Embaraços.

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Os raios solares acordaram a jovem cedo e ela levanta sem um pingo de vontade de viver. Desde a noite anterior sentia uma angústia no peito, algo ruim que queimava desde seu estômago até a garganta e isso a fez desanimar.
Seu rosto estava suado e logo resolveu tomar um banho, levou uma calça e uma t-shirt estampada para o banheiro e tomou um longo banho. Ao sair, desceu as escadas e foi para a cozinha onde todo mundo parecia já estar terminando o café.
-Bom dia.
Disse tentando fazer sua voz soar animada.
-Bom dia minha princesa! Iríamos te esperar para tomarmos café juntos mas sua mãe quer me levar no parque...
-Não tem problemas tia, agente almoça juntas.
-Querida fiz torradas para você, nós vamos rapidinho dar uma volta no parque enquanto é cedo, então não demore no café pra não se atrasar.
-Certo mãe.
-Ah aproveite e leve o relógio de Arthur que esqueceu aqui ontem.
-Ok.
-Tchau meu amor, até mais tarde e boa aula!
Josélia abraça Preciosa e dá um beijo em sua bochecha, depois elas saem fechando a porta da frente deixando a garota sozinha.
Tomou café mais não comeu muito, estava sem total apetite, pegou a mochila e foi para a escola no seu carro. Ela até que estava aprendendo a dirigir direitinho sozinha, só que não queria arriscar então manteve-se concentrada.
Suas mãos estavam firmes no volante até uma delas mover-se até o som do carro e liga-lo. Colocou em um volume um pouco alto e começou a acompanhar a música como se já tivesse ouvido antes.
"Todos os dias quando acordo.
Não tenho mais o tempo que passou, mas tenho muito tempo.
Temos todo tempo do mundo."
E aí começou a cantar mais alto.
"Todos os dias antes de dormir,
Lembro e esqueço como foi o dia. Sempre em frente.
Não temos tempo a perder..."
E depois de alguns minutos já estava na frente do estacionamento da escola onde percebeu que já havia uma pessoa te esperando. Ela desce do carro e tenta dar um sorriso.
-Oi Deyse.
-Hello.
Respondeu ainda mais desanimada.
-Eu pensei que só eu que tinha dormido mal.
-Fala sério! Eu tô com uma dor de cabeça insuportável.
-Também não estou me sentindo bem, mas vem cá, conseguiu descobrir mais alguma coisa?
Deyse começa a caminhar e Preciosa lhe acompanha.
-Zero. O livro agora só está falando de um monte de baboseiras sem sentido.
-Que falta de sorte essa nossa.
E entram no prédio onde irão passar horas e horas num desassossego sem fim.
E as horas se passaram em uma velocidade insuportavelmente lenta até o final da aula. Resumindo, aquela manhã foi a mais parada de todas: sem idéias, sem assunto, sem coragem, sem sentido e o pior é que restavam 20 dias contados para tudo acabar e eles já se sentiam mortos.
O sino tocou e todos foram para o estacionamento pegarem seus veículos e caírem fora dali. Deyse foi andando junto com Preciosa e as duas pararam em frente a uma moto preta que parecia um monstro de enorme que era.
-Deyse você anda nisso?
-Loucura né? Você devia ver meu quarto.
Ela põe o capacete e uma jaqueta.
-Talvez, mais tarde eu te ligo, até amanhã.
-Até.
Preciosa dá um tchauzinho e depois vê sua amiga "voar" na pista.
Depois que sua amiga some de vista ela caminha até o seu carro para ir embora até sentir uma vibração na sua mochila.

Mensagem de Mamãe

Querida passe na padaria e traga uns pães porque hoje iremos comer sopa.
Te amo, mamãe.

