Talvez, um livro

3

Chegam as incertezas, quando na vida nada é certo.

Constança fica surpressa ao ver a irmã carregar uma caixa quase do seu tamanho, e corre para a ajudar.

- Então maninha, que sorte, quem é o autor da surpresa?!- pergunta.

- Isto é para ti, e o autor é o Santiago. - retorquiu Benny com alguma tristeza.

Ao abrir a caixa toda a sala pára para ver de perto o urso de peluche enorme que estava dentro dela, e com ele um bilhete: " As pessoas especiais merecem presentes especiais, feliz aniversário Sansa!" assinado pelo apaixonado Santiago.

A reação da presenteada é o que mais surpreende no meio disto, Constança desata a rir à gargalhada, enfia o urso de novo na caixa, rasga o bilhete e murmura:

- Ridículo, a achar que eu alguma vez pudesse gostar desta porcaria, pobre rapaz.- corre para perto do seu novo namorado e acaba por agir como se nada tivesse acontecido.

Benedita fica perplexa, não sabiam o quanto ela queria estar no lugar da irmã, mas não estava.

A festa continua, e só termina quando Hugo achou que era hora de acabar com a diversão e já a cair de bêbado, deixa cair em cima de uma das colunas a bebida que trazia na mão.

Eram já perto das quatro da manhã quando as duas irmãs se deitaram finalmente cada uma na sua cama. Dormiam desde sempre no mesmo quarto. Mesmo naquela fase parva da adolescência, que ainda não terminara, não dispensavam a respiração uma da outra durante a noite. Digamos que são coisas de irmãos gémeos, que só quem os tem poderá entender.

-Benny, notei que estavas desapontada, tem alguma coisa a ver com o ursinho que o Santi me mandou? - perguntou Sansa.

-Não é nada, só estou cansada foi um dia em cheio, não achas?- respondeu.

- Se houver alguém que te conheça melhor do que eu, que se acuse, e sabes que mais? Não há. Eu percebi que ficas-te entusiasmada com a mensagem do Santiago hoje de manhã, e sei que sempre gostaste dele.- afirma Sansa

- Só não estava à espera que ele fosse gostar de ti..!- diz com um ar pensativo.

- E não gosta, acredita, pessoas como ele só gostam de si mesmas, os olhos azuis e o cabelo loiro, não passam de qualidades físicas, ele é má pessoa. -diz virando-se para o outro lado, como sinal que esta conversa terminara ali.

-Pensei que não tínhamos segredos, mas pelos vistos conheces muito melhor o Santiago do que eu, mudaste tanto. - desabafa Benedita.

Constança não disse nada, preferiu fazer de conta que já estava a dormir, enquanto que a sua irmã continuo acordada a pensar na maneira de sorrir de Santi, na sua beleza, e sobretudo nas palavras da sua irmã antes de adormecer.

São nove e trinta da manhã quando as duas despertam, cheias de preguiça descem para tomar o pequeno-almoço com os pais, como é habitual todos os dias. Mas eles já não estavam, tiveram de sair.

Mal acabou a primeira refeição do dia, Sansa vestiu-se e saiu sem dizer nada. Benedita volta a cair nos pensamentos sobre o Santiago e decide escrever-lhe uma mensagem: " Bom dia, espero que saibas que ontem senti a tua falta, bem mais que a minha irmã, que arranjou um namorado novo.". Não obteve nenhuma resposta.

Constança foi encontrar-se com Hugo, e com o restante grupo de amigos. Estes mal os avistaram correram para abraçar a "Tança", em forma de felicitação pelos seus dezoito anos.

Os amigos de Sansa vestiam todos preto dos pés à cabeça, tinham histórias de vida muito complicadas e acharam na droga um refúgio para se desligarem um pouco destes problemas, excepto Salomé. Fazia parte do grupo mas era completamente contra este tipo de substâncias, foi aceite por ser uma das raparigas mais porreiras e divertidas da escola, era a melhor amiga de Constança e odiava Benedita por esta se considerar a mais inteligente e social do liceu. Segredo que guarda consigo desde que sabe que estas são irmãs.

É certo que eram todos amigos, ao ponto de fazerem o impossível para se protegerem, mas há tantas incertezas, porque nesta vida nada é certo.