"J: Esteve sempre nesse... hospital?
A: Não...
J: Conseguiu sair? Deixaram?
A: Não, não deixaram."
Annelise ainda não sabia o que dizer. O Dr. John era sempre tão equilibrado e, naquele momento, estava completamente fora de si.
- O quê? Não estou a entender! – perguntava Annelise, assistindo ao desespero daquele homem que julgava conhecer.
- Eles prendem-nos aqui e não nos deixam ir! – repetia ele, vezes e vezes sem conta.
Annelise não sabia se ele estava a ter algum ataque de ansiedade ou apenas a delirar. Ninguém vivia ali no hospital, apenas ela e os outros pacientes. Todas as noites via Mariah a sair do hospital e o Dr. John falava imensas vezes em sessões de cinema com o filho, em saídas com os amigos e até no divórcio com a ex-mulher. Como poderia ele dizer que não nos deixam sair do hospital se ele saía, todos os dias?
- John, John! – Annelise tentava colocar as suas mãos na face dele, mas ele repetia sucessivamente as mesmas palavras, num tom baixo, quase inaudível, sem a olhar, a contemplar o vazio. Assim que conseguiu estabilizar a face dele nas suas mãos, tentou chamá-lo à razão. – Tu não estás bem! Eu vou-te levar à enfermaria e...
- Não, NÃO! Tu não percebes? Eles matam-me! MATAM-ME! Se eles sabem que eu acordei do soro e que já não estou sobre as ordens deles...
- Eles não te vão matar John! Tu tens de confiar que eles...
- Tu não sabes nada Annelise. Eles raptam as pessoas e apagam tudo e...
- CHEGA! PÁRA JOHN!
John calou-se assim que ouviu os berros de Annelise. O silêncio obscuro daquela divisão fez Annelise sentir-se exausta, desejando não o ter seguido. Sempre viu John como uma pessoa estável, mas esta atitude era inaceitável. Ele tremia, por todos os lados, vacilando. Annelise ajudou-o a sentar, no chão. Encostou-se a ele e viu-o desfalecer.
Ela tinha de tirar esta história a limpo, mas se ficasse ali e alguém aparecesse, tudo ficaria mais difícil. Annelise deitou o Dr. John, delicadamente, e saiu da sala, observando o largo corredor. Fechou a porta atrás de si, antes de o olhar uma última vez, deitado, como se de um bêbado se tratasse.
Quando verificou que o corredor se encontrava fantasmagórico, avançou, devagar, conseguindo chegar ao exterior. Parecia que estava numa outra dimensão. Agora via apenas o hospital que conhecia, com luzes, pessoas de um lado para o outro.
- Annelise! Onde estiveste? – perguntou Mariah, assim que a viu. Estava toda atarefada.
- Estive... Por aí.
- Procurei-te por todo o lado! Pensei que tivesses na fisioterapia, mas quando fui lá, o Dr. John não estava, nem tu.
- Fui passear pelo hospital.
- Estás bem?
- Sim... Porquê?
- Estás estranha Annelise.
- Não, apenas cansada.
- Queres ir descansar? Que tal vermos um filme?
- Desculpa Mariah. Hoje só quero mesmo dormir. – Annelise começou a caminhar para o seu quarto, sem se despedir de Mariah. Alguém estava a mentir, e ela ia descobrir quem era.
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Annelise
Gizem / GerilimEla acorda no hospital, sozinha, sem se lembrar de nada. Quando se apercebe, esteve mais de três anos em coma, cai em desespero. Nunca ninguém a procurou e nem sabe onde se encontra. Conseguirá Annelise alguma vez descobrir o que realmente lhe acont...