegar a estante. Ela era marrom de uma madeira forte e por entre as prateleiras várias caixas iguais. Preciosa pega uma que está bem a sua frente e vai até sua escrivaninha.

A caixa era pequena com mais ou menos dois palmos de comprimento e meio palmo de altura, tinha a mesma cor da estante e possuía uma tranca de prata muito bem trabalhada. Eram relíqueas de sua família e fabricada pelos mesmos. Seu avô era carpinteiro e sua avó uma senhora com valiosas habilidades mágicas. Juntos fizeram toda a obra e presenteram Estér, mãe de Preciosa, no dia do seu casamento. Como Estér falecera as caixas foram desocupadas e derão lugar a outra herdeira, Preciosa.

Ela havia usado apenas 3: a primeira foi pela morte de sua mãe, a segunda foi pela mudança de seu pai e a terceira foi pela sua vida de prisioneira. Era hora de usar uma quarta. Abriu a tranca da caixa e nela havia folhas brancas, um envelope, uma caneta e um cadeado de prata com chave. Tirou tudo da caixa e começou seu feitiço. Deveria escrever nas folhas o que desejaria esquecer, colocar em um envelope e assinar seu nome do verso. Depois deveria pôr na caixa junto com um objeto que esteve presente na situação descrita, no caso ela tirou a faixa que estava em seu braço e colocou cuidadosamente lá dentro.

A Estante de Corações Partidos. (Em Revisão... Feito Em 2017 Atualizado Em 2024)Onde histórias criam vida. Descubra agora