O Inesperado.

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Depois da grande descoberta os três não viam a hora de chegar o intervalo para o almoço. E quando esse momento chegou não quiseram saber de comer, foram direto para a biblioteca para abrir logo aquela porta e aproveitar também que todos estavam no refeitório. Arrastaram com muito esforço a estante e viram novamente a porta ser revelada. Aquela porta misteriosa agora seria finalmente aberta e todos enfim poderiam saber o que haveria por trás dela.

Preciosa se aproxima já com a chave em mãos, estava ansiosa para abrir. Só que quando suas mãos chegaram perto da maçaneta elas começaram a tremer, havia uma energia negativa lá dentro e ela não sabia o que era. Começou a ficar nervosa do nada e sabia que seus amigos aguardavam a chave ser colocada. Respirou fundo enfiou a chave e girou-a, depois sentiu a tranca ser destravada. Suspirou e abriu a porta.

O imaginado seria ver tudo em câmera lenta, o som soando contínuo da fechadura se abrindo e a porta sendo lentamente aberta para depois entrarem cautelosamente caminhando, passo a passo.
Mas como nem tudo é como imaginamos, não foi bem isso que aconteceu.
Depois que Preciosa destrancou a porta, Deyse veio correndo para girar a maçaneta e acabar logo com aquele mistério. Ela empurra a porta para trás e eles percebem que lá dentro há alguns candelabros com velas acesas iluminando o espaço precariamente.
As paredes estavam pretas por causa do tempo mas eram feitas do mesmo material das outras paredes da escola.

-Ei, olhem o que eu achei.

As meninas olham para o rapaz que mostra uma pequena alavanca por trás da estante, ele o move liberando uma trava que prendia rodinhas escondidas nos pés.

-Que legal!

Diz Desirée sarcástica.

-Você bem que poderia ter descoberto isso algumas horas antes.

Agora de um jeito mais simples ele move a estante para esconder a entrada e fecha a porta. Os três olham ao redor de toda aquela sala, ela se parecia muito com o ambiente da biblioteca. Havia estantes e livros iguais.

-Que ótimo, tudo parece igual e comum, tirando as paredes sujas e essa mesa, tudo é absolutamente igual.

-Pode ser Prê, mas tem que ter algo especial.

-Como estes livros?

Desyrée pega alguns livros e vai lendo para eles os títulos.

-Temos aqui Criaturas Estranhas, O que um humano não pode tocar, Um lado da morte, Passado esquecido, Maldições, Chosen, Manual de varinhas...

-Cara, ainda não tô acreditando que isso pode ser verdade. Pode ser um truque né?

Arthur diz ainda duvidando.

-Eu acho que não.

Preciosa sabia que aquilo era verdade, ela conviveu a vida toda com uma magia dentro de si, porque agora não iria confiar? Para Arthur talvez fosse confuso mas ele um dia iria entender.

Desyrée parecia estar realizando um sonho. Andava de um lado para outro estasiada por tantos livros diferentes e interessantes. A sala não era muito grande mas abrigava muitos livros, tinha um tapete enorme no chão com detalhes azulados e no teto um lustre com cristais que pareciam gotas d'agua iluminadas. Eles vasculhavam tudo para achar algo incomum até chegarem a mesa que estava no centro da sala.

Não era muito grande, mas estava coberta de coisas: um candelabro dourado com 3 velas acesas, 2 livros empilhadas sendo um grosso e outro fino nas cores vermelho e azul, um diário com capa de couro preta e uma caneta ao lado. Também tinha algumas folhas soltas e uma xícara de café. A pessoa que frequentava aquele lugar já tinha passado por lá naquela manhã. O que mais chamou a atenção deles foi um objeto bem curioso, um enfeite de metal com uma lua giratória do mesmo material bem no centro de uma haste.
Eles ficaram impressionados com sua beleza e Desy já foi girando aquela lua de metal com o dedo, se divertindo como uma criança.

-Quero um desse no meu quarto.

