CAPÍTULO XI

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Já é noite e minha barriga está começando a montar uma escola de samba dentro de mim, tinha momentos na minha vida no orfanato em que eu passava por isso, eram os momentos que eu ganhava por desobedecer ordens da sala de aula.

_Oi meu amor, voltei... Aqui está sua comida! - Ricardo entra e me acorda de meus pensamentos.

_Já consegue sentir o amor que sente por mim? - ele olha para mim como se acreditasse mesmo no que estava dizendo.

_Eu não estou sentindo, aliás nunca vou sentir... Sabe o por quê? - olho para ele com ódio.

_Não me provoca! - ele retribui o olhar.

_Porque você não merece amor nenhum, você é um doente que precisa de muita ajuda... Como pode achar que prendendo alguém, faria essa pessoa amar você? Eu te odeio, te odeio mais que muitas coisas! - reviro os olhos.

_Até mais do que daquele que fez você se entregar? - ele me faz olhar para seu rosto.

_Muito mais... - reviro novamente os olhos.

_Se eu fizer amor com você, talvez mude de ideia sobre mim... - ele sobe em cima de mim.

_Você não pode fazer amor com outra pessoa se ela não quer! Isso seria estupro e não amor! - eu tento sair debaixo dele inutilmente.

_Xiiiiih, quietinha... - ele rasga minhas roupas e começa a acariciar meu corpo.

_Até que não seria tão ruim pra mim fazer isso...rs - ele olha pra mim com um olhar do demônio.

_Não! Me deixa em paz Ricardo! Me deixa em paz! - Começo a gritar e me debater sem parar enquanto ele tenta me segurar.

_Fica quieta! - ele me dá um tapa.

_Solta ela Ricardo! Você está louco! - dois garotos entram no quarto com tudo.

_O que estão fazendo aqui! Isso é invasão! Saiam já daqui! - Ricardo vai para cima dos dois e eles começam a discutir e gritar.

Eu começo a desfalecer devagar por conta da fraqueza.

_Você não vai se separar de mim Ágatha! - ouço de longe a voz de Ricardo.

_O que aconteceu? - pergunto ainda com os pensamentos confusos.

_Estamos na floresta! Aqui ninguém nos acha... - ele diz e logo percebo que estou em seus braços.

_Me solta! Me solta Ricardo - eu grito me debatendo e caio no chão.

_Olha o que fez, deve ter se machucado! - ele tenta me carregar de novo.

Uma luz mirada em cima dele o assusta e ele para.

_Dr Ricardo! Liberte a refém! Você ficará bem se cooperar conosco! - alguém de dentro do helicóptero diz.

_Nos deixem em paz! - Ricardo grita.

_Te peguei! - alguém que me agarra diz bem baixinho.

_Ele vai me bater! - eu digo ainda com a voz fraca de tanto forçar.

_Está segura agora... - o homem diz enquanto me carrega escoltado por cinco homens armados.

_Ágatha! ÁGATHA! - ouço de longe os gritos de Ricardo.

_Você está bem? - o homem pergunta ao me ver com uma expressão assustada.

Não consigo falar nada, parece que não tenho mais controle sobre minha voz, minha boca... Meu cérebro está trancado e não sei como me libertar disso tudo, foi meses trancada e querendo não aceitar que estava nas mãos de um louco que agora que a ficha caiu, as coisas começaram a vim com tudo na minha mente, pensamentos de "Por que" e de "Como?".

Cheguei na ambulância e de longe pude ver ele sendo preso aos gritos, ele estava totalmente transtornado e não tinha mais controle sobre ele mesmo, parecia que sua vida se resumia a mim.

_Você está bem? Como não nos falou que estava passando por isso? - um dos dois amigos de Ricardo comenta.

_Eu... Eu não sei... - eu tento me ligar no que está acontecendo.

_Vamos levá-la para o IML pra fazer um exame de corpo de delito, de lá você será encaminhada para um hospital! - uma moça diz e entra na ambulância pra fechar a porta.

_Eu vou morrer? - pergunto à médica.

_Claro que não meu bem... - ela responde.

_Por que não? - eu digo e todos da ambulância me olham.

Passo a viagem até o IML observando, analisando, raciocinando tudo, tentando entender o porque de eu não ter me manifestado.

_Tire essas roupas e vista isto - um homem de meia idade diz.

_Por que? O que vai fazer comigo? - me desespero.

_Calma, é pra fazer uns exames, depois você veste suas roupas novamente... - ele olha para a enfermeira e depois para mim.

_Ok... - eu concordo e vou para o banheiro do quarto me trocar.

O homem analisou tudo, tocou e revirou meu corpo, eu tinha marcas de agressão por todo o corpo (não sei como apareceram, sinceramente não sei o que realmente aconteceu), e eu tinha uma grande porcentagem de drogas correndo pelo meu corpo.

_Ela ainda está sobre efeito de drogas? - a doutora pergunta.

_Creio que sim, ela precisa descansar... - eles concordam e a doutora me prepara pra ir novamente para a ambulância.

Na viagem até o hospital eu acabei adormecendo, fui levada por enfermeiros para um quarto e lá fiquei.

_Está se sentindo melhor? - uma medica loira pergunta analisando meu rosto e escrevendo algo no prontuário.

_Onde estou? - pergunto olhando de um lado para o outro.

_Está em um hospital aqui no interior de Monteago, consegue recordar do que aconteceu com você nos últimos 11 meses? - ela pergunta.

_Sim... Um pouco, por quê? - a olho confusa.

_Um policial quer fazer perguntas à você! - ela se levanta e sai para chamar o tal policial.

_Boa tarde Srta Andrade! - ele diz.

_Boa tarde... - respondo.

_Vim falar de Ricardo Fontes, recorda desse nome? - ele diz tentando me lembrar.

_Sim, ele... Ele sabe que estão aqui? - pergunto assustada.

_Sim, ele está preso! - ele diz e meu corpo estremece.

_Preso...? Isso quer dizer que estou livre dele? Que vou poder respirar ar puro? - Começo a delirar e me agitar enquanto o policial anota e observa se o gravador está gravando tudo.

_Ele a manteve em cativeiro por 11 meses e eu queria saber desde o começo, como tudo aconteceu, como conheceu e etc... Consegue me contar? - ele diz.

_Consigo sim senhor! - eu respondo  e ele balança a cabeça anotando.

Contei cada detalhe de como tudo começou, de como o conheci e de como cheguei na casa dele, como eu vivia lá e de como ele me tratava, o policial me informou de que ele estava louco e que por pouco não morri de uma overdose.

_Esse filho da puta me drogava... Mas como? - perguntei ao policial.

_Ele confessou que assim que você dormia ele entrava em seu quarto e injetava heroína em sua veia... - ele me conta engolindo seco.

_Mais alguma pergunta? - o olho com os olhos vermelhos.

_Não, pode descansar e me perdoe pelo incômodo... - ele se levanta e sai do quarto.

Meu olhos começam a se encher de lágrimas e não consigo evitar, ele injetava droga na minha veia, era por isso que eu não reagia à nada, eu estava drogada o tempo todo.

ÁgathaOnde histórias criam vida. Descubra agora