Capítulo 2 - O dia de amanhã

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"J: Fale um pouco do que lhe aconteceu...

A: Eu ainda não sei se...

J: Com calma... Eu sei que é um momento difícil para si, mas acho que os telespectadores têm o direito de saber o que lhe aconteceu.

A: Sim, eu sei.

J: Então eu faço as perguntas... Há quantos anos é que isto se passou?

A: Há 10 anos..."

Acordou, observando o quarto, embora já o soubesse de cor. Já tinha passado uma semana desde a revelação que estava em coma há três anos. Agora percebia o porquê de não se lembrar de nada. Tinha recebido a visita de um médico, que a tinha acompanhado desde o primeiro dia, que lhe explicou a gravidade da sua situação. Tinha sido vitima de um acidente automóvel e, a pessoa que a acompanhava teve morte imediata. Ela tinha sido a única sobrevivente, mas tinha sofrido um traumatismo craniano, entrando em coma horas mais tarde, já no hospital. A parte pior de tudo aquilo era nem saber quem era a pessoa que estava consigo no carro. Como poderia fazer luto de uma pessoa "desconhecida"?

- Mas quem sou eu? – perguntou ela – Qual é o meu nome?

- Lamento minha querida, mas não conseguimos apurar nada. Nunca apareceu ninguém a procurar por ti. E não tinhas identificação contigo no carro.

- E a pessoa que estava comigo? Quem era?

- Também não sabemos... - lamentava-se o médico. – Houve uma parte do carro que ardeu e suspeitamos que pudessem estar lá os documentos do veículo.

- E nunca ninguém veio identificar o corpo?

- Não... Lamento que não a possa ajudar neste sentido.

- Obrigada doutor...

A verdade é que o médico fora mais vezes ao seu quarto, e sempre que ela tinha novas perguntas, ele evitava responder. Via-se que se sentia mal por não a poder ajudar.

E ela encontrava-se ali. Deitada, pois quase nem se conseguia sentar. O médico tinha recomendado uma recuperação calma e descansada, visto que não caminhava nem comia há três anos.

Recentemente deram-lhe um computador. Mas ela nem sabia o que pesquisar. Inicialmente, procurou desenfreadamente algo que a fizesse recordar o seu passado. Escrevia palavras à sorte, mas nada despontava essa reação. Não sabia o quê que gostava, nem que hobbies tinha, nem o nome da sua terra. Sabia que aquele era o Hospital Central de Fizerland. E sempre que pesquisa pelo nome da cidade, poucas informações surgiam. Observava as ruas da cidade através das pesquisas, mas nunca era nada conclusivo. Tentava lembrar-se de alguma coisa, de rostos ou nomes, mas nada lhe surgia. Desesperava todos os dias, chorando até adormecer.

Estaria alguém à espera dela? Saberiam o que lhe tinha acontecido? Teria filhos? Pais? Marido? Seria o homem do veículo seu namorado? A sua vida era uma verdadeira incógnita! Mas ela faria de tudo para descobrir a verdade sobre si mesma.

AnneliseOnde histórias criam vida. Descubra agora