Diz ela. E vai girando ele sem parar.
Enquanto a garota estava entretida com aquele objeto curioso, os outros dois passaram a olhar os quadros que haviam nas paredes. Tinham várias pessoas desenhadas neles e uma era da escola assim que foi construída. A maior delas era de um senhor sério de óculos e olhos verdes, suponharam que fosse o senhor Clóvis Basfotielle.
Preciosa imaginou o dia em que o quadro foi pintado: uma manhã fria na diretoria com a neve caindo lá fora, Clóvis com seu casaco cinza e um cachecol preto sentado na sua cadeira impaciente, perguntando para sua assistente onde está seu chapéu. Ela viria correndo com ele nas mãos dizendo "o senhor tinha o esquecido na carruagem" e depois o entregaria. O pintor começa o seu trabalho e registra nele seus traços de seriedade, para anos depois serem observados por dois jovens curiosos.
Era uma história e tanto! A jovem estranhou por estar com a mente tão fértil naquela semana. Enfim, as pinturas eram bem reais.

Os dois olhavam para a frente da parede um ao lado do outro até seus ombros se tocarem. Aquilo foi como levar um choque para Preciosa. Ela se afasta um pouco fingindo olhar para o outro quadro mas ele a acompanha e volta tocar em seu ombro. Só que desta vez ele cruza os braços e move o ombro para acariciar o dela.
Com isso, seu braço inteiro começa a se arrepiar, não tem coragem de move-lo e nem de olhar para ele para dizer algo. Ela não queria parecer chata mas deveria dar um basta nisso, ergueu a cabeça e o olhou. E a situação piorou, pois ele estava olhando fixamente para os olhos dela. Seus lábios tremeram quando ele se inclina para seu rosto chegar mais perto do dela e...

-Preciosa, não sei se eu tem falei mas próxima semana é meu aniversário então se decidir me dar alguma coisa pode ser um desse.

Deyse interrompe o momento quase mágico dos dois. Para Preciosa foi bom e bem a tempo sua amiga a ajuda. Caminha para perto de Desyrée e olha para a lua metalizada.

-Claro Deyse! Só não sei o que você vê nele de tão especial.

Arthur também se aproxima delas.

-Olha. Se você girar ele com bem força, fica parecendo uma lua cheia.

Então gira para demonstrar mas não deu muito certo porque o metal parecia seco pelo tempo, talvez enferrujado.

-Arthur você tem mais força, gira aí pra mostrar para a Prê.

E assim fez, girou-o com força e a pequena lua crescente rodava lindamente fazendo um círculo perfeito como uma lua cheia.

-Não é linda?

Diz a ruiva emocionada.

-Sim.

Arthur concorda mas não olhando para o enfeite e sim para a moça ao seu lado.

-Ela é muito linda.

Deyse parecia não ter reparado na sua resposta para Preciosa, apenas observa o formato metálico desacelerar. A garota pensa no que fazer e tem uma idéia.

-Certo! Agora é minha vez.

Pega com firmeza a barra com as duas mãos e sente que ela está bem fria, movimenta ela um pouco para trás e faz força para gira-la. Com a força colocada, roda lindamente fazendo a sua nova forma voltar. E é aí que o inesperado acontece.

Uma luz forte toma conta do lugar e só se vêem apenas um clarão azulado. Todos gritam apavorados pois agora seus corpos estavam perdendo as forças e aos poucos iam perdendo os sentindos. Preciosa tenta se firmar na mesa e fica apavorada ao ver Desyrée desmaiada no chão. Arthur cai de bruços e depois tenta se arrastar até a porta mas não consegue, acaba ficando inconsciente.
Preciosa começa a chorar desesperada e sente suas mãos ficarem dormentes. Ela não consegue mais se segurar e também cai no chão. Suas costas doem por causa do impacto e depois a dor vai sumindo acompanhado também de seus movimentos. Ela se desespera e vê sua mente esvaziar.

-É tudo minha culpa...

E tudo se apaga.

A Estante de Corações Partidos. (Em Revisão... Feito Em 2017 Atualizado Em 2024)Onde histórias criam vida. Descubra agora