Ela leu o recado e abre novamente sua mochila para guardar o celular e então vê o relógio de Arthur.
-Droga, esqueci de entregar.
Guarda o celular e segura nas mãos o relógio dourado.
Ela caminha através dos carros para saber se ele ainda estava por ali e passa a observar os seus próprios passos.
Restavam poucos veículos, era um carro em uma vaga e as outras três vazias, só no finalzinho é que tinha um pouco mais e Preciosa rezou para que um deles fosse o de Arthur.
Ela vê um carro cinza dando ré e aperta os olhos para ver se era quem ela procurava mais a figura dentro do carro era uma mulher de cabelos cacheados. A garota sai do meio da estrada e vai para a passagem estreita entre os carros. O carro cinza vai embora e ela olha para frente, então vê o rapaz de costas próximo a um automóvel vermelho destravando a porta com a chave.
Ela ajeita a mochila nas costas e faz intenção de ir atrás dele mas percebe que uma outra pessoa se aproxima de Arthur.
A garota loira era inconfundível e a ver naquele momento fez piorar ainda mais o seu mal-estar.
Margareth estava usando um vestido curto branco e um sapato rosa choque que doía a visão. Preciosa se esconde atrás de um carro e observa o que aquela garota iria fazer ali.
Arthur a percebe e se vira para olhá-la falando algo que Preciosa não escutou dali.
Margareth fala algumas coisas e aponta para baixo de um carro branco estacionado bem ao lado do dele, onde suponhou que seria o carro dela. Arthur olha para baixo e depois se abaixa deitando no chão logo em seguida, pega algo lá em baixo e depois o entrega para a garota.
Era a chave do carro e Preciosa bufou "Porque ela mesma não pegou?" Pensou com ódio. "Eu sou a namorada dele, mesmo eu não sendo desse mundo mais a vida aqui é essa. Ela não tinha o direito de ficar dando em cima dele!"
E continuou olhando para os dois de longe sem saber o que fazer, se iria ou não até lá, e aí acabou vendo o que não queria: Margareth segurou em sua camisa e o puxou para beijá-lo, Arthur beijou aquela assanhada e com isso Preciosa não aguentou mais, soltou no chão o relógio dourado e correu para longe daquela cena com as lágrimas escorrendo em seu rosto.
Suas pernas estavam bambas e o choro pareceu desmoronar de si. Abriu a porta de seu carro com violência e se jogou no banco do motorista.
Sua mente estava completamente confusa, aquilo não era motivo de se exaltar tanto mas havia algo dentro dela que gritava de dor e ela acompanhava aquele sofrimento.
Ligou o carro e saiu do estacionamento aos prantos desejando que sua casa fosse mais próxima, limpou as lágrimas na blusa e olhou pra frente tentando se concentrar no volante.
O som liga automaticamente e continua a música que estava escutando.
"...Veja o sol dessa manhã tão cinza
A tempestade que chega a cor dos seus olhos castanhos..."
E as lágrimas escorrem mais uma vez.
-Sua burra porque você foi voltar com ele?
Começou a falar e suas palavras não faziam sentido.
"...Então me abraça forte
E diz mais uma vez que já estamos distantes de tudo
Temos nosso próprio tempo..."
E trafegava com a cabeça pesada e o coração cheio de dor pedindo para Deus que aquele pesadelo acabasse e que sua consciência normal voltasse e assim diria a si mesma que tudo estava bem, que aquilo não era nada.
Entrou em uma rua a direita e percebeu que estava indo para o lugar errado, quis manter a calma mas estava muito difícil.
"...Não tenho medo do escuro
Mas deixe as luzes acesas..."
As luzes. Muitas luzes.
O semáforo aceso foi visto bem em cima, faróis de carros foram rapidamente captados mas o destino quis desafiá-la. Bateram em cheio e garota vê tudo em câmera lenta, até mesmo a sua vida que tentavam roubar.

A Estante de Corações Partidos. (Em Revisão... Feito Em 2017 Atualizado Em 2024)Onde histórias criam vida. Descubra